O ex-Policial Militar Norberto Florindo Junior, de 55 anos, afirmou em depoimento que foi para “descontrair” seus alunos de um curso para policiais, que ele teria criado um “personagem fictício” que ensinava técnicas de tortura e chacina na empresa Curso AlfaCon. As informações são do Uol.

Norberto e o também ex-policial e sócio-fundador da empresa Evandro Bitencourt Guedes são investigados por ensinarem métodos de tortura a aspirantes e policiais em turmas de preparação para concursos. A denúncia contra os dois foi apresentada após a repercussão de trechos das aulas divulgados pela Ponte Jornalismo em novembro de 2019.

“Bandido ferido é inadmissível chegar vivo ao pronto-socorro. Só se você for um policial de merda. Você vai socorrer o bandido, como?! Com esta mão, você vai tampar o nariz e, com esta, a boca. É assim que você socorre um bandido”, afirmou Norberto em um dos vídeos.

No entanto, um ano e meio após o início das investigações, os trabalhos no 5º Departamento de Polícia da Aclimação, em São Paulo, não avançaram. Para o Ministério Público, o trabalho policial é “insatisfatório”.

Conforme as informações do Uol, o delegado Wilson Roberto Zampieri demorou quase um ano para pedir aos investigadores que fossem ao endereço de Florindo Junior para “efetuar diligências”. O depoimento do ex-PM só ocorreu em novembro de 2020.

“No intervalo da aula de 30 minutos, objetivando descontrair os alunos, ele criou um personagem fictício ‘capitão Norberto’ o qual apregoava que o bandido deveria ser tratado de forma enérgica, mas dentro da lei”, diz a transcrição do depoimento de Norberto.

À polícia, o ex PM disse ainda que “nunca disseminou a prática de tortura e nem de homicídios; que os exemplos eram histórias fictícias, onde o personagem agiu com rigor e rispidez”.

Até o momento, a delegacia não encontrou Guedes para depor. “Apesar de diversas diligências, não foi localizado”, afirmou a Secretaria Estadual da Segurança em nota ao Uol.

No inquérito do caso, o 5º DP informou que “em razão da pandemia, não foram expedidas intimações para comparecimento a esta distrital entre os meses de abril e agosto”. Em resposta, o promotor Roberto Bacal escreveu em 12 de novembro de 2020 que “o trabalho policial ainda está bastante insatisfatório para a análise completa dos graves fatos investigados” e pediu que o inquérito volte à delegacia para que tomem o depoimento de Guedes.

Procurado pelo Uol, Norberto agradeceu o contato, mas recusou entrevista. Guedes foi procurado por meio da AlfaCon, mas nenhuma resposta foi enviada. O delegado do caso também foi procurado, mas não respondeu a reportagem até o fechamento da matéria.