Nelson Kon; divulgação

O seminário de Olinda tem importância incontestável na história brasileira. Construído no século XVI, o prédio serviu praticamente de quartel-general da Revolução Pernambucana de 1817, também conhecida como “Revolução dos Padres”. Sob influência iluminista, a revota representou uma importante ação contra o império português, e já expunha um ideário republicano. A bandeira de Pernambuco, inspirada no símbolo da revolução, também foi desenhada no seminário. Apelidado de “Escola de Heróis” pelo papel que teve na luta pela independência do Brasil, o local se encontra hoje interditado — e a Igreja católica busca apoio da sociedade para restaurá-lo.

Com o prédio fechado desde 2015, os seminaristas que estudam filosofia e teologia moram provisoriamente, e de forma improvisada, num centro pastoral. Desde então, coube à Arquidiocese de Olinda e Recife, junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (IPHAN), buscar recursos para aplicar na reforma emergencial do seminário, de forma que ele volte a ser funcional. De acordo com o arcebispo dom Antônio Fernando Saburido, até o momento já foram captados R$ 1,5 milhão para manter as obras em andamento, restando conseguir outros R$ 2,2 milhões para sua reinauguração. O imóvel foi interditado para reforma primeiramente por risco de desabamento. A obra tem encontrado dificuldades para avançar por causa de rachaduras na parte de trás do prédio, que aumentaram no decorrer da restauração.

Os recursos já obtidos vieram do Programa Nacional de Apoio à Cultura e de empresas parceiras. O montante que falta deverá ser captado via iniciativa privada. O IPHAN já autorizou a captação do valor pela Lei Rouanet, garantindo benefícios fiscais aos que financiarem o projeto, que inclui a conservação do forro em madeira, conservação dos pisos e assoalhos e reforma das cobertas da nave da Igreja de Nossa Senhora da Graça e da Bedelagem — o antigo colégio jesuíta que existia no local, que faz parte do conjunto de edifcações que compõem o seminário. Prospecções arqueológicas também foram conduzidas no local, com a intenção de verificar a existência de criptas, valas e sepultamentos, além de localizar outras câmaras subterrâneas.

Metas importantes

Os clérigos consideram que o seminário já ficou interditado por muito tempo e traçam um plano ambicioso, porém alcançável, de reinaugurá-lo entre agosto e setembro de 2020. A meta está fixada nesses meses, pois, em novembro, Recife sediará o 18º Congresso Eucarístico Nacional, que deve contar com ao menos 300 bispos. “Estou com esperança, temos que acreditar. Não vai ser fácil, mas faremos o possível para alcançar”, afirma dom Fernando. O arcebispo diz que será de interesse dos congressistas conhecer o seminário e constatar a importância turística da construção, a qual considera um dos monumentos mais importantes de Pernambuco. Além disso, a reforma será muito saudável para a formação dos seminaristas.

A intenção da arquidiocese é mover pelo menos um dos cursos integralmente para o seminário revitalizado no prazo estimado. Hoje são 70 seminaristas na cidade, e a previsão é que mais dez iniciem os estudos no ano que vem. A arrecadação já começou: dom Fernando afirma que uma emenda parlamentar no valor de R$ 400 mil já foi destinada pelo deputado Renildo Calheiros, que foi prefeito de Olinda entre 2009 e 2017. Ainda falta muito dinheiro para que a arquidiocese chegue ao valor suficiente, mas é com muito trabalho, e com bastante fé, que os clérigos podem conseguir os recursos necessários, garantindo tranquilidade aos seminaristas e a preservação do patrimônio histórico e cultural de Pernambuco por longo tempo.

“Enquanto não esteve interditado, o prédio do século XVI foi muito procurado por turistas. É um monumento cultural importante” Dom Antônio Saburido, arcebispo de Olinda e Recife (Crédito:Divulgação)