Nele, o Rei Raposo não reinava como era de se esperar.
Ficava em seu palácio, recebendo membros da Nobreza, os Babuínos, e articulando como se defender no caso de uma eventual rebelião.
A rebelião, sabia o Rei Raposo, não viria do povo, as Hienas.
Viria da Nobreza mesmo, cuja principal função no reino era justamente negociar bananas com o Rei para – em troca – não derrubá-lo.
Manter tudo como estava era a meta.
Ou melhor, a meta era gerar uma dívida de mais de 150 bilhões em moedas de ouro.
E mesmo com uma situação tão grave nem Rei Raposo, nem Nobreza Babuína, cuidavam do reino, que estava jogado às traças.
As Hienas assistiam às atrocidades do Rei e da Nobreza como uma peça de teatro.
Riam a valer dos absurdos ou vaiavam como se não fossem elas próprias as vítimas.
Um povo que ria a valer, vaiava e pagava impostos. Só.
Como ninguém reinava mesmo, foram surgindo oportunistas.
Nobres decadentes, as Tartarugas, pagavam qualquer preço para se manter Nobres.
Nobres ambiciosos, os Pavões, pediam a cabeça do Rei, porque queriam assumir seu lugar.
Nobres canalhas, os Lagartos, roubavam de outros nobres usurpando qualquer ética.
E o povo ria a valer, vaiava e pagava impostos. Só.
Mas mesmo naquele reino podre existiam os Sábios, os Sapos Cururu.
A função dos Sapos Cururu, como os Sábios de qualquer reino, era aconselhar e decidir sobre o que era certo e o que era errado.
Ficavam lá, em volta do Lago, sentados em vitórias-régias, decidindo.
Condenavam Babuínos, Hienas e até o Raposo, caso não fossem honestos.
Só que o reino dessa história era tão podre, mas tão podre, que no meio dos Sapos Cururu tinha sabem o que?
Um Sapo Boi.
Não era desses sapos que viram Príncipe, não.
Esse era sapo que se beijar continua sapo mesmo.
Ficava sentado no meio dos outros Sapos e ninguém parecia estranhar aquela situação.
De lá era capaz de emitir suas curiosas decisões como todos os outros Sábios, que apenas olhavam e bocejavam.
Por exemplo, um Sábio mandava prender daqui, o Sapo Boi mandava soltar de lá.
Um Sapo Cururu falava que sim, o Sapo Boi ia lá e falava que não.
E os outros Sábios coaxavam.
E a Nobreza e o Rei conchavavam.
E o povo ria a valer, vaiava e pagava impostos.
Um dia prenderam o Baratão, pai da Dona Baratinha.
Dona Baratinha era casada com o sobrinho da mulher do Sapo Boi, pense nisso.
Pior.
O Sapo Boi era padrinho do tal casamento.
A Nobreza e o Rei pararam de conchavar.
As Hienas pararam de rir e vaiar (mas não de pagar impostos, porque isso não podia).
Os Sábios pararam de coaxar.
Todos olharam para o Sapo Boi, curiosos para saber o que ele faria.
O Sapo Boi olhou em volta e num gesto amplo mandou soltar o Baratão, assim, como se nada.
Nessa hora você pode pensar que o castelo caiu ou que o reino ruiu.
Que nada.
Os Sapos Cururu voltaram a coaxar.
A Nobreza e o Rei voltaram a conchavar.
O povo voltou a rir a valer, vaiar e pagar impostos.
E o sapão, ó, nem aí.
Por que nesse reino, meu amigo, não tem final feliz.

 

As Hienas assistiam às atrocidades do Rei e da Nobreza como uma peça de teatro


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