Uma crise detonada pela corrupção e por uma improvável coalizão levou a uma mudança súbita no governo espanhol. Em apenas duas semanas, caiu o primeiro ministro Mariano Rajoy, do conservador Partido Popular (PP), e subiu ao poder o professor de economia Pedro Sánchez, secretário-geral do Partido Socialista Obrero Espanhol (PSOE). Rajoy, que estava no cargo havia mais de seis anos, sofreu uma moção de censura motivada pela condenação de vários políticos de seu partido num escândalo de desvios de verbas para financiamento ilegal de campanhas, conhecido como caso Gurtel. Pelo menos 30 membros do PP foram envolvidos e condenados por fraudes. Para garantir a maioria absoluta no parlamento e conquistar o posto, Sánchez contou com o apoio heterogêneo da esquerda radical do partido Podemos, dos separatistas catalães e dos nacionalistas bascos. Foi a transição de poder mais rápida da história da democracia espanhola. Ao assumir o cargo, o novo premiê declarou que pretende estabilizar o país politicamente — algo que Rajoy não vinha conseguindo, principalmente por causa dos conflitos separatistas na Catalunha —, e priorizar políticas que favoreçam o meio ambiente e promovam a igualdade entre homens e mulheres.

Uma das primeiras medidas de Sánchez foi nomear um gabinete de ministros com predominância feminina. Dos 17 ministros, 11 são mulheres, algo inédito na história da democracia espanhola. A ministra da economia será Nadia Calviño, que era diretora de orçamento da Comissão Europeia. A ministra da Justiça, Dolores Delgado, vem da Audiência Nacional, principal tribunal criminal da Espanha, onde ela coordenava a luta contra o terrorismo jihadista. Também faz parte do governo o primeiro astronauta espanhol, Pedro Duque, que será ministro da Ciência, Inovação e Universidades. “Todos são muito qualificados, trazem a vocação para o serviço público e refletem o melhor da Espanha”, disse Sánchez, ao apresentar seu ministério.

Divulgação

Expectativa é que novo ministro assuma uma posição mais moderada em torno das discussões sobre a autonomia da Catalunha

Analistas preveem que o Sánchez, de 46 anos, terá muitas dificuldades de governar por causa da base política frágil. A união em torno da moção de censura contra Rajol não significa qualquer garantia de maioria parlamentar. Independentistas catalães e nacionalistas bascos têm sua própria agenda, ligada a questões regionais. A esquerda do Podemos tampouco está afinada com o PSOE. De qualquer forma, acredita-se que a ascensão dos socialistas tende a diminuir a tensão política no país. Sánchez terá oportunidade de funcionar como um apaziguador do conflito catalão, embora até agora tenha se mantido crítico em relação à demanda de aumento da soberania da região. Espera-se que as duas partes recuperem as negociações interrompidas desde que se aprovou um processo constituinte para proclamar uma república na Catalunha, em outubro do ano passado. Caberá a Sánchez decidir se o governo central manterá ou não o controle sobre as finanças do governo autônomo, assumido na ocasião.