Por Letícia Fucuchima e Gabriel Araujo

SÃO PAULO (Reuters) – A brasileira Equatorial Energia fechou a compra da distribuidora Celg-D, da Enel, pagando 1,58 bilhão de reais e assumindo dívida de 5,7 bilhões de reais, de acordo com fato relevante publicado nesta sexta-feira, o que encerra um processo aberto pela companhia italiana, que lutava para resolver problemas de qualidade no fornecimento em Goiás.

Com o novo ativo, a Equatorial, que tem forte atuação em distribuição no Norte e Nordeste, amplia as operações para uma nova região geográfica, adicionando à sua base mais de 3,3 milhões de clientes.

A Reuters havia reportado anteriormente que a Enel estava em conversações para se desfazer da Celg, a primeira de uma série de distribuidoras que foram privatizadas pela ex-estatal Eletrobras –o governo goiano chegou a ter fatia majoritária no ativo.

A aquisição da Equatorial vem na esteira de importante crescimento do grupo brasileiro nos últimos anos, que tem entre seus acionistas a Squadra Investimentos, Opportunity, BlackRock e o Canada Pension Plan (CPPIB).

Os últimos grandes movimentos da Equatorial em fusões e aquisições foram a compra da Echoenergia, marcando sua entrada no segmento de geração de energia renovável, e as vitórias nos processos de privatização das distribuidoras CEA (AP) e CEEE (RS).

O preço de aquisição da Celg-D poderá ainda ser acrescido de “earn-out” em função de pagamentos e recebimentos de contingências, nos termos do contrato.

O acordo prevê que a Celg-D pagará dívidas no valor de 5,7 bilhões de reais no prazo de até 12 meses após o fechamento da operação com a Equatorial.

A conclusão da operação junto à Enel está sujeita à aprovação pelo órgão antitruste Cade e pela agência reguladora Aneel.

Segundo uma fonte próxima à companhia, Equatorial e Enel já tiveram reunião com a Aneel para discutir o futuro da concessão de Goiás, uma vez que a Celg-D vinha tendo dificuldades para cumprir com as metas regulatórias de importantes indicadores de qualidade dos serviços.

Como mostrou a Reuters, o índice de duração de interrupções de energia, conhecido como DEC, da Celg-D não alcançou o patamar exigido no ano passado, e a empresa poderia perder a concessão se continuasse abaixo do exigido este ano.

Ainda não há nada fechado junto ao regulador quanto à renegociação de prazos para enquadramento desses indicadores, disse a fonte, acrescentando que a Equatorial vê “muito valor” na distribuidora, uma vez que há um montante elevado de investimentos realizados pela Enel nos últimos anos que ainda não foram incluídos na base de remuneração regulatória da distribuidora.

O governador de Goiás e candidato à reeleição, Ronaldo Caiado (União Brasil), comemorou no Twitter a venda da distribuidora anunciada nesta manhã.

“Agora, vamos acompanhar de perto a transição e os serviços da nova empresa. Com a chegada da Equatorial damos um passo fundamental para superar nosso problema de distribuição de energia elétrica e vamos colocar nossa economia para voar ainda mais alto”, escreveu.

BOM NEGÓCIO

A Equatorial negociava o ativo com exclusividade junto à Enel há cerca de um mês, disse a fonte.

Numa etapa anterior do processo de venda, o grupo Energisa também avaliou a compra da distribuidora. Inicialmente, as empresas EDP Brasil e CPFL também demonstraram interesse.

Em reação à notícia, as ações da Equatorial Energia disparavam mais de 7%, a 26,90 reais, às 12h27.

Analistas do J.P. Morgan avaliaram positivamente o negócio anunciado nesta sexta-feira, destacando o “bom preço”.

“Acreditamos que o negócio não apenas criará valor para Equatorial (1,5 real/ação ou ~5% do preços das ações), mas também reconstruirá o prestígio da alocação de capital da empresa junto à comunidade de investidores após a aquisição cara da Echoenergia no ano passado”, escreveram Henrique Peretti e Victor Burke, do J.P. Morgan.

Ainda segundo os analistas do banco, a consolidação da nova distribuidora no portfólio poderá levar a alavacangem da Equatorial de 3,3 vezes para 3,9 vezes, ainda abaixo do convenant de 4,5 vezes.

Para a italiana Enel, a transação deverá gerar um efeito positivo de cerca de 1,4 bilhão de euros em sua dívida líquida consolidada, disse o grupo em um comunicado.

Com a venda, o portfólio da Enel no Brasil passa a contar com três concessionárias de distribuição nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará, além de projetos de geração renovável (Enel Green Power) e de soluções inovadoras para o setor elétrico (Enel X).

Nota da Enel

A transação está em linha com o atual Plano Estratégico do Grupo Enel, uma vez que contribui para o objetivo de melhorar e otimizar constantemente o perfil de risco-retorno do Grupo e de sua base de ativos, com foco nos negócios prioritários. A venda da Enel Goiás está alinhada com a atual estratégia do Grupo Enel para Brasil, de focar o negócio de distribuição de energia elétrica em redes localizadas em áreas urbanas e aproveitar plenamente as oportunidades decorrentes da presença integrada do Grupo no contexto da transição energética, com o avanço da geração distribuída e das redes inteligentes nos próximos anos.

(Por Letícia Fucuchima e Gabriel Araujo; com reportagem adicional de Francesca Landini, em Milão)

 

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