A candidata do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Luiza Erundina, disse neste domingo, que seu partido “em nenhum momento” estudou renunciar à competição para declarar apoio a Fernando Haddad, do PT, que busca a reeleição. Quando foi votar, por volta das 10h30, na Escola Estadual Rui Bloem, em Mirandópolis, zona Sul da Capital, Erundina foi recebida por seu vice, o deputado Ivan Valente (PSOL), e por um buquê de rosas que Vera, mulher de Valente. “Meu partido em nenhum momento pensou que isso (renúncia à candidatura) pudesse ocorrer”, afirmou a socialista de 81 anos, em seu quinto mandato como deputada federal e que já administrou a metrópole, entre 1989 e 1992, então pelo PT.

Ela atacou o voto útil. “Isso não é democrático. Você acaba contribuindo para que o eleitor não seja autônomo, independente, soberano da sua decisão. Se são dois turnos é exatamente para você dar oportunidade ao eleitor de escolher o projeto que ele acredita, com que mais se identifica.”

As pesquisas de intenção de voto mostram Erundina fora do páreo, com cerca de 5% da preferência do eleitorado, mas ela ainda declara ter esperanças de um surpreendente triunfo. “O eleitor ainda está indeciso. Estão dizendo que 25% dos eleitores ainda admitem mudar de voto. É isso que nos coloca a possibilidade de haver surpresas. Ainda há muita volatilidade na decisão do eleitor. Isso pode ser o imprevisível. Eu tenho esperança. Como diz o escritor Murilo Guedes ‘enquanto houver esperança o inesperado pode acontecer’.”

Se alcançar o segundo turno, ela avisa, o rival, seja quem for, que se acautele. “Se a gente chega lá, pode escrever aí, posso garantir, vamos virar a mesa e ganhar essa eleição. É chegar lá!”

Apontou novamente para o voto útil. “Esse negócio de voto útil não é democrático, condiciona a decisão do eleitor. Até porque são dois projetos. Eu não me identifico mais com o projeto do PT. Já me identifiquei. Fiquei lá (no PT) dezessete anos. Não me identifico mais. Estou em outro projeto, com outros valores, outros princípios, com outra cultura política, outra orientação política.”

A candidata vê “jogo cheio de vícios” no pleito, mas afirma que não se considera uma “vítima”. “Não me identifico muito com essa figura de vítima. É um jogo cheio de vícios e imperfeições. Por isso que a gente luta pela reforma política que vai além de remendos na legislação eleitoral.”

Ela reclamou do espaço reduzido que teve à sua disposição na campanha da TV, pífios dez segundos. Com tão pouco tempo para apresentar seu projeto e suas propostas à maior cidade do País, Erundina, em sua própria definição, “sumiu” do cenário.

“No início da campanha eu estava com 10% do eleitorado. Até que começou o horário eleitoral (na TV). Como vou aparecer em dez segundos? Por mais criativo que seja o nosso pessoal de comunicação, e fez um sucesso na propaganda alternativa, mas isso é insuficiente. Estávamos crescendo quando veio a avalanche, dois, três minutos dos outros. A gente sumiu, desapareceu, entrou na invisibilidade. Isso não é democrático. Temos que investir numa reforma política para valer e não remendos na legislação eleitoral. Isso está na agenda do PSOL, não vamos nos desmobilizar. Acumulamos na campanha muita adesão das pessoas por nosso sonho.”

Protestou contra as pesquisas quase diárias. “As pesquisas influenciam na decisão do eleitor, condiciona, isso não é democrático. Eu estava com 10% até que começou o horário eleitoral. Como vou aparecer em dez segundos?”

Erundina deixou claro em quem não pretende votar ou declarar apoio no segundo turno, se ficar de fora. “A mídia tem que ser democratizada, não é justo você ter dez segundos e um ter três minutos. Não dá para fazer milagres. Como você vai enfrentar essa máquina poderosa do governo do Estado? O candidato do governador (João Doria, do PSDB) veio com o aparelhamento do Estado, a tutela do Estado, o loteamento dos cargos do Estado. É essa a política nova? Esse é o novo? Não é nada novo.” Para Erundina, quem perdeu mais com o veto às doações de empresas “foram os desonestos, quem vivia às custas do dinheiro sujo dos empresários da Lava Jato”.

Indagada sobre quem pretende apoiar se não vencer o desafio deste domingo, ela disse: “Isso é decisão do partido. O partido não se reuniu ainda para discutir essa questão. Mas eu sei que o rigor, e tem que ser mesmo o rigor de um partido socialista, existe exatamente para ocupar esse espaço no espectro político ideológico do País. Que não se alia com qualquer um, que não apoia qualquer um, seja qual seja o pretexto, voto útil ou não, tem que escolher aquilo em que você acredita, que você aposta. Então, não tem essa. Mas essa decisão é partidária. Não nos reunimos para discutir essa questão, até porque estamos aguardando o resultado do segundo turno. Quem sabe possamos estar lá também, como não?”

Para votar, Erundina desceu uma rampa, passou pelo pátio da escola, desceu catorze degraus e chegou à sala de votação. De um envelope de carta que levava entre as mãos, tirou o título e a identidade. Mesários da Justiça Eleitoral se derramaram em cortesias para com a veterana.

Ao sair da cabine, não fez o tradicional ‘V’ com os dedos, gesto que acompanha os políticos desde sempre. Apenas disse. “Pronto, não doeu nada.” Posou para selfies e fotos, ganhou beijos e carinho dos eleitores. Afagou Melissa, 2, no colo de Maíla. “Que gracinha, você vai votar em quem?” Partiu, ao lado de Ivan, sob aplausos na rua.