Especialistas da ONU denunciam ‘desaparecimentos forçados’ em locais de ajuda humanitária em Gaza

Especialistas em direitos humanos da ONU qualificaram nesta quinta-feira (28) como “crime atroz” os relatos sobre “desaparecimentos forçados de palestinos famintos” que buscavam comida em locais de distribuição administrados pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês).

Os sete especialistas independentes declararam, em um comunicado conjunto, ter recebido informações de que várias pessoas, incluindo uma criança, desapareceram após comparecerem a esses locais de ajuda em Rafah.

O Exército israelense estaria “diretamente envolvido nos desaparecimentos forçados de pessoas que buscam assistência”, acrescentaram os especialistas com mandato concedido pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, embora não falem em nome da organização.

“Os relatos de desaparecimentos forçados direcionados contra civis famintos que buscam exercer seu direito fundamental à alimentação não são apenas chocantes, mas equivalem a tortura”, afirmaram.

“O uso da comida como ferramenta para realizar desaparecimentos seletivos e em massa deve cessar imediatamente”, acrescentaram.

A Fundação Humanitária de Gaza declarou que não há evidências de desaparecimentos forçados em seus locais de ajuda nos Territórios Palestinos, depois que os especialistas anunciaram tais violações.

“Trabalhamos em uma zona de guerra onde pesam graves acusações contra todas as partes que operam fora de nossos locais. Mas, dentro das instalações da GHF, não há evidências de desaparecimentos forçados”, indicou a fundação em um comunicado à AFP.

A ONU declarou estado de fome em Gaza na semana passada, acusando Israel de “obstrução sistemática” das entregas humanitárias. Israel, que acusou o Hamas de saquear a ajuda fornecida pela ONU, impôs um bloqueio total a Gaza entre março e maio.

A Faixa de Gaza chegou ao “ponto de colapso”, declarou a diretora do Programa Mundial de Alimentos (PMA), Cindy McCain, após uma visita ao local.

“Encontrei crianças morrendo de fome e recebendo tratamento para desnutrição grave, e vi fotos delas quando estavam saudáveis. São irreconhecíveis”, afirmou em comunicado.

“O desespero está em seu ponto máximo e fui testemunha direta disso”, acrescentou.

McCain esteve em Deir el Balah, onde visitou uma clínica que atende crianças que sofrem de desnutrição e se reuniu com mães deslocadas que compartilharam sua luta diária pela sobrevivência, e também esteve em Khan Yunis.

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