O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, reforçou nesta terça-feira (20) seu compromisso de dividir o Chipre em dois Estados, com a reabertura do distrito-fantasma de Varosha, símbolo da divisão desta ilha no Mediterrâneo.

Desde a sua invasão pelo exército turco em 1974 em resposta a um golpe de nacionalistas cipriotas gregos que queriam que a Grécia anexasse a ilha, o país foi dividido entre a República de Chipre, que faz parte da União Europeia (UE), e a República Turca do Norte do Chipre, reconhecida apenas por Ancara.

“Nenhum avanço nas negociações pode ocorrer sem aceitar que há dois povos e dois Estados (…) Não temos 50 anos a perder com modelos cuja inviabilidade foi demonstrada”, disse Erdogan, sobre as negociações no passado para reunificar a ilha sob um Estado federal.

Essas discussões estão paralisadas desde 2017 e em abril uma tentativa da ONU, que monitora a zona tampão entre as duas partes da ilha, de reativá-las fracassou.

“Um novo processo de negociação só pode ser iniciado entre dois Estados (…) Por isso, a soberania e uma situação de igualdade (entre os cipriotas turcos e os cipriotas gregos) devem ser confirmadas”, defendeu o presidente turco na região norte de Nicósia, a capital dividida em duas, diante de uma multidão que o saudou agitando bandeiras turcas.

Nesta visita, durante o 47º aniversário da invasão turca do Chipre, Erdogan acusou os cipriotas gregos de “bloquearem qualquer solução” e de serem “desonestos”.

Ele também criticou as “mentiras” da União Europeia, que chamou de “inaceitável” a oferta de Erdogan por um Chipre dividido em dois Estados.

O líder do AKP (conservadores islâmicos e nacionalistas) assistiu a um desfile militar de soldados turcos presentes no norte da ilha, com a participação de combatentes turcos que desenharam no céu a lua crescente e a estrela que aparecem nas bandeiras turca e do norte do Chipre.

– “A vida vai recomeçar em Varosha” –

Acompanhado por Erdogan, o “presidente” do norte do Chipre, Ersin Tatar, anunciou o início da “segunda fase de nossa expansão (plano) de Varosha”.

Poucos dias depois de sua vitória eleitoral em outubro de 2020, o nacionalista turco Tatar anunciou em Ancara a reabertura de Varosha, um distrito litorâneo que ficou deserto após a invasão do exército turco em 1974, que desde então assumiu o controle.

O anúncio surpreendeu os cipriotas gregos e também os cipriotas turcos, que o consideraram como uma demonstração da influência de Erdogan sobre Tatar.

O Conselho de Segurança da ONU já alertou sobre “qualquer ação unilateral que possa aumentar a pressão sobre a ilha”.

“A vida será retomada em Varosha”, defendeu o presidente turco nesta terça-feira, recomendando que os proprietários cipriotas gregos busquem uma compensação para a perda de suas propriedades.

O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, expressou sua “profunda preocupação” na terça-feira com a reabertura desta região fantasma.

“Nenhuma ação deve ser tomada em relação a Varosha que não esteja de acordo com essas resoluções. A UE responsabiliza o governo turco pela situação” no controverso distrito, disse o diplomata europeu.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, também reafirmou a “adesão da Rússia às resoluções da ONU” depois de falar com seu homólogo cipriota, Nikos Christodoulides, de acordo com o ministério russo.

A diplomacia grega chamou essas pretensões de “comportamento ilegal”.

O ministro das Relações Exteriores da Grécia, Nikos Dendias, viajará ao Chipre na quarta-feira para se encontrar com seu homólogo, o presidente cipriota Nicos Anastasiades, e o prefeito no “exílio” de Famagusta, onde fica o distrito de Varosha.