SÃO PAULO, 28 DEZ (ANSA) – Por Luciana Ribeiro – Exposições interrompidas, salas de cinemas vazias, shows cancelados, eventos adiados e cortinas fechadas. As diversas manifestações culturais, principais aliadas da saúde mental, foram duramente afetadas pela pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2).
Dependente de aglomerações, o setor cultural sentiu diretamente o peso das medidas restritivas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e impostas por líderes de vários países para evitar a propagação da Covid-19.
Em entrevista à ANSA, o doutor em artes e professor de projetos incentivados de cinema da ESPM-SP, Márcio Rodrigo, explica que a pandemia teve um “impacto gigantesco” no setor em todo o mundo, principalmente em relação ao público, porque “a gente não pode se aglomerar” e, com isso, teatros, cinemas e museus fecharam as portas.
“Se você vai produzir um espetáculo, um filme, uma série, montar uma exposição, você exige o convívio de muitas pessoas, muitas viagens, muitos contatos dos realizadores e produtores”, afirma.
No entanto, como forma de driblar os prejuízos, o setor precisou apostar na criatividade e se reinventar com a ajuda da tecnologia para mudar a forma de consumo de cultura por parte do público.
Desde o início da pandemia, surgiram alternativas como shows e exposições virtuais, espetáculos drive-in, webinars, eventos ao ar livre e mais intimistas, tanto pelo instinto de sobrevivência do setor quanto pela necessidade de interação social.
A internet tem sido crucial para manter o setor “vivo” neste momento crítico, mas também pode deixar como herança uma nova forma de fazer cultura e entretenimento, misturando o presencial e o virtual no “novo normal”.
“O que vai acontecer é que muita coisa vai ser híbrida. Muitas casas de shows, por exemplo, estão descobrindo que, quando puderem fazer um espetáculo ao vivo, vão vender ingressos também pelo digital. Os espetáculos e shows poderão ser vistos pela internet”, ressalta Rodrigo.
Segundo o professor da ESPM-SP, esse “modelo híbrido veio para ficar, da mesma maneira que o streaming audiovisual já vinha crescendo muito”. Para ele, “a ida às salas de cinema vai ser cada vez mais específica, cada vez mais para cinéfilos, porque o streaming e as plataformas estão se multiplicando e, após a pandemia, vão se consolidar de uma vez por todas”.
Itália – Se a cultura foi um dos setores mais afetados pelo novo coronavírus, países que são referência mundial nessa área acabaram fortemente atingidos, como a Itália.
“A Itália tem um patrimônio cultural especialmente amplo, então impactou bastante, porque também impactou as pessoas que trabalham em eventos culturais, como na área de patrimônio, porque o país tem uma riqueza de museus, de patrimônio material, que é preservado e valorizado”, relata à ANSA Michele Gialdroni, diretor do Instituto Italiano de Cultura de São Paulo (IIC-SP).
O país foi o primeiro epicentro da pandemia na Europa e enfrentou um rígido confinamento de âmbito nacional entre março e maio, o que paralisou atividades de entretenimento e cultura.
Durante todo o ano, associações do setor protestaram contra o fechamento prolongado de cinemas, teatros, museus e casas de shows.
Logo no início da crise sanitária, mais de 7 mil espetáculos foram cancelados, causando um prejuízo de 10,1 milhões de euros, conforme dados da Associação Geral Italiana do Espetáculo (Agis).
O ministro dos Bens Culturais da Itália, Dario Franceschini, chegou a criar um pacote de cerca de 1 bilhão de euros para os setores de cultura e turismo, valor que foi utilizado para indenizar trabalhadores afetados pelas restrições.
Ainda assim, a cultura foi forçada a se adaptar à crise e mudar a forma de oferecer arte e entretenimento. “O mundo da cultura na Itália não parou. Ele se transformou. Mudou para o virtual, como no mundo inteiro, com atividades online, diversos modelos de negócios e plataformas gratuitas de conteúdo”, acrescenta Gialdroni.
Durante o período de isolamento, o “Belpaese” apostou em shows, concertos, peças teatrais, desfiles e até festivais por streaming, além de exposições por telefone ou virtuais, com experiências interativas.
O Festival de Cinema Italiano, que acontece anualmente no Brasil, também foi transmitido via streaming e pôde ser acompanhado em todo o país. A previsão, inclusive, é de que o formato esteja presente nos próximos anos.
“Nós não queremos abandonar o digital porque atingimos o Brasil inteiro”, revelou à ANSA Erica Bernardini, diretora artística do evento. Segundo ela, as plataformas online se tornaram uma questão de sobrevivência, principalmente porque muitas pessoas que haviam ficado desempregadas voltaram a trabalhar.
Já para o diretor do IIC-SP, “a expectativa é de que a situação seja normalizada no final do ano que vem, e a Itália volte a ser referência no mundo inteiro”. (ANSA)