Vários bolsonaristas escapuliram da prisão deixando o País, como Allan dos Santos, e outros amargaram algum tempo na cadeia, como Daniel Silveira e Sara Winter. Mas há os que foram mais espertos e deixaram o cargo antes de parar atrás das grades. Esse foi o caso de Ricardo Salles, Wajngarten e Pazuello. Salles, porém, superou as expectativas. Ao perceber que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, decretaria sua prisão por causa do seu envolvimento com o contrabando de madeira ilegal para os EUA, o então ministro do Meio Ambiente pediu demissão para sair das garras de Moraes, um dos ministros mais competentes do Supremo. O que fez Salles premeditar que seria preso foi a decisão do magistrado de mandar periciar seu celular e assim ter acesso a todas as suas maracutaias.

Passaporte

Como Salles se antecipou e pediu demissão, seus inquéritos no STF passarão para a primeira instância, escapando do rigor de Moraes. O ex-ministro, contudo, não terá como se evadir para os EUA, como fizeram seus amigos. Cármen Lúcia, outra integrante da ala punitiva do STF, mandou apreender seu passaporte e, sem ele, não terá como deixar o País.

Processos

Enganam-se os que pensam que ele ficará impune. Os inquéritos que a PF abriu para investigar seus crimes em conluio com madeireiros ilegais estão repletos de provas. Em uma das investigações, até autoridades americanas delataram suas atividades ilícitas. O delegado da PF que o denunciou, Alexandre Saraiva, não foi afastado do cargo em vão.

Ligações perigosas

Edilson Rodrigues

Flávio Bolsonaro é mestre em farejar negócios nebulosos. O 01 levou o empresário picareta Francisco Emerson Maximiano, dono da Precisa Medicamentos, à sede do BNDES, em outubro, para pedir financiamentos com juros subsidiados. A Precisa, como se sabe, aplicou um golpe bilionário no governo do pai para a venda superfaturada da vacina Covaxin. Seu advogado, Frederic Wassef, teve sigilo quebrado pela CPI.

Retrato falado

“Temos um psicopata na presidência da República” (Crédito:Sergio Andrade)

João Doria não usa meias palavras para analisar o comportamento de Bolsonaro na pandemia. Para ele, o presidente “é psicopata” e tem se descontrolado diante do cerco feito pela CPI. “Recomendo que ele tome vacina antirrábica, após atacar jornalistas mulheres sempre que vem a São Paulo”. Doria explicou por que mandou os fiscais multarem Bolsonaro em Sorocaba, na sexta-feira, 25: “Ele estava sem máscara outra vez. Aqui não é terra da cloroquina. É terra da vacina”.

O dragão voltou

Os mais jovens não sabem o que é inflação, um monstro que afetou a vida dos brasileiros até 1994, quando FHC criou o Plano Real. Mas, agora, já começam a sentir seus efeitos, sob a batuta da política econômica desastrosa de Paulo Guedes. Em junho, o IPCA-15, que é uma prévia da inflação, fechou em 0,83%, subindo para 8,13% nos últimos 12 meses — o pior número desde 1996. Em agosto, a expectativa é que a taxa atinja 8,5%. Desta vez, a inflação está sendo puxada pela alta dos preços dos alimentos e pelo aumento da energia elétrica, cuja tendência é continuar subindo devido à crise hídrica. A economia está desandando porque o teto de gastos virou figura de ficção.

Gastos em alta

A inflação está sendo estimulada pela trajetória de descontrole da dívida pública
e das despesas do governo. Guedes decidiu detonar os gastos que sustentarão a reeleição de Bolsonaro: aumento dos projetos populistas (bolsa família e auxílio emergencial) e reajustes eleitoreiros para o funcionalismo.

Toma lá dá cá

Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente (Crédito:ALEX SILVA)

Quais os efeitos da gestão Salles para o meio ambiente?
Foram devastadores. Ele realizou aquilo que Bolsonaro disse na campanha. Desmontou o ministério. E o sucessor de Salles tem que começar por não ouvir o presidente, porque ele é o mentor da política ambiental desastrosa.

O que o esquema da Covaxin representa para a CPI da Pandemia?
A CPI chegou ao fio da meada da corrupção no governo Bolsonaro. A CPI começa a trazer à tona o nome dos integrantes da boiada.

Quais os riscos que Bolsonaro oferece ao País?
Bolsonaro representa uma ameaça à democracia ao querer cooptar militares, atacar a autonomia dos poderes e insuflar o ódio contra as instituições. Espero que a sociedade continue resistindo.

Dança da cadeira

A cadeira paulista no Senado que estará em disputa no ano que vem desperta uma luta fratricida no PSDB. O posto é ocupado por José Serra, que deseja concorrer à reeleição. Mas há gente que quer que ele se aposente ou se submeta a prévias. A proposta é de Fernando Alfredo, presidente do PSDB paulistano, que pensa em ser candidato ao Senado.

A fila anda

Outros candidatos ao Senado já se habilitaram, como é o caso de Joice Hasselmann, que deve se filiar ao PSDB só com esse objetivo. Doria, contudo, quer usar a vaga para convencer Alckmin a abrir espaço para a candidatura de Rodrigo Garcia ao governo paulista. Como se vê, o jogo de xadrez é uma arte cada vez mais praticada no Palácio dos Bandeirantes.

Caboclo nunca mais

Lucas Figueiredo/CBF

Em meio às dúvidas sobre o futuro do comando da CBF após o afastamento de Rogério Caboclo em conseqüência das denúncias de assédio sexual, uma coisa é certa entre os presidentes de Federações: Caboclo não voltará ao comando da entidade. A investigação da comissão de ética da confederação sobre o episódio reuniu elementos suficientes para bani-lo do futebol.

Rápidas

* Cantando vitória, Lula já está montando o ministério, assim como fez em 1989 (acabou perdendo para Collor) e em 1994 (foi derrotado para FHC). Entre os “ministeriáveis”, o petista escalou Franklin Martins (Comunicações) e Cristiano Zanin (Justiça). Dá azar.

* Carlos Bolsonaro tem verdadeira fixação pelas roupas justas de João Doria. Dia sim, dia não, Carluxo publica em suas redes sociais o governador dançando e referindo-se a ele como “o homem das calças apertadas”.

* Simone Tebet lavou a alma após a intervenção na CPI, quando “arrancou” a delação de Luiz Miranda sobre a participação de Ricardo Barros no Covaxingate. Ela foi derrotada por Bolsonaro para a presidência do Senado em fevereiro.

* Com Bolsonaro em baixa nas pesquisas, os partidos aliados começam a abandonar o barco. No sábado, 26, onze partidos, incluindo o PP e PL, tradicionais apoiadores do presidente, se manifestaram contra o voto impresso.