SÃO PAULO, 11 JUN (ANSA) – Por Beatriz Lia – “Nós precisamos do cinema. E de um cinema de qualidade, porque isso é bom para o crescimento de um país”, afirmou o célebre diretor de fotografia italiano Vittorio Storaro, em entrevista à ANSA.   

Mais conhecido por “mago da luz”, apesar de acreditar que suas produções não têm nada de “mágico”, mas sim muito “profissionalismo”, Storaro está no Brasil desde a semana passada para a promoção de dois eventos.   

O primeiro deles ocorreu na última quinta-feira (7), no terraço panorâmico do Consulado Geral da Itália no Rio de Janeiro, que exibiu o filme “”Il Té nel Deserto”, que lhe rendeu o Oscar de “melhor fotografia”.   

Além disso, Storaro inaugurou no último sábado (9) a exposição “Escrever com a luz”, no Museu de Arte Moderna do Rio, com 115 imagens de seus principais trabalhos e 41 obras de arte nas quais se inspirou.   

“Estou muito contente pela mostra porque ela vem da publicação de uma trilogia de livros que preparei por trinta anos que não são sobre mim. São sobre a pesquisa da filosofia da visão que apliquei em tantos filmes”, explicou.   

Vencedor de três prêmios Oscar, Storaro é o responsável pela fotografia de filmes como “Apocalipse Now”, “O Último Imperador” e “Reds”. Ele tem como principais inspirações para suas produções as pinturas de Caravaggio, Leonardo da Vinci e Michelangelo. Confira a entrevista com Storaro: ANSA: O senhor já havia visitado o Brasil? Vittorio Storaro: Sim, eu vim para cá um ano atrás para um festival de cinema que participei por alguns dias.   

ANSA: O que o senhor acha do cinema brasileiro? Storaro: Desculpe-me, mas infelizmente eu não conheço o cinema brasileiro. Sinto muito mesmo, porque o cinema de uma nação é espelho de sua cultura, sociedade, inteligência e de sua história.   

ANSA: E que o senhor acha do cinema italiano? Storaro: Nos últimos anos, eu tenho trabalhado mais no exterior que na Itália, e eu não faço filmes com tantos diretores…   

Desde o início, eu selecionei ou fui selecionado por apenas alguns cineastas. Do cinema italiano eu conheço Luca Ronconi, Giuliano Montaldo. Mas, na verdade, meu portfólio mais criativo foi com Bernardo Bertolucci.   

ANSA: Além dos italianos, com quais diretores internacionais o senhor trabalhou? Storaro: Com o norte-americano Francis Coppola – e foi muito agradável poder dividir minha experiência italiana com os Estados Unidos. Além disso, trabalhei com Carlos Saura, do cinema espanhol, com um filme musical. Eu adoro a possibilidade de visualizar as imagens com a música, cria um ritmo inspirador para mim. E, nos últimos três anos, Woody Allen me chamou para fazer filmes com ele: “Café Society”, “Roda Gigante” e um que acabou de ser finalizado, a “A Rainy Day in New York”. Além disso, eu faço parte da Academia de Cinema Italiano, Europeu e dos Estados Unidos. A vida de academia também é muito boa, pois te permite colaborar em outras coisas além da direção, como encontros e seminários. Além disso, ressalta o quanto nós precisamos de cinema. E de um cinema de qualidade, porque isso nos ajuda a crescer.   

ANSA: Aqui no Brasil, o cinema e as artes em geral não são muito valorizados. Como poderíamos mudar isso? Storaro: Isso ocorre também na Itália. Uma vez, Francis Coppola me disse: “Vittorio, eu fico encantado com o número de grandes diretores que um país pequeno como a Itália tem hoje”. E, na ocasião, ele citou 50 diretores de alto nível. Hoje em dia, se me perguntam quais são os diretores que mais admiro, não consigo completar uma mão. Eu acho que esse projeto que está acontecendo no Rio de Janeiro [Semana do Cinema Italiano no Mundo], de chamar pessoas para assistir a um filme de Bernardo Bertolucci, inspirado em um livro, é uma boa iniciativa. (Continua)