As recentes declarações do ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo são preocupantes. Andou dissertando sobre tudo, uma espécie tupiniquim de Deus e a sua obra. E suas palavras acabaram – pelo cargo que exerce – tendo enorme repercussão. Tudo indica que ele manterá este comportamento, que será nocivo para o governo. O chanceler deve se ater aos trabalhos – que não são poucos – afeitos à sua pasta. Opiniões exóticas, afirmações imprecisas e colocações infelizes somente criam problemas desnecessários, especialmente em uma conjuntura complexa como a que vivemos. E retira o foco das questões que são efetivamente relevantes.

O chanceler parece uma pessoa com boas intenções. Mas demonstra certa ingenuidade no trato de questões nacionais e internacionais. O reducionismo analítico é evidente. A busca incessante por adversários reais ou imaginários pode transformar o Itamaraty na Casa da Noca. Cabe ao ministro trabalhar para que o ministério retorne ao leito de instrumento para uma política externa que defenda os interesses nacionais. Rompendo, portanto, com o partidarismo antinacional das gestões petistas. Não cabe fazer o oposto do PT, ser uma espécie de anti-Celso Amorim. Desta forma simplesmente se invertem os sinais e se partidariza a política externa, repetindo o desastre do projeto criminoso de poder na esfera internacional.

O episódio da defesa da instalação de uma base militar americana no Brasil é um bom exemplo. De onde se originou a proposta? Quem a elaborou? Veio das Forças Armadas? Ou foi produto simplesmente de uma especulação, no caso, irresponsável? É intolerável tal proposta. As Forças Armadas imediatamente manifestaram sua oposição. Não é uma questão de transformar os Estados Unidos em um adversário, muito menos um inimigo. Não. Temos relações históricas com Washington. Vale recordar a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados. Também deve ser destacada a cessão da base de Natal no esforço de guerra contra o nazifascismo. Contudo, neste momento, a situação é radicalmente distinta. O Brasil tem seus próprios interesses estratégicos, e quer ter influência e presença militar no Atlântico Sul. Não cabe subserviência aos interesses norte-americanos, que, não necessariamente, são os mesmos do Brasil. Parodiando o próprio ministro, Araújo está entendendo o Brasil em inglês e esquecendo o português.

O reducionismo analítico é evidente. A busca incessante por adversários reais ou imaginários pode transformar o Itamaraty na Casa da Noca


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