26/10/2023 - 13:55
A paixão pela música e a força da personalidade de Elza Soares (1930-2022) continuam inspirando a todos os que conhecem a história de um dos maiores nomes da MPB, vencedora do título de Melhor Cantora do Universo, no ano 2000, pela revista britânica BBC.
Dois dias antes de seu falecimento, aos 91 anos, Elza, uma mulher negra que passou anos de sua vida enfrentando o preconceito e a discriminação, realizou o sonho de eternizar a sua música no Theatro Municipal de São Paulo.
No dia 5 de novembro, às 20h30, a TNT e a HBO Max exibirão o último show da cantora, o documentário musical inédito “Especial Elza Ao Vivo no Municipal”, que contém 15 das suas mais icônicas faixas. A exibição chega como parte da programação especial do mês da Consciência Negra para relembrar e celebrar a luta contra a opressão. O registro também terá sessão especial na 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Do subúrbio do Rio de Janeiro ao sucesso mundial, os registros realizados no ano passado foram transformados no álbum “Elza ao vivo no Municipal”, lançado no dia 13 de maio, Dia de Preto Velho na umbanda e também de resistência ao racismo e abusos cometidos em mais de 300 anos de escravidão no Brasil.
Celebrando Elza
No “Especial Elza Ao Vivo no Municipal”, foram selecionadas 15 faixas que contam as passagens de sua vida e como ela enxergava o mundo no auge de seus 91 anos. A música “Meu Guri”, que abre o disco, ganhou clipe inédito com depoimentos da cantora em relação ao corpo, performance, músicas, vestes e adereços. “Se Acaso você chegasse”, “A Carne” e “Maria da Vila Matilde”, entre outras, são gravados em uma mistura de ritmos, repertórios latinos e denunciam o racismo presente na sociedade brasileira. A canções refletem os desafios enfrentados pela cantora conhecida por sua voz rouca e potente.
Com linguagem e estilo de documentário musical, o “Especial Elza Ao Vivo no Municipal” traz uma curadoria de áudios e imagens inéditos de momentos importantes da vida da cantora, o que também evidencia o caráter documental da obra.
Gravado durante a pandemia e, por isso, com apenas cinquenta pessoas na plateia, o show tem direção musical de Rafael Ramos, além de roteiro e direção cinematográfica de Cassius Cordeir, que tem em seu currículo outras colaborações audiovisuais com artistas como Gilberto Gil, Iza, Criolo, Emicida, Mart’nália, Caetano Veloso, Paulinho da Viola e Alcione.
“Sempre que eu entro em um projeto, procuro pensá-lo não somente na estética, do que está nos palcos e à frente das câmeras. Por isso, logo de início, buscamos um espaço bem emblemático e imponente, como é o Theatro Municipal, e também de elementos que pudessem entrelaçar as músicas com aspectos de sua história”, contou Cassius.
Depoimentos de amigos da cantora coroam o espetáculo, a grande maioria deles construídos a partir de áudios trocados com ela ainda em vida. Entre os artistas estão Chico Buarque, Taís Araújo, Caetano Veloso, Lázaro Ramos, Jorge Aragão, Alcione, Rita Lee, Carlinhos Brown, Regina Casé, Maria da Penha e Paulo Gustavo. Ao final, o show também brinda o espectador com as respostas de Elza para estes seus amigos.
“Fiquei três meses na edição e finalização, convivendo diariamente com Elza, após a sua partida. Foi doloroso e, ao mesmo tempo, uma explosão de amor por ela. Por isso, a montagem desse filme traz uma linguagem simbiótica entre o roteiro criado um ano antes do espetáculo e a outra parte criada depois dele, quando fomos atrás dessas conversas tão lindas e íntimas da Rainha, como a que ela teve com Paulo Gustavo”, completou o diretor.