Nicolas Ferreira brinca dizendo que a esgrima foi o “melhor acidente” em sua vida. A mãe do rapaz era professora de natação em um colégio e ele cresceu nesse ambiente, mas nunca se deu bem. Quando tinha 9 anos, o menino disse para a mãe que não queria se molhar e que não aguentava mais. Acabou deixando as piscinas, mas sabia da importância de praticar esporte.

“No ginásio do Ibirapuera tinha vários esportes gratuitos para a comunidade, incluindo a esgrima. Quando fui fazer inscrição, nem sabia o que era. Minha mãe falou que achava que era com espada e foi suficiente para me encantar”, contou.

Nesta segunda-feira ele estreia nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, na mesma arma que se encantou lá atrás: a espada. E se mostra bastante confiante. “A medalha não é só um sonho, mas uma realidade muito possível. Na última edição em Toronto eu perdi para um americano por 15 a 12, sendo que chegou a ficar 12 a 12. Agora estou quatro anos mais experiente. Sem contar que nos Campeonatos Pan-Americanos de esgrima eu tive o melhor resultado da história da espada masculina, fui vice-campeão, então a chance é clara”.

O atleta nasceu em uma família de praticantes do budismo e isso é a base de sua vida. Nicolas explica que e objetivo básico é atingir o estado de Buda, e que uma tradução possível seria atingir a iluminação. “Seria como tomar as melhores decisões nos momentos cruciais. Se pensarmos na esgrima, em que numa fração de segundos é preciso tomar a decisão correta, a mais acertada. O budismo e a esgrima andam em paralelo para mim. Durante a competição fico orando mentalmente”.

Aos 26 anos e em sua melhor forma física, ele vai se formar neste ano em Engenharia de Produção no Mackenzie, em São Paulo, e agradece à universidade pela bolsa de estudos integral. “A vida de atleta não é nada fácil, a de estudante também não é, e as duas coisas juntas é bem complicado. Sei que não tenho como me aposentar como atleta. Pode ter uma lesão, um resultado inesperado pode fazer os patrocínios caírem, então é necessário ter um plano B”.