A apresentadora Eliana, 52 anos, gerou grande repercussão ao publicar em suas redes sociais um vídeo reunindo críticas recorrentes que recebe sobre idade, corpo e aparência física. No compilado, frases como “engordou muito”, “tá velha”, “olha a barriga” e “está parecendo uma caveira” escancaram o tipo de cobrança contraditória que, segundo ela, recai sobre mulheres públicas em diferentes fases da vida.
A postagem viralizou e abriu espaço para um debate mais profundo sobre padrões estéticos, envelhecimento feminino e os impactos da violência verbal na saúde mental.
A discussão ganha ainda mais relevância em setembro, mês dedicado à prevenção do suicídio. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que mais de 700 mil pessoas cometem suicídio a cada ano, e a pressão estética está entre os fatores que podem contribuir para o sofrimento psíquico, especialmente quando associada a críticas públicas e exposição constante nas redes sociais.
Para a psicanalista *Jhulie Campello, especialista em comportamento, o caso de Eliana traduz uma ferida coletiva: a dificuldade da sociedade em lidar com o envelhecimento feminino. “Na psicanálise entendemos que o corpo é o primeiro lugar de identidade. O envelhecimento feminino toca em feridas coletivas porque, historicamente, a mulher foi associada ao ideal de beleza, juventude e fertilidade. Quando o corpo envelhece, ele confronta a sociedade com a própria finitude e a quebra de um padrão ilusório de perfeição. Em vez de enxergar a maturidade como potência, muitos reduzem a mulher à aparência, e isso revela mais sobre a dificuldade social em lidar com o tempo do que sobre a mulher em si”, explica.
Outras personalidades já passaram por situações semelhantes. A cantora Madonna, aos 66 anos, frequentemente é alvo de ataques nas redes por sua aparência, enquanto atrizes brasileiras como Claudia Raia e Susana Vieira também relatam críticas ao envelhecimento. Esses episódios reforçam a lógica de cobrança desigual que recai sobre mulheres em posição pública.
O problema, segundo Jhulie Campello, não se limita a um desconforto estético. Ele afeta diretamente a autoestima e a identidade. “Na psicanálise chamamos isso de ‘olhar do outro’. Uma pessoa pública já está exposta a um excesso desse olhar. Comentários depreciativos podem fragmentar a identidade, porque minam a sensação de valor próprio. É como se a pessoa fosse obrigada a se enxergar pela lente distorcida da crítica, o que pode enfraquecer a autoestima e provocar um vazio interno”, afirma.
O limite entre opinião e violência psicológica também precisa ser traçado. “Opinião é a expressão das nossas crenças. Mas quando essas crenças carregam a intenção de diminuir, controlar ou ferir, deixam de ser opinião e passam a ser violência. A palavra tem peso: pode construir, mas também destruir”, completa.
Um estudo da Universidade de Calgary, publicado em 2023, apontou que vítimas de cyberbullying apresentam risco duas vezes maior de desenvolver sintomas depressivos e ansiosos. O alerta se conecta ao Setembro Amarelo, quando especialistas reforçam a importância de identificar sinais de adoecimento psíquico. “O bullying virtual amplifica o sofrimento porque invade o espaço íntimo: a agressão chega pela tela a qualquer hora. Isso intensifica sentimentos de inadequação, solidão e desesperança. Quando acumulados, podem ser gatilhos para crises emocionais graves, inclusive para ideias suicidas”, destaca a psicanalista.
Jhulie Campello reforça que pedir ajuda é essencial. “Alguns sinais são claros: perda de prazer nas atividades, busca por isolamento, pensamentos recorrentes de autodepreciação, distúrbios do sono ou da alimentação. Quando a crítica externa começa a se transformar em noção de si, aquela sensação de ‘eu realmente não sou suficiente’, é um alerta urgente de que a psique está adoecendo e buscar ajuda psicológica é fundamental”, orienta.
No campo da psicanálise, a estratégia é ressignificar a relação com a própria imagem. “O trabalho é para que a pessoa se reconcilie com sua verdade interna, e não com o olhar do outro. Reconhecer a dor, compreender que a crítica muitas vezes é projeção da fragilidade do outro, reconstruir a autoestima a partir de valores internos e transformar a experiência em potência. Essa é a construção possível”, conclui.
Confia a publicação de Eliana no Instagram clicando aqui.

Eliana Reprodução/Instagram.