Fabiana Justus, 38 anos, revelou que durante o tratamento contra o câncer foi induzida por sua ginecologista a entrar na menopausa, fase natural da vida da mulher em se encerra o seu período reprodutivo, fenômeno que ocorre entre 45 e 55 anos de vida.
A influenciadora contou que a manobra foi realizada como forma de proteger os óvulos e, agora que ela está se recuperando bem, existe 30% de chance de voltar a ovular. A filha de Roberto Justus, 70, foi diagnosticada com leucemia mieloide aguda em janeiro de 2024, e foi submetida a um transplante de medula dois meses depois.
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A IstoÉ Gente conversou com a médica ginecologista *Beatriz Tupinambá, professora da Pós-Graduação de Ginecologia Endócrina da Universidade do Rio de Janeiro – Unirio, para esclarecer a importância da menopausa induzida em casos de tratamento de câncer.
A especialista esclarece que a manobra é importante para evitar a reprodução de células que são estimuladas com a quimioterapia, como é o caso das células dos ovários.
“A quimioterapia age principalmente em células que estão se dividindo rapidamente. O clínico sabe que isso inclui não só as células cancerígenas, que se multiplicam e crescem, mas também algumas células saudáveis do corpo. As células saudáveis mais impactadas pelo uso de quimioterápicos são aquelas com alta taxa de divisão celular, como, por exemplo, as células dos ovários, as chamadas células germinativas”, destaca ela.
“Quando se adormece o ovário antes do tratamento, usando um bloqueador, como um análogo do GnRH, essas células param o processo de divisão celular. Com isso, diminui-se a ação intensa do quimioterápico sobre essas células. Elas ainda sofrerão? Sim. Mas talvez menos do que se estivessem em plena atividade. Assim, é uma forma de proteger parcialmente a reserva ovariana e prolongar a vida útil do ovário”, detalha a médica.
A ginecologista esclarece que essa manobra é importante pela preservação dos óvulos, não tendo grande ação em outros sistemas do organismo. Ela protege o sistema reprodutivo, que pode voltar à atividade e, com isso, a produção de hormônios.
“Essa manobra se justifica principalmente pela preservação dos óvulos. Quando perdemos os óvulos, não há muito o que fazer. Quando se esgota a vida útil do ovário, perdemos duas funções principais: a fertilidade, que depende dos óvulos, e a produção hormonal. A reposição hormonal pode ser feita com medicamentos, mas os óvulos não podem ser repostos. Por isso, a principal função dessa estratégia é manter a preservação dos óvulos. A reposição hormonal pode ser feita artificialmente, mas é muito melhor que os hormônios sejam produzidos naturalmente pelo próprio ovário, pelo maior tempo possível”,
Mãe de três filhos, Fabiana Justus destacou que ela tem 30% de chance de voltar a ovular, contra 70% de possibilidade de permanecer na menopausa. Atualmente fazendo reposição hormonal, ela garante que não pretende aumentar a família.
“Quando usamos um quimioterápico, reduzimos a reserva ovariana e antecipamos a menopausa. No caso de uma paciente com 38 anos, isso seria considerado uma menopausa precoce. Tudo o que for possível fazer para preservar e postergar essa chegada da menopausa é bem-vindo, pois a menopausa precoce aumenta o risco de várias doenças, como hipertensão, Alzheimer e doenças cardiovasculares em geral”, alerta a especialista.
“Manter os ovários saudáveis por mais tempo significa manter sua vida útil. O bloqueio ovariano pode ser feito para proteger durante o uso do quimioterápico e, ao mesmo tempo, é possível iniciar a reposição hormonal, tentando minimizar os sintomas da menopausa”, destaca a especialista, acrescentando que a não faz a mulher voltar a ovular.
“Ela ajuda a preservar os óvulos que ainda existem. Ao adormecer o ovário, reduz-se a multiplicação celular, o que faz com que o quimioterápico tenha menos ação nessas células. Os quimioterápicos atacam principalmente células com divisão celular acelerada, como as tumorais, as células germinativas dos ovários e também as do folículo piloso, o que explica a queda de cabelo”, diz.
Reposição hormonal
A reposição é importante no caso de menopausa induzida tanto quanto no caso de ter ocorrido de forma natural.
“Ajuda a manter os níveis hormonais estáveis e a reduzir os sintomas causados pela interrupção da produção natural. Mesmo no caso de mulheres que não desejam mais filhos, como ela, mãe de três crianças, essa tentativa de preservar a função ovariana ainda é importante. Isso porque não se trata apenas de fertilidade, mas da produção hormonal natural, que é sempre preferível à reposição artificial. Quanto mais tempo se conseguir postergar a menopausa precoce, melhor. Uma mulher que entraria na menopausa aos 38 anos e consegue postergar para os 42 ou 43, já ganha um tempo precioso de vida útil do ovário”, esclarece.
A importância de voltar aos ciclos menstruais regulares está mais ligada à produção hormonal, essencial para o bom funcionamento do organismo, do que ao desejo de ter filhos. Porém, no caso de mulheres que ainda não realizaram o sonho da maternidade, é aconselhável congelar os óvulos antes da quimioterapia.
“O uso da quimioterapia sempre impacta essa reserva. Por exemplo: uma mulher pode ter 100 óvulos antes da quimioterapia e passar a ter 40, 20 ou até nenhum após o tratamento. Isso varia de acordo com a reserva ovariana pré-existente, com a intensidade da quimioterapia e com a resposta individual. O resultado final depende desses fatores. Às vezes, os ovários podem voltar a ciclar após um tempo, mas sempre com um número menor de óvulos disponíveis”, pontua.
Sintomas da menopausa
Diversos (e bem desagradáveis) são os sintomas relatados por mulheres que entram na menopausa, seja ela natural ou induzida, segundo a Dra. Beatriz Tupinambá.
“Não há grandes diferenças nos sintomas entre menopausa natural e menopausa química. O que muda é a idade em que ela ocorre. Quanto mais precoce, maiores os efeitos a longo prazo, com riscos aumentados para diversas doenças relacionadas ao envelhecimento”, diz.
“A diferença principal está na forma abrupta com que a menopausa química se instala. No processo natural, há um período de transição, o climatério, em que os níveis hormonais caem gradualmente, o que costuma tornar os sintomas mais brandos. Já na menopausa induzida pela quimioterapia, essa queda hormonal é repentina, o que pode intensificar os sintomas de forma marcante”, finaliza.