O Equador ordenou, nesta quarta-feira (17), a suspensão do trabalho público e privado por dois dias, devido à crise energética causada por um déficit histórico nos reservatórios que abastecem as centrais hidrelétricas e que levou a apagões de até seis horas.

O presidente Daniel Noboa decretou a “suspensão da jornada de trabalho” na quinta e sexta-feira, informou a Presidência em um comunicado, alertando que a decisão não responde apenas “às circunstâncias ambientais”, mas a “atos inéditos de corrupção e negligência”.

Na terça-feira, o presidente declarou situação de emergência no setor elétrico e pediu a renúncia da então ministra da Energia, Andrea Arrobo.

Na terça-feira, devido aos racionamentos intempestivos do último domingo, Noboa confiou a pasta da Energia ao chefe dos Transportes e Obras Públicas, Roberto Luque, e ordenou uma investigação por suspeitas de corrupção que afetaria a produção de eletricidade.

As centrais elétricas farão manutenções em suas usinas na quinta e na sexta-feira, o que implicará racionamentos que serão anunciados oportunamente, acrescentou.

A Colômbia deixou de exportar energia para o Equador como medida para enfrentar a grave seca associada ao fenômeno El Niño, que deixa os reservatórios daquele país abaixo de 30% da sua capacidade.

– “Condições críticas” –

Perante a crise energética, Noboa indicou na terça-feira que em abril serão cobradas apenas 50% das contas de eletricidade das famílias.

O governo equatoriano informou nesta quarta-feira que os reservatórios de Mazar (o mais importante) e Paute, ambos no sul dos Andes, estão em “condições críticas”, com níveis de armazenamento de 0% e 4%, respectivamente.

Da mesma forma, o fluxo na maior usina hidrelétrica, Coca Codo Sinclair (norte da Amazônia), que atende a 30% da demanda nacional e gera 1.500 MW de energia, sofre um déficit de 40% em comparação com a média histórica.

As horas de trabalho serão recuperadas no setor público com uma hora adicional durante os dias úteis seguintes, enquanto no setor privado isso dependerá das empresas.

O Equador, com 17,7 milhões de habitantes, tem uma população economicamente ativa de 8,3 milhões de pessoas, de acordo com os números oficiais.

O governo disse que a investigação ordenada por Noboa, que assumiu o cargo em novembro para governar por 18 meses, encontrou “indícios de que funcionários de alto nível”, incluindo Arrobo, “ocultaram intencionalmente informações cruciais para o funcionamento do sistema nacional de energia”.

– Denúncia contra “sabotadores” –

O Executivo sustentou que “os avisos e alertas ao Comitê de Crise Energética foram suprimidos e desfeitos, de modo que essa grave situação não fosse conhecida para a tomada de decisões oportunas”.

Ele também apresentou uma queixa ao Ministério Público contra 22 “sabotadores que buscavam prejudicar todos os equatorianos” por paralisar o serviço público.

A crise energética ocorreu na véspera da consulta popular e do referendo de domingo, promovidos por Noboa e cujos eixos principais são a luta contra o tráfico de drogas. Cerca de 13,6 milhões de eleitores foram convocados para decidir, por exemplo, se concordam com a extradição de equatorianos ligados ao crime organizado.

“Eles tentaram nos ferrar com sabotagem no setor elétrico, tentaram nos ferrar com uma campanha suja (…) porque estão nervosos com a possibilidade de vitória do Sim”, disse Noboa nesta quarta-feira em um evento no resort de praia de Atacames, no noroeste do país.

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