A equipe que acompanha o novo presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, de 57 anos, no Conselho de Estado, revela uma lenta retirada da geração histórica, que conserva, porém, postos-chave para os próximos cinco anos.

O Conselho de Estado é formado por 31 pessoas: presidente, primeiro-vice-presidente, cinco vice-presidentes, um secretário e 23 membros, alguns dos quais lideram importantes organizações sociais, culturais, ou setores vitais do país.

– O histórico Machado

Além do próprio Raúl Castro (86), que deixa o Conselho de Estado, seu companheiro de armas José Ramón Machado Ventura, um histórico da Revolução (88 anos) e que era um dos vice-presidentes, também deixa o órgão, embora permaneça como segundo homem do Partido Comunista de Cuba (PCC).

Surpreendentemente, também deixam o Conselho contemporâneos de Díaz-Canel, dos quais se esperavam importantes atuações: Marino Murillo (57), arquiteto das reformas econômicas de Raúl Castro; e Mercedes López Acea (53), a influente primeira-secretária do PCC em Havana.

Tampouco estarão como membros o general Álvaro López Miera (74), vice-ministro e chefe do Estado-Maior das Forças Armadas; e Adel Yzquierdo (72), um militar reformado e atualmente ministro dos Transportes.

– Um afro-cubano polifacético

O novo primeiro-vice-presidente, Salvador Valdés, um afro-cubano de 72 anos, é aquele que joga em todas as posições, algumas delas opostas: máximo líder sindical e ministro do Trabalho.

Foi um dos anfitriões do então presidente americano, Barack Obama, durante sua visita a Cuba em 2016. Foi, desde 2008, um dos cinco vice-presidentes de Raúl Castro e membro do seleto Bureau Político do PCC. Fez carreira política nas estruturas do partido e na Central de Trabalhadores de Cuba em sua província natal de Camagüey (leste).

– Dois homens importantes

Ainda que sem cargos específicos, permanecerão no Conselho de Estado os atuais ministros das Forças Armadas, general Leopoldo Cintra Frías, e das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez. Ambos são membros do Bureau Político do PCC.

Cintra, de 76, incorporou-se aos 16 anos à guerrilha de Castro. Herói nas guerras de Angola e Etiópia, é muito popular entre os oficiais cubanos por seu caráter jovial e simples.

Com 60 anos completados em janeiro, nove deles como chanceler, Bruno Rodríguez, nascido no México, tem em sua conta duas importantes conquistas: um acordo de cooperação com a União Europeia e o restabelecimento das relações diplomáticas com os Estados Unidos.

Homem de sólida formação intelectual, evita o protagonismo e é capaz de usar uma linguagem dura, mas elegante e manter a compostura com os inimigos de Cuba. Cumpriu missão militar em Angola como oficial.

– 90 anos e adiante

A saída de Machado tem o contrapeso da permanência no Conselho do Comandante da Revolução Ramiro Valdés (85) como um dos cinco vice-presidentes.

Também permanece o comandante Guillermo García Frías, combatente da Sierra Maestra, que, aos 90 anos, ainda veste o uniforme verde-oliva.

– O médico da equipe

Roberto Morales, de 50 anos, é o único médico da novo equipe de governo cubano e estreia como um dos cinco vice-presidentes que acompanharão Díaz-Canel.

Ministro da Saúde desde 2016 e integrante do Bureau Político do PCC, chegou à política em sua terra natal Cienfuegos (centro-sul) transitando pelas estruturas administrativas dos serviços médicos e do partido. Em 2006, tornou-se primeiro secretário do PCC de Cienfuegos.

– A guardiã dos gastos

Gladys Bejerano, de 71, que se mantém entre os cinco vice-presidentes, também lidera a Controladoria Geral, que supervisiona os gastos do Estado.

Sua permanência em ambos os cargos enfatiza o interesse do novo governo em manter um estrito controle das finanças estatais e a luta contra a corrupção pública.

Bejerano e seus colaboradores da Controladoria se tornaram o verdadeiro terror de funcionários públicos corruptos, que foram enviados para os tribunais.

Ela tem três décadas de vida política dentro das estruturas do PCC.

– A mulher da água

Inés María Chapman, de 52, que preside o Instituto Nacional de Recursos Hídricos desde 2011, permanece no Conselho de Estado, agora ocupando uma das cinco vice-presidências.

À frente do instituto, desenvolveu um reconhecido trabalho no aproveitamento dos escassos recursos hídricos da ilha, cujo déficit afeta duramente a população e as atividades produtivas.

Essa afro-cubana, engenheira hidráulica, fez estudos de especialização na Holanda e integra o Comitê Central do PCC.

– Produtora de cimento

Também afro-cubana, Beatriz Johnson estreia no Conselho de Estado em uma das cinco vice-presidências e, aos 48 anos, é a mais jovem de todos.

Engenheira química, trabalhou durante anos na indústria do cimento de Santiago de Cuba e chegou a dirigir a empresa pública Cementos Santiago.

No momento de sua eleição para o Conselho de Estado, era presidente (governadora) da Assembleia Provincial de Santiago de Cuba.

No total, são 13 pessoas que integram o Conselho de Estado pela primeira vez, entre elas a tricampeã mundial de lançamento de martelo Yipsi Moreno, de 37 anos.