Lucas Rizzi SÃO PAULO, 25 DEZ (ANSA) – Até 25 de dezembro de 2020, o novo coronavírus já havia causado pelo menos 71,3 mil mortes na Itália, de acordo com dados oficiais do Ministério da Saúde, mas uma análise dos óbitos registrados ao longo do ano indica que só será possível ter uma ideia mais precisa do custo em vidas da pandemia no país em 2021.   

Desde o fim de fevereiro, entre 17h e 18h, o governo italiano divulga religiosamente os números diários da crise sanitária, mas, assim como em outras nações do mundo, essas estatísticas são acompanhadas pela sombra da subnotificação.   

Esse fenômeno foi mais comum nos primeiros meses da pandemia, quando muitos idosos morreram em casa, asilos ou clínicas privadas antes mesmo de um diagnóstico, produzindo uma série de óbitos que não entraram nas planilhas oficiais.   

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (Istat), equivalente ao IBGE na Itália, o país teve uma média de 484.435 mortes por ano entre 2015 e 2019, considerando o período entre 1º de janeiro e 30 de setembro.   

No entanto, em 2020 foram registrados 527.888 óbitos nos primeiros nove meses do ano, o que significa um “excedente” de 43.453 em relação à média do quinquênio anterior. Oficialmente, a Itália contabilizou 35.894 mortes por Covid-19 até 30 de setembro.   

Considerando o período entre março e maio, primeiro pico da pandemia no país, a diferença é ainda maior: média de 160.793 óbitos entre 2015 e 2019, contra 210.604 em 2020, um “excedente” de 49.811 mortes – em 31 de maio, a Itália somava 33.415 falecimentos atribuídos ao novo coronavírus.   

A tendência é que esse “excesso” ainda aumente, já que mais da metade das mortes por Covid-19 no país foi registrada depois de setembro.   

“Considerando o andamento das mortes pelo total das causas no primeiro bimestre de 2020, pode-se constatar como a mortalidade em toda a Itália era inferior à média do período 2015-2019. A partir de março e até maio, meses caracterizados pela primeira onda de Covid-19, fica evidente um importante ‘rompimento’ da tendência de diminuição da mortalidade vista nos primeiros dois meses, sobretudo nas áreas mais atingidas pela pandemia”, diz um documento publicado pelo Istat no início de dezembro.   

Lombardia – Epicentro da pandemia na Itália, a Lombardia concentra 53 dos 100 municípios com maior “excedente” de mortes em 2020, incluindo o líder do ranking, Cassiglio.   

Situado na província de Bergamo, o vilarejo tem apenas 113 habitantes e viu um aumento de 900% nos óbitos, que passaram de uma média de 0,4 entre 2015 e 2019 para quatro em 2020 – os municípios pequenos, que geralmente têm mais idosos em sua população, foram duramente atingidos pela pandemia.   

Após a Lombardia aparecem o Piemonte (21 municípios), o Trentino-Alto Ádige (seis) e o Vale de Aosta (cinco). As quatro regiões ficam no norte do país, e esses dados levam em conta até 30 de setembro.   

Considerando apenas o excedente registrado entre março e maio, a predominância da Lombardia é ainda maior (61 municípios entre os 100 com maior excesso), tendo novamente Cassiglio na dianteira, com alta de 1.400% nos falecimentos.   

Em ambos os casos, Bergamo é a província com mais cidades entre as 100 que tiveram maior crescimento nas mortes: 24 (de janeiro a setembro) e 32 (de março a maio).   

“Na Lombardia, passa-se de uma diminuição de 5,6% nas mortes no bimestre janeiro-fevereiro para um aumento de 111% nos três meses sucessivos”, explica o Istat. (ANSA).