ROMA, 13 FEV (ANSA) – O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, alertou nesta terça-feira (13) as companhias internacionais contra a exploração de gás nas águas cipriotas, alguns dias depois de Ancara bloquear um navio da petroleira italiana Eni no Chipre.   

“Não pensem que as tentativas oportunistas de prospecção de gás natural ao largo de Chipre escapam à nossa atenção”, declarou Erdogan durante discurso em Ancara transmitido pela TV.   

Além disso, o chefe de Estado turco advertiu sobre a possibilidade de uma intervenção militar em Chipre e no mar Egeu para proteger os direitos do seu país na zona, da mesma forma que está fazendo na Síria.   

“Os nossos direitos no Mar Egeu e Chipre são para nós o mesmo que Afrine. Os nossos navios de guerra e a nossa Força aérea estão a seguir a situação de perto para concretizar qualquer tipo de intervenção”, acrescentou.   

No último domingo (11), o Chipre havia acusado militares turcos de obstruírem um navio contratado pela Eni de chegar a uma área de exploração de gás natural.   

Na ocasião, um porta-voz da petroleira italiana disse que o navio de perfuração Saipem 12000 ia de uma localização no Chipre para uma área a sudoeste da ilha na última sexta (9), quando foi parado por navios turcos e avisado para não continuar por causa de atividades militares na área de destino.   

Segundo a Turquia, certas áreas em alto mar na zona marítima do Chipre, conhecidas como zona econômica exclusiva (ZEE), caem na jurisdição turca ou dos turco-cipriotas. Os dois países não têm relações diplomáticas.   

Por sua vez, o presidente do Chipre, Nicos Anastasiades, disse que o governo de Erdogan violou uma lei internacional ao bloquear o navio e que o Chipre tomaria “medidas necessárias”.   

“Do nosso lado, nossas ações refletem a necessidade de evitar qualquer coisa que poderia escalar [a situação], sem, é claro, ignorar a violação da lei internacional cometida pela Turquia”, disse Anastasiades durante coletiva de imprensa em Nicosia.   

Quanto à Itália, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores confirmou que as autoridades turcas bloquearam o navio para que não seguisse sua rota.   

A Itália está acompanhando o assunto “em seu maior nível por meio de seus diplomatas em Nicosia e Ankara, e acompanhando todos os passos diplomáticos possíveis para resolver a questão”, disse o porta-voz.   

Já a estatal Eni garantiu que a embarcação vai permanecer parada até a solução do impasse. “O navio executou prudentemente as ordens e vai permanecer em posição à espera de evolução da situação”. Chipre está dividida desde 1974, quando as tropas turcas invadiram o terço norte da ilha numa reação a um fracassado golpe de Estado ultranacionalista que pretendia a união da ilha à Grécia. Cerca de 40 mil soldados turcos permanecem na República Turca de Chipre do Norte (RTCN), apenas reconhecida por Ancara.   

As explorações de gás conduzidas na ZEE pela República de Chipre, membro da União Europeia (UE) desde 2004, mas que apenas exerce a sua autoridade sobre 63% do território do país, estão na origem de um novo período de tensão com o governo turco, que exige a sua suspensão enquanto não for encontrada solução para a divisão da ilha. (ANSA)