Uma mulher negra que teve o pescoço pisado pelo soldado da Polícia Militar João Paulo Servato afirmou ao G1 que se sentiu injustiçada depois de saber da absolvição do agente. O caso ocorreu em 2020 durante uma abordagem policial no bairro de Parelheiros, na zona sul de São Paulo.
“Ser injustiçada assim é muito triste. Fiquei muito indignada. Fui trabalhar sem chão. Cada dia que passa, a gente fica cada vez mais envergonhada de ser brasileira”, relatou a mulher, que preferiu não se identificar.
Um conselho de sentença formado por um juiz civil e quatro oficiais da Polícia Militar decidiu na terça-feira (23) pela absolvição do soldado.
Além dele, o cabo Ricardo de Morais Lopes, que era seu parceiro no dia da ocorrência, também foi julgado e absolvido. O cabo respondia pelos crimes de falsidade ideológica e inobservância de regulamento. Já João Paulo Servato tinha sido denunciado pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) pelos crimes de lesão corporal, abuso de autoridade, falsidade ideológica e inobservância de regulamento.
“Eu acho que ele (policial João Paulo) precisa de um tratamento. Não merece usar farda da Polícia Militar. Têm policiais bons que honram a farda. Mas, infelizmente, há os que não honram”, disse a mulher.
O advogado Felipe Morandini, que representa a vítima, informou que vai recorrer da decisão. “Vou lutar até o fim para algo a meu favor. Não precisava ter agredido meu pescoço, pisado nas minhas costelas. Ele merece punição. Se a gente não lutar pelos nossos direitos, quem vai lutar?”, questionou.
Procurado, o advogado João Carlos Campanini, que representa os dois policiais, afirmou que os seus clientes não cometeram crime.
A Justiça Militar marcou uma nova audiência para o dia 30 de agosto, na qual deve ser feita a leitura e publicação da sentença.
Relembre o caso
A agressão contra a vítima ocorreu no dia 30 de maio de 2020 em um bairro no extremo sul da cidade, mas só obteve uma repercussão depois que a TV Globo teve acesso às imagens e divulgou uma reportagem no dia 12 de julho de 2020 sobre a agressão.
Nas imagens, gravadas com celular, é visível que um dos policiais apoiou seu pé esquerdo sobre o pescoço de uma mulher, que teve a sua boca pressionada no chão. Ela foi abordada após tentar defender um amigo que estava sendo agredido pelos agentes de segurança.
Em um determinado momento, o policial levanta seu pé direito e parece distribuir todo o seu peso do corpo para o pé esquerdo, que está apoiado sobre o pescoço da mulher. Em seguida, o agente da Polícia Militar arrasta a mulher pelo asfalto, entre outras violências relatadas, nem todas registradas no vídeo.
De acordo com o governo de São Paulo, os policiais foram afastados de suas funções e estão sendo investigados. “As cenas exibidas no Fantástico causam repulsa. É inaceitável a conduta de violência desnecessária de alguns policiais” tuitou João Doria, que era governador do estado de São Paulo na época.