O controverso plano britânico de enviar demandantes de asilo rejeitados para Ruanda, um país africano a 6.400 quilômetros de Londres, custaria cerca de 169.000 libras (1,02 milhão de reais na cotação atual) por pessoa, de acordo com uma avaliação de impacto do governo publicada nesta terça-feira (27).

O Executivo conservador do primeiro-ministro Rishi Sunak afirma que, ainda assim, economizaria, graças ao corte na ajuda aos demandantes de asilo. Assim como seus predecessores Liz Truss e Boris Johnson, Sunak – neto de imigrantes indianos – tem como prioridade reduzir a imigração para o Reino Unido, uma das grandes promessas do Brexit.

Seu governo quer proibir os pedidos de asilo daqueles que chegam ao país de forma irregular e enviar essas pessoas para terceiros países “seguros”, como Ruanda.

Uma avaliação de impacto publicada nesta terça pelo Ministério do Interior diz que o custo inicial de transferir uma pessoa para um terceiro país seria de cerca de £ 169.000, incluindo um pagamento de £ 105.000 (638 mil reais na cotação atual) para esse país, passagens aéreas e custos administrativos.

Prevê também uma economia em ajudas ao longo de quatro anos de £ 106.000 (644 mil reais na cotação atual) para cada solicitante de asilo transferido, que pode chegar a £ 165.000 (1 milhão de reais na cotação atual), se os custos de acomodação crescerem na taxa observada desde 2019.

O relatório especifica, no entanto, que estes são números “muito incertos” e que o plano deve dissuadir 37% do total de migrantes em condição irregular hoje para conseguir poupar recursos.

Com o programa polêmico, o governo britânico busca dissuadir os migrantes de fazerem a travessia, da costa francesa, de forma irregular e em pequenas embarcações. Essa é uma das rotas mais perigosas do mundo, devido ao grande tráfego de navios cargueiros, cujo número disparou nos últimos anos.

Mais de 45.000 migrantes chegaram irregularmente à costa inglesa em 2022, um aumento de 60% em relação a 2021.

O projeto de lei, que está sendo debatido no Parlamento, foi criticado pelo possível tratamento que os requerentes de asilo receberiam em Ruanda.

“Isso deixaria dezenas de milhares de refugiados incapazes de acessar a proteção a que têm direito sob a lei internacional”, afirmou o diretor da organização Refugee Council, Enver Solomon.

Anunciado por Johnson no ano passado, o plano foi bloqueado no último minuto pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) e continua envolvido em processos judiciais no Reino Unido, de modo que ninguém foi deportado até agora. Os juízes de Londres devem se pronunciar sobre sua legalidade na quinta-feira.

Defensores dos direitos humanos acusam Ruanda, governada com mão de ferro pelo presidente Paul Kagame desde o genocídio de 1994 que matou 800.000 pessoas, de suprimir a liberdade de expressão e a oposição.

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