Especial/2 anos após terremoto, Amatrice renasce lentamente

AMATRICE, 22 AGO (ANSA) – Por Matteo Guidelli – “No primeiro ano existe a dor. E adrenalina. No segundo você reconstrói o que pode, para recomeçar. Mas o terceiro é o pior, é aquele no qual você entende que levará tempo, muito tempo.” O prefeito Filippo Palombini, da sede provisória da Prefeitura de Amatrice, olha em direção ao grande espaço vazio onde ficava a escola Romolo Capranica como se quisesse encontrar uma resposta naquela ausência.   

Ele sabe que, tudo somado, pode dizer que tem sorte, porque é o prefeito do único vilarejo atingido pelo terremoto de 24 de agosto de 2016 que realmente renasceu: Accumoli, Arquata del Tronto e os distritos destruídos por aquele infernal tremor de 6.0 na escala Richter são hoje lugares “mortos”. Amanhã, quem sabe.   

Palombini também precisa se esforçar para encontrar um presente e um futuro para seu povo, mas os sinais de recuperação já existem.   

Casas temporárias foram entregues a todos os desabrigados; as atividades produtivas, embora com muita luta, recomeçaram a funcionar; lojas e restaurantes foram reabertos em centros comerciais levantados a partir do nada; em setembro, novas escolas substituirão as temporárias; as ruas foram recuperadas.   

O problema para Palombini é o tempo. Os anos – seis, se tudo correr bem – que serão necessários para ver esses vilarejos reconstruídos. Se é que isso vai acontecer. “As coisas estão sendo feitas, mas, se continuarmos colocando estruturas provisórias, será inútil falar de renascimento”, diz o morador Vinicio Buzzoni.   

Sua oficina de luminárias de alumínio ainda está entre os escombros da praça Sagnotti, onde casas populares desabaram e mataram mais de 20 pessoas. “Aqui tudo é provisório”, acrescenta.   

Amatrice, de fato, é um vilarejo suspenso entre o que é hoje e o que será amanhã. A vida recomeçou em torno dos centros comerciais e da área de restaurantes – a cidade é berço do molho à matriciana -, mas a boa notícia é que os entulhos estão, finalmente, desaparecendo.   

Não há mais nada da velha escola, a não ser os desenhos das crianças em um muro. Do célebre Hotel Roma não há nem mesmo as fundações. Onde ficava o hospital, existe hoje um grande buraco.   

No lugar do convento, foi instalado um enorme maquinário que tritura pedras e concreto.   

A retirada dos entulhos deve terminar até dezembro. “Até 2019, devemos ter concluído os projetos, para depois abrir os canteiros de obras. Espero ver os guindastes em Amatrice até a primavera [europeia], significará que as coisas estão caminhando”, ressalta Palombini.   

Da velha Amatrice, restam cinco símbolos: o Museu Cívico, as igrejas do Purgatório, de São Francisco e de Santo Agostinho e a Torre Cívica, hoje coberta por andaimes, inclusive seu relógio, interrompido às 3h36 da madrugada daquele 24 de agosto.   

“Devemos ser francos: o que podíamos ter feito nós fizemos: as casas, a escola. Agora devemos melhorar a vida das pessoas, porque os próximos anos serão precários, e precisamos estar unidos”, acrescenta o prefeito.   

Sem vida – Se a vida em Amatrice é precária, nas outras cidades do terremoto de 2016 ela parece inexistente. Em muitos distritos, como Sant’Angelo a Saletta e San Lorenzo a Flaviano, os únicos escombros removidos foram aqueles que tornavam perigoso o trânsito pelas ruas. Não há operários trabalhando, e casas provisórias surgem repentinamente em meio ao nada.   

Na entrada de Accumoli, um posto do Exército controla os documentos de quem entra. Dentro do vilarejo, o forasteiro é tomado por uma sensação de vazio. Tudo está imóvel, como o portão da igreja que permaneceu de pé entre as pedras.   

“Antes caminhava pelo vilarejo, mas agora me parte o coração”, conta o morador Mario Marotta, que vive em uma casa provisória na cidadezinha. “Eu não trocaria Accumoli nem por Roma ou Nova York, mas aqui não tem mais nada. Antes o tempo voava, agora não passa nunca”, diz.   

A mesma sensação domina os sobreviventes de Pescara del Tronto, distrito de Arquata del Tronto devastado em 24 de agosto. Nem mesmo seus antigos moradores voltam para a área destruída, porque todos sabem que Pescara del Tronto não voltará. Não há mais nada para se ver, a não ser uma enorme cratera repleta de entulhos. Um mundo morto para sempre. (ANSA)