O dia 1º de outubro de 2017 entrou para a história da Espanha como o “1-0”, nome dado pelos catalães ao movimento separatista que há um ano sacudiu o país. A data foi relembrada na semana passada por milhares de manifestantes que tomaram as ruas de Barcelona empunhando bandeiras e entoando o lema “Primeiro de outubro, nada a perdoar, nada a esquecer”. A cena reforçou o eterno desejo da Catalunha de se tornar novamente um Estado independente. A manifestação serviu também para mostrar ao governo da Espanha que o plebiscito sobre a independência não foi esquecido. Os separatistas bloquearam ruas, estradas e estações ferroviárias. No momento em que tentaram invadir o Parlamento regional, em Barcelona, foram impedidos pelo batalhão de choque espanhol, em um confronto com tiros de borracha e cassetetes. Carles Puigdemont, presidente deposto da região e exilado na Bélgica, postou em seu Twitter mensagens de apoio aos separatistas: “Não nos desviemos no caminho”, afirmou.

“Não nos desviemos do caminho para a plena democracia: a conquista da República Catalã e seu reconhecimento internacional” Carles Puigdemont, presidente deposto da Catalunha (Crédito:AFP PHOTO / John Thys)

Apesar do clamor popular e dos 2 milhões de votos favoráveis no plebiscito de 2017, a independência catalã é uma batalha difícil de ser vencida. O governo espanhol, sob a liderança do premiê Pedro Sánchez (do Partido Socialista Operário), já mostrou que não está disposto a perder sua região mais rica. Na terça-feira 2, o presidente da Catalunha, Quim Torra, ameaçou tirar o apoio do governo no Congresso. “Oferecemos de novo a Sánchez a possibilidade de fazer uma proposta sobre como vai facilitar o exercício do direito à autodeterminação da Catalunha”, disse. Rodolfo Chagas, professor de relações internacionais e doutor pela USP em movimentos nacionalistas na Europa, aposta no diálogo para a resolução do impasse. “Ainda existe margem de negociação e Madri pode ceder em alguns aspectos, mas acredito que o reconhecimento do plebiscito é inviável, pois o Direito Internacional nem prevê um referendo unilateral, ou seja, feito sem a autorização do Estado”, diz ele. Enquanto um acordo não é estabelecido, a população catalã apenas sonha com um país para

Ela está sujeita a três elementos institucionais importantes. Em primeiro lugar, a persistência do Governo da Generalidade no projeto independentista e, por sua vez, no apoio que o movimento tem na câmara legislativa catalã. Em segundo lugar, a resistência do governo da Espanha, uma vez que ele está nas mãos de partidos políticos pró-independência. E, finalmente, pelo papel da comunidade internacional, especialmente da União Europeia, que não aceitará um problema “para sempre”.

Quais serão os próximos desdobramentos dessachamar de seu.

 

Entrevista com Jesús Palomar i Baget, professor de Ciência Política da Universidade de Barcelona

De que depende a conquista da independência da Catalunha? disputa?
Obviamente, há um elemento central que não é de tipo institucional, mas social, e reside na determinação e na persistência dos cidadãos, que aparentemente não estão se enfraquecendo, pelo contrário. O elemento central disso tudo, o ponto de inflexão, está localizado nos julgamentos dos prisioneiros políticos catalães e líderes sociais, que podem ser o gatilho para todos os atos a curto e médio prazo.

Acredita que o reconhecimento da região como um país autônomo irá ocorrer?
De forma inexorável, sim. Ao menos a Catalunha está mais próxima da independência do que de uma reconciliação com o estado espanhol. O exercício da violência física por parte da polícia espanhola aos cidadãos durante o referendo, o posterior encarceramento de políticos e líderes sociais e o exílio de líderes políticos são pontos sem volta para a sociedade catalã. Sempre houve convivência entre separatistas e não-separatistas, com calma e tranquilidade, mas a explosão de violência contra pessoas das ruas tem sido o gatilho para uma divisão social.

Haverá uma coexistência pacífica entre Catalunha e Espanha?
Agora não se trata mais de uma abordagem política. A sociedade catalã foi agredida principalmente pela polícia, que deve protegê-los, e isso não tem solução possível. A independência é parte da solução da coexistência entre Espanha e Catalunha, porque ambos os territórios são necessários um ao outro, ainda que não sejam no mesmo estado. Isso deve levar o estado espanhol a compreender que não há reconciliação possível, mas no máximo um acordo que recupere os laços de “ganha-ganha” para ambas as nações.