PESCARA, 17 JAN (ANSA) – Por Matteo Guidelli – Franco olha fixamente a parede que está na sua frente, onde ele pendurou um quadro. No meio, há a palavra “neve”, rodeada por 29 nomes, escritos para formar um coração. “Começou assim, há um ano. Primeiro uma neve pesada e molhada, depois os flocos ficaram mais grossos e macios. Em menos de uma hora a neve cobriu todas as coisas e tudo ficou branco. E não parava. A neve veio como eu nunca tinha visto na minha vida. E foi assim por toda a noite. Em 18 de janeiro, quando acordamos, ainda nevava. Cada vez mais forte. Você consegue ver ali, onde a janela está? Havia dois metros e meio de neve… Estávamos completamente isolados. Depois chegaram aqueles malditos abalos.
E ninguém me tira da cabeça que, se não fosse pelo terremoto, aquela avalanche não teria acontecido. Mas são discursos inúteis. O terremoto aconteceu, e a avalanche fez o que fez”.
Para voltar ao Rigopiano, um ano depois da tragédia, parte-se da trattoria “Lu Strego”, a oito quilômetros do hotel, no local onde os familiares das vítimas se encontram. É o único lugar da região onde pais e filhos dos mortos na tragédia podem falar, se abraçar e chorar sem ter diante dos olhos o horror que sepultou as vidas e os sonhos das pessoas que amavam. Franco, o dono da trattoria, viu essa cena dezenas vezes. “E toda vez é igual. Eles não entendem, não conseguem chegar a uma razão”, diz. Gianluca Tanda é o presidente do comitê dos parentes das vítimas. Seu filho Marco, piloto da Ryanair, ficou debaixo da avalanche. “Nos sentíamos sozinhos e profundamente amargurados. Será impossível fazer as pazes com as instituições, porque nós sabemos como foi”, afirma.
Alessio Feniello ainda tem raiva dentro de si. O hotel levou seu filho Stefano, que estava lá com a namorada para comemorar seu aniversário. A este pai, primeiro disseram que seu filho estava entre os 11 sobreviventes, e depois, que não, que eles tinham errado e que não era isso. “Os políticos estarão fora das celebrações, não os queremos, não queremos que qualquer pessoa faça campanha eleitoral em nossa presença. Eles não devem vir para cá”, diz. Agora, na estrada que é caminho para o hotel, não tem ninguém.
Nem políticos, nem cidadãos comuns: aquele emaranhado de meios de socorros bloqueados pela neve é apenas uma imagem que rodou o mundo todo e que hoje aflora na memória a todo momento. A um quilômetro do hotel, onde a estrada se abre e as placas indicam que o estabelecimento não existe mais, a chuva vira neve. E ela cai, pesadamente, enquanto as nuvens baixas cobrem o topo do monte Siella. É de lá de cima que partiu a avalanche. Tudo ficou como está agora, imóvel e silencioso. Naquele dia havia quatro metros de neve. Hoje, com quase 40 centímetros, vê-se muito melhor a destruição e os estragos, os escombros e as memórias abandonadas. Uma bagagem vazia, travesseiros, pedaços de um sofá, um colchão, uma bandeja de prata.
E também milhares de árvores desenraizadas, uma sequência infinita de ramos e troncos largos de até um metro, empilhados um no outro, formando um tapete sem fim, que parte a 100 metros do ponto em que o hotel estava e termina 400 metros mais para baixo. Com a neve que cai, parece um mundo branco e preto, sem vida, sem cor.
O que o interrompe é a cerca laranja que delimita toda a área e o quadro com as fotos das 29 vítimas, abaixo da placa do hotel.
Todos sorrindo, funcionários e clientes, em volta das palavras “Nunca mais”. Até a sala de jogos, onde salvaram as crianças Ludovica, Samuel e Edoardo, permaneceu como estava às 16h48 do dia 18 de janeiro: com as decorações de Natal presas ao teto, os quadros nas paredes, as lâmpadas sem qualquer arranhão, os jogos de mesa empilhados em uma cadeira, as garrafas de cerveja sobre a mesa e outras bebidas alcoólicas no armário. Aqui a avalanche nunca existiu, e é devastador contar que entre a vida e a morte havia menos de um metro. Um nada. A destruição que atropelou o Rigopiano foi vista no mundo inteiro, mas não no quartel-general do Google, na Califórnia. Pelo Google Maps, é possível ver a destruição do hotel, mas na opção “Street View” ainda vê-se o SPA, o campo de tênis, o edifício inteiro de quatro andares, brilhante, em um dia de sol de outono. Seria possível evitar, Rigopiano? Aquelas pessoas podiam ser salvas? De quem é a culpa? Da região, da cidade, da prefeitura? Ou foi uma tragédia em que se somaram tantos acidentes que nem os bombeiros, em suas simulações de treinamento, jamais teriam cogitado? A procuradoria da cidade de Pescara listou 23 suspeitos, entre funcionários públicos e técnicos, com acusações que vão de homicídio a lesões dolosas múltiplas. E não acaba aqui. Os juízes que vão decidir se aquele hotel estava onde deveria estar, se a estrada poderia ter sido limpa antes da avalanche, se houve atrasos no socorro às vítimas.
Não deve ser esquecido que, naquele 18 de janeiro, a região de Abruzzo estava debaixo de uma nevasca da qual ninguém hoje se lembra. Havia um metro de neve na cidade de Chieti, que ficou completamente isolada, milhares de pessoas sem aquecimento, 300 mil habitantes sem luz, que deveriam ser transferidos com urgência por helicópteros para prosseguir com os tratamentos.
Rigopiano foi somente uma das tantas situações em que houve dificuldade. E não foi a pior. É necessário lembrar também disso, para dizer “nunca mais”. (ANSA)