Milhões de pessoas na Espanha participavam nesta quinta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, de uma greve geral sem precedentes convocada em defesa de seus direitos e marcada por marchas, piquetes e cancelamentos de trens.
Segundo os dois maiores sindicatos do país, Comisiones Obreras (CCOO, na sigla em espanhol) e UGT, 5,9 milhões de pessoas aderiram à greve esta manhã com paralisações de duas horas por turno de trabalho.
Outros dez sindicatos menores convocaram uma paralisação de 24 horas, na primeira greve geral deste tipo convocada na Espanha.
No fim da tarde, marés de mulheres vestindo na maioria roupas de cor lilás e em um ambiente festivo lotaram as ruas do centro de Madri e Barcelona, depois de, durante o dia, terem se sucedido manifestações em Valencia, Sevilha, Bilbao e Parlma de Mallorca.
Na capital catalã, a polícia municipal contabilizou 200 mil manifestantes, que aos gritos de “viva a luta feminista” lotaram a ampla avenida do Paseo de Gracia.
“Isto de hoje deve ser um ponto de partida para mudar as coisas”, disse à AFP durante a passeata María Ángels Pina, professora de 60 anos com um laço lilás na lapela. “A igualdade ainda está muito longe”, acrescentou.
“Nós sofremos uma tripla discriminação: por sermos mulheres, por sermos de origem estrangeira e por sermos muçulmanas”, expressou horas antes em outra manifestação em Barcelona Amira Malainne, estudante de 23 anos, acompanhada de umas amigas de origem magrebina, usando hijabs lilás, a cor que identifica a causa feminista.
Exibindo um cartaz onde se lia “Sem nós o mundo para” na marcha de Madri, Pilar Lahoz, administradora de uma cooperativa, queixou-se por não ter podido trocar de trabalho porque ao dizer que pensa em ter filhos é descartada.
“Embora avancemos, resta muito por fazer”, lamentou.
– Mobilização mundial –
Em dois dos principais meios de comunicação do grupo PRISA, o jornal El País e a estação de rádio Cadena SER, as repórteres faziam greve e a apresentadora Ana Rosa Quintana não transmitiu o programa da Telecinco que carrega seu nome.
Grupos feministas também convocaram as mulheres a não consumir, nem fazer trabalhos domésticos.
Durante o dia, os metrôs de Madri e Barcelona tiveram menos passageiros, e uns 300 trajetos de trem foram suspensos por causa da greve. Nos trens de alta velocidade o serviço foi garantido em 72%.
As mobilizações acontecem em todo o mundo, com inúmeros atos, greves e marchas planejadas na América Latina (México, Chile, Argentina, Brasil, Colômbia, entre outros países). No Twitter, a hashtag #DiadaMulher em vários idiomas liderava os “trending topics”.
Um dos dados mais repetidos na Espanha é que as mulheres recebem 14,2% a menos do que os homens, uma diferença, no entanto, inferior à média da UE (16,2%), de acordo com dados da agência europeia Eurostat.
Ou a diferença na taxa de emprego, que é de 65% para mulheres com filhos, 21 pontos a menos do que para homens, ainda de acordo com dados oficiais.
“O dia de hoje serve para promover um debate e conscientizar todos”, declarou o presidente do governo, Mariano Rajoy, em um ato de seu Partido Popular (PP) em Valência.
– Objetivo: igualdade salarial –
“O exemplo de tantas mulheres anônimas me faz lutar mais e me empurra para frente”, afirmou a presidente da câmara baixa do Parlamento, Ana Pastor, em uma mensagem recebida pelo canal de televisão La Sexta.
Pilar Cazorla, representante de um coletivo de camareiras de hotéis conhecido como Las Kellys, denunciou que as empregadas ganham entre dois e três euros por quarto e estão sujeitas a um grande estresse.
“Para um mesmo trabalho na mesma empresa, os salários devem ser os mesmos – o que é óbvio -, e quem não faz isso está errado e pagará”, disse o presidente do Círculo de Empreendedores, Javier Vega de Seoane.
A Espanha tem tido destaque na luta feminista em razão de uma lei contra a violência sexista adotada em 2004, que foi pioneira e celebrada pelo Conselho da Europa como “um modelo”. No ano passado, 49 mulheres foram mortas por seus parceiros, ou ex-parceiros, cinco a mais do que em 2016.
O dia de hoje foi precedido por uma polêmica interna no PP. A ministra da Agricultura, Isabel García Tejerina, e a presidente da região de Madri, Cristina Cifuentes, disseram que fariam uma “greve japonesa” nesta quinta-feira, consistindo em trabalhar mais. Rajoy não as autorizou, dizendo que não se reconhece nessa iniciativa.