Nome tradicional da indústria de software brasileira, a Tivit passou por uma transformação radical há dois anos, quando fez um spin-off de sua divisão de datacenters e passou a focar apenas em software e serviços. Com isso, a companhia aumentou a aposta em sua divisão de cloud.

“Hoje, a maior parte da receita da Tivit vem das áreas de cloud, digital e segurança”, conta Leonardo Piva diretor da área de Cloud da Tivit. Em entrevista à ISTOÉ, Piva fala sobre o atual momento da empresa no mercado de nuvem e detalha as estratégias de apoio a clientes no processo de migração. Confira.

Como você vê a evolução do mercado de cloud nos últimos anos?

Muito lá atrás, “quando tudo era mato”, havia um grande ceticismo em relação à nuvem. As grandes empresas resistiram em fazer esse tipo de movimento. Quem acabou indo primeiro em grande escala foram as empresas “cloud natives”, fintechs.

Depois dessa fase, houve um hype de migração massiva de ambientes ‘pesados’ de grandes empresas. E agora estamos numa fase em que os clientes que não foram, ou foram timidamente, estão reavaliando o que têm no momento em suas nuvens e como prosseguir.

O atual cenário de cloud é bastante dinâmico, com uso cada vez maior de estruturas multicloud e híbridas. Como a Tivit atua neste cenário?

Sabemos que a questão do multicloud é algo mais presente do que alguns anos atrás. Antigamente, quando começavam um projeto de migração, as empresas olhavam basicamente para um fornecedor de cloud.

Hoje não é mais assim. No nível de infraestrutura, já está tudo muito mais commodity. E os clientes trazem para nós questões mais sofisticadas, sobre recursos e custos de fornecedores de nuvem. Há muita conversa entre os clientes, muita troca de informação no mercado, áreas como FinOps para ajudar no controle dos custos.

Entrevista: Tivit aposta em nuvem híbrida para crescer no mercado
Piva, da Tivit: aposta em nuvens privadas e híbridas (Crédito:Divulgação)

Do lado dos fornecedores, há muitos incentivos para que os clientes entrem cada vez mais em suas plataformas. E isso também vira um fator de escolha na hora da migração. O mercado está aprendendo com isso e aproveitando os incentivos desses fornecedores para modernizar suas estruturas.

Do lado da Tivit, temos uma visão de flexibilidade na questão da nuvem. Se o cliente quer colocation, fazemos; se quer fazer uma migração mais rápida, fazemos; se quer remodelar aplicações, fazemos também; nuvem pública, privada etc.

Temos times para atender todas essas necessidades e parcerias com os grandes fornecedores globais de nuvem para a questão de infraestrutura. Temos também soluções nossas, como a OneCloud, justamente para facilitar a gestão de ambientes multicloud. Há mais de 10 anos oferecemos também nossa solução de nuvem privada, que tem mais de 100 clientes.

E temos ainda um objetivo de prover uma experiência de uso mais próxima do que é a de uma nuvem pública. Pois o mercado já se acostumou com isso. Não queremos competir com os grandes players desse setor, mas queremos dar a mesma experiência de uso.

No processo de migração para a nuvem, como a Tivit aborda a questão de quais aplicações devem ou não ser migradas?

Usamos muito a metodologia dos 6 Rs da migração. Fazemos uma avaliação do ambiente do cliente e aí então optamos pelo melhor caminho para cada aplicação. Em alguns casos é melhor aposentar a solução, em outros adotar uma migração lift-and-shift, em outros uma recodificação, em outros uma mudança de servidor/host. Temos um time de algumas centenas de desenvolvedores para apoiar os clientes nessas tarefas.

Não há uma receita pronta. Mas, de modo geral, ambientes com pouca oscilação de processamento acabam ficando em ambientes de nuvem privadas, ou locais. Já ambientes mais arriscados do ponto de vista do crescimento ou queda de uso de recursos tendem a ficar em nuvens públicas.

Mas como disse, não é uma regra. Atualmente há muitos incentivos dos grandes players de nuvem para a migração de aplicações pesadas, como ERPs. São aplicações com volumes monstruosos de informação, e os fornecedores de nuvem também querem essas aplicações em seus ambientes.

No ano passado, repercutiu o caso da 37Signals, que saiu por completo da nuvem. Qual a sua avaliação sobre esses casos de repatriação?

Quando lemos sobre repatriação, às vezes há exageros, do tipo “agora acabou a nuvem”. Mas não é bem assim. O que existem são movimentos pontuais de empresas que foram para a nuvem, e depois avaliaram que talvez não tenha sido da forma mais adequada.

E também entram aí processos de modernização, que por vezes exigem uma saída de uma nuvem para entrada em outro provedor, ou em ambientes privados.

Nesses processos de modernização entram cada vez mais as aplicações de IA generativa, certo?

Sim, vemos que, tanto no nível pessoal como empresarial, existem muitos testes e experimentações. Esses assistentes como o ChatGPT são úteis em um primeiro momento, para coisas muito simples. E creio que muita gente ainda está neste nível. Mas existe também risco de exposição de dados, de uso de informações sem as devidas proteções de segurança.

Creio que nestes últimos meses entramos em uma fase de maior aplicabilidade ao negócio. Aqui mesmo na Tivit criamos algumas soluções para tratamento de chamadas usando IA generativa. E treinamos os modelos para poupar tempo em algumas tarefas. Testamos outras aplicações que não se provaram úteis, mas em alguns casos vimos potencial.

Uma dessas soluções virou a Athena, uma assistente de IA generativa para o setor jurídico que já oferecemos ao mercado. Ela faz análises de processos e sugere caminhos para equipes de áreas jurídicas. Assim, nossa abordagem é sempre focar em tentar resolver os problemas de negócio, e não apenas nos limitarmos a conversas sobre a parte tecnológica.