As escolas devem voltar a funcionar em São Paulo no início de agosto, com 20% dos alunos. O plano que será anunciado na sexta-feira pelo Estado valerá para estaduais, municipais, particulares, universidades, Fatecs e até cursos de inglês. Ainda se discute se será um grupo de 20% dos alunos frequentando aulas todos os dias da semana ou se grupos diferentes de 20% dos estudantes irão uma vez por semana, completando 100% na Sexta-feira.

Segundo apurou o Estadão, o esquema funcionaria por duas semanas e depois o número de crianças e jovens aumentaria aos poucos. O governo do Estado descartou a possibilidade, antes aventada, de iniciar as aulas com os alunos mais novos, da educação infantil (zero a 5 anos). O protocolo da volta prevê também uso de máscaras e distanciamento de 1,5 metro dentro das salas de aula. Quem não estiver nas aulas presenciais teria de continuar com atividades a distância, tanto em instituições públicas quanto nas particulares. O plano vale para o todo o Estado, mas cada região paulista poderá determinar uma data de reabertura.

São Paulo, que tem a maior rede de ensino do Brasil, caminha para uma solução diferente de outros Estados. “Já é praticamente unanimidade começar a voltar pelas pontas, e principalmente pelo 3.º ano do médio por causa do Enem”, diz o vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e secretário de Pernambuco, Fred Amâncio, com relação ao conjunto de Estados. Depois, segundo ele, voltariam o 9.º ano e o 6.º ano, ou seja, quem está no fim dos ciclos. “Não dá para colocar todo mundo dentro da escola, é um dos ambientes de maior risco”, diz.

No sábado, o secretário de Estado da Educação, Rossieli Soares, reuniu-se por videoconferência com representantes de todos os segmentos para discutir as medidas, que devem fazer parte de um decreto. No caso de prevalecer a opção de voltar apenas um grupo de 20% de cada instituição, ainda se discute qual será o grupo prioritário. Escolas particulares, por exemplo, poderiam ter liberdade para escolher quais séries ou estudantes incluiriam nos 20%.

As universidades públicas (USP, Unesp e Unicamp) e as Fatecs (faculdades de tecnologia) pediram prioridade na volta às aulas presenciais para os alunos que estão no último ano, para não prejudicar a formatura. Nas Fatecs, muitos estudantes precisam cumprir atividades práticas em laboratórios essenciais para formação.

Já os representantes de escolas particulares (Sieeesp) requisitaram o retorno da educação infantil. “Se não voltarem, nem que seja em dias alternados, muitas vão falir”, diz o presidente do Sieeesp, Benjamin Ribeiro da Silva. Como a lei não exige que crianças de até 3 anos estejam matriculadas em instituições de ensino no Brasil, 30% dos pais, segundo estimativa do sindicato, já tiraram os filhos da escola. Outros grupos, de escolas particulares da capital, querem prioridade para os alunos do 3.º ano do médio.

Exterior

As experiências internacionais têm tanto os que optaram pela volta dos alunos mais velhos que estão terminando a escola, como a China, quanto outros que preferiram iniciar com os menores, como a Dinamarca. A opção pelas crianças, em vez dos adolescentes, é justificada pelo fato de os pais também começarem a voltar ao trabalho e não terem com quem deixá-las. Lá fora, os protocolos, em geral, incluem rodízio de alunos, distanciamento, máscaras e impedimento de os pais entrarem nas escolas. “Além do Enem, voltar com os alunos do ensino médio tem um propósito de desenvolver o protagonismo juvenil. Eles podem ser parceiros dos professores para conscientizar os menores”, diz o secretário de Educação do Espírito Santo, Vitor de Angelo.

As crianças teriam mais dificuldade em cumprir as novas regras sanitárias nas escolas, afirma ele. O plano no Espírito Santo é voltar às aulas em julho, dividindo as turmas de ensino médio em duas metades e alternando as semanas. Depois de 15 dias, começariam a retornar o ensino fundamental, também com revezamento.

Em Minas, não há data definida para retorno porque o Estado entende que o pico de casos de covid-19 deve ocorrer em julho. Mesmo assim, a ideia também é recomeçar as aulas pelo 3.º ano do ensino médio. “Nosso foco será em quem está concluindo a educação básica e os mais vulneráveis, que não estão tendo acesso ao ensino a distância”, diz a secretária de Educação de Minas, Julia Sant’Anna. O Ceará informou que ainda está elaborando seu plano, mas também deve dar prioridade para os alunos do 3.º do médio.

Modelo híbrido

Escolas particulares de elite aguardam as determinações oficiais do governo para organizar melhor a volta, mas já começaram a elaborar planos. Muitas acreditam que o segundo semestre terá modelo híbrido de ensino, com aulas presenciais e também a distância.

O grupo que inclui os Colégios Oswald de Andrade, Elvira Brandão e Piaget já está comprando medidores de oxigenação e termômetros para que a temperatura dos alunos seja medida na porta da escola. A ideia também é voltar às aulas dividindo as turmas pela metade e escalonando os dias de aulas presenciais.

Quem fica em casa poderia ver a mesma aula pelo computador. “Estamos lendo protocolos de todos os países para montar o nosso, mas é tudo muito novo. Por exemplo, vai ter recreio ou não, como será o lanche da cantina?”, diz o diretor da rede, Claudio Giardino.

No Colégio Bandeirantes, a preocupação maior também é com os alunos do 3.º ano do ensino médio que precisam concluir a etapa. Segundo a diretora pedagógica da escola, Mayra Ivanoff, eles devem ser os primeiros a voltar. O Bandeirantes também está organizando grupos com psicólogos para o acolhimento emocional de professores e alunos por causa da pandemia. “Tudo ainda é muito incerto. Como vamos fazer um discurso de não interação para os adolescentes?”

“É importante olhar para as pontas, como o 3.º ano, para os alunos poderem aproveitar melhor essa despedida da educação básica, ainda com os momentos de incertezas pelo Enem”, diz a diretora pedagógica da Escola da Vila, Fernanda Flores. A escola montou um grupo com professores, pais, alunos e funcionários para planejar como será a volta.

Fernanda diz se preocupar também com os pequenos, da educação infantil, que aproveitam pouco o ensino a distância e cujos pais precisam da escola para voltar a trabalhar. “Estamos tentando reduzir o número de crianças nas turmas, para 5 ou 8. Mesmo assim, quanto menores eles são mais complexa é a questão de distanciamento e uso de máscara.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.