A decisão recente da Justiça de manter a ação por assédio sexual contra o ator e ex-diretor Marcius Melhem trouxe à tona não apenas a continuidade de um caso de grande repercussão, mas, sobretudo, um debate urgente sobre os desafios enfrentados por vítimas de assédio sexual no ambiente de trabalho.
A juíza responsável pelo caso marcou audiência para agosto, mantendo o andamento de um processo iniciado em agosto de 2023, quando o Ministério Público apresentou a denúncia. Embora o inquérito por violência psicológica tenha sido arquivado em janeiro deste ano, a ação por assédio sexual segue ativa e em estágio avançado, inclusive com a negativa, pelo STF, de um recurso da defesa que buscava afastar uma das promotoras do caso.
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Mais do que o caso individual, especialistas destacam as barreiras enfrentadas por mulheres que buscam justiça após episódios de assédio no contexto profissional. A advogada trabalhista *Cinthia Portela reforça que, infelizmente, ainda são inúmeros os obstáculos sociais, institucionais e jurídicos para quem decide denunciar.
“O assédio sexual muitas vezes ocorre sem testemunhas de forma direta. Então tem a questão da dificuldade em juntar provas documentais para comprovação. A vítima tem o medo de ter retaliação no ambiente de trabalho, sendo demitida, sofrendo assédio moral e tem a questão da vergonha no ambiente de trabalho”, afirma.
A ausência de provas diretas, aliada ao medo de represálias e ao constrangimento público, muitas vezes silencia as vítimas ou dificulta a persecução penal dos acusados.
Além dos entraves legais, há também o peso emocional que recai sobre quem decide levar a denúncia adiante. A psicanalista **Jaqueline Bastos ressalta que o processo judicial pode se transformar em um novo trauma para a vítima, pela necessidade de reviver episódios dolorosos.
“Toda situação onde a vítima é exposta pode trazer dores profundas, como é o caso de um processo judicial. Muitas vezes, elas repetem episódios traumáticos durante depoimentos, perícias e confrontos com o agressor, o que pode gerar revitimização”, alerta.
Segundo ela, a exposição pública, o tempo prolongado das investigações e a constante ameaça de ter sua versão desacreditada podem desencadear sentimentos como vergonha, ansiedade, impotência e medo, ampliando os efeitos psicológicos do trauma inicial.
Com a audiência marcada para os próximos meses, o processo contra Marcius Melhem volta a ocupar espaço no noticiário, mas o principal alerta é sobre a estrutura ainda frágil que cerca mulheres vítimas de assédio. Enquanto o Judiciário segue seu curso, os especialistas reforçam a urgência de se criar ambientes de trabalho mais seguros, que incentivem a denúncia e, principalmente, protejam quem tem coragem de romper o silêncio.
Inicialmente a reportagem havia citado o nome do ator Marcius Melhem, mas ainda há recursos jurídicos em aberto que não definem um resultado sobre a ação movida contra ele.