Atendendo a pedidos de longa data de familiares, o governo de esquerda espanhol iniciou, nesta segunda-feira (12), os trabalhos para exumar uma primeira centena de vítimas da guerra civil (1936-1939) enterradas no enorme mausoléu do Valle de Cuelgamuros, antes chamado de los Caídos.

“Uma vez superados os empecilhos técnicos, de segurança e da enorme quantidade de obstáculos jurídicos colocados por organizações de extrema direita, será iniciada a tentativa de exumar os corpos das pessoas reclamadas por seus familiares”, 128 no total, indicou em uma mensagem à AFP o Ministério da Presidência e Memória Democrática.

“É uma tarefa que o governo de Pedro Sánchez vem realizando há anos com a finalidade de tentar recuperar esses corpos e entregá-los aos seus familiares para que lhes deem uma sepultura digna”, comunicou o ministério, que acrescentou: “Não se trata de política, é simplesmente uma questão de pura humanidade”.

Nesta enorme basílica, cuja construção foi ordenada pelo ditador Francisco Franco e foi realizada por milhares de prisioneiros políticos durante quase 20 anos, foram sepultados 33.000 combatentes dos dois lados da guerra, o franquista, vencedor da disputa, e o republicano, muitos deles levados sem a permissão das famílias.

Em um local privilegiado do altar, repousaram os restos mortais de Franco desde sua morte, em 1975, até outubro de 2019, quando o governo de Pedro Sánchez os enviou a um cemitério nos arredores de Madri.

Em abril, também foram retirados do altar os restos mortais de José Antonio Primo de Rivera, o fundador do partido fascista espanhol Falange e levados para um cemitério civil.

– Décadas reclamando –

Em uma primeira fase dos trabalhos, a equipe de 15 pessoas ficará encarregada de acessar aos diferentes níveis de columbários que existem na capela do Santo Sepulcro do mausoléu, onde espera-se que os restos mortais de até 77 pessoas sejam recuperados.

Em uma segunda fase, outras capelas do complexo serão acessadas para buscar o resto dos corpos reclamados, segundo o ministério.

“Serão realizadas as análises antropológicas e será realizada a coleta de amostras para as análises genéticas”, para a correta identificação das vítimas, acrescentou o ministério, que compartilhou fotografias que mostram o laboratório forense instalado no local com várias equipes de cientistas em mesas brancas.

“O revelante é que no final, e talvez com muito tempo de atraso, a democracia espanhola está dando uma resposta a essas vítimas”, disse à televisão pública TVE a porta-voz do governo, Isabel Rodríguez.

– A direita quer revogar a lei –

Após chegar ao poder em 2018, Sánchez elegeu como uma de suas prioridades o ressarcimento às vítimas da guerra civil e da ditadura franquista (1939-1975).

Seu governo conseguiu aprovar, em outubro passado, a chamada Lei de Memória Democrática, que obriga que o Estado seja responsável, pela primeira vez, pela busca e identificação das vítimas desaparecidas.

Os trabalhos em Cuelgamuros começam semanas antes das eleições legislativas de 23 de julho. De acordo com as pesquisas, a direita sairia vencedora, o que lhe permitiria cumprir a promessa de revogar a lei, alegando que ela divide e reabre feridas na sociedade.

O líder do Partido Popular (PP, direita), Alberto Núñez Feijóo, confirmou, na semana passada, que, se chegar ao poder, revogará a legislação, já que, em seu julgamento, é uma das “leis minoritárias” que o governo de Pedro Sánchez impôs “às maiorias”.

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