01/10/2024 - 8:00
Gigante dos sistemas de ERP, a SAP fornece soluções para 99 das 100 maiores empresas do mundo. Muitos dos clientes, porém, possuem as versões on-premise das aplicações, que rodam em servidores gerenciados localmente. Já há alguns anos, a companhia tem feito esforços para migrar essas instalações para a nuvem. Para entender melhor como são essas conversas, entrevistei Alexandre Pereira, VP de Cloud ERP, RISE with SAP e SAP S/4HANA Cloud para America Latina e Caribe. No bate-papo, ele comenta sobre os argumentos da SAP para impulsionar a migração para a nuvem e o impacto das tecnologias de inteligência artificial nesse processo. Confira a seguir a conversa.
Muitos clientes da SAP investiram alto em sistemas on-premise com alto grau de personalização. Esses clientes podem simplesmente dizer que seus sistemas “estão rodando” e serem mais resistentes à ideia de migrar para a nuvem. Como a SAP lida com esses casos?
Sim, é verdade, essas situações ainda ocorrem. Nesses casos, nossa primeira observação é: “o seu time pode ser usado para agregar valor de negócio e não para manter o ERP de pé”.
O que é manter o ERP de pé? Para manter um sistema desse rodando, existem a infraestrutura, o sistema operacional, o banco de dados e depois o ERP. Todos esses sistemas exigem um time grande para atualização, instalação de correções de segurança etc.
Mas, no fim das contas, isso tudo é um pouco commodity. Qual o valor disso para área de negócio? Esses times não ajudam a aumentar receita, a diminuir custos, enfim. A empresa só está gastando recursos para manter aquilo de pé.
Por outro lado, o ERP é um sistema de missão crítica. Se ele para, a empresa toda para. Por isso, muitas empresas colocam muito esforço nisso. Afinal, a empresa não pode parar. Mas, se eu coloco toda minha energia nisso, deixo de focar em outras coisas, como inovação e geração de valor para o negócio.
Por isso, com a estratégia de nuvem Rise, nossa posição é: deixe toda essa parte de commodity conosco, e foque no que vai fazer diferença para o seu negócio.
A visão da SAP é: quero que o cliente entre em estado de inovação permanente com o ERP na nuvem. Pra começar, você está sempre na versão mais recente. O tempo de inovação dessa forma cai muito.
E como fica a situação dos clientes com ERPs mais antigos?
Temos muitos clientes que rodam nosso ERP em instalações próprias, com muito desenvolvimento interno, muitas modificações. E eles não conseguem evoluir. A SAP traz novos recursos, e eles não conseguem ter acesso. Por que a governança deles para manter o ERP ágil não funcionou.
O processo aí é mais longo. Mas a SAP tem caminhos para isso. O primeiro processo é “limpar” o ERP antigo. E há uma série de métodos para isso. Há por exemplo o que chamamos de uma arquitetura side-by-side. Ela consistem em no ERP do cliente e um ambiente de desenvolvimento rodando em paralelo, com APIs fazendo a comunicação entre os dois.
O cliente usa a API para tirar informações do ERP e jogar para o ambiente de desenvolvimento, fazendo nele uma série de inovações e mantendo a consistência dos dados. E isso prepara o ERP para um upgrade mais seguro.
Uma das dificuldades dos clientes para fazer o upgrade é justamente testar o novo ambiente, e esse método ajuda nisso. Um projeto de upgrade que duraria seis meses pode ser encurtado para algumas semanas.
Como fica a questão do custo nessas migrações? Pois o custo das instalações on-premise é relativamente previsível. Já na nuvem, em algumas situações, empresas acabam sendo surpreendidas com o tamanho da conta no fim do mês.
Nosso modelo de custo é bem previsível. No Rise with SAP, o cliente compra o ERP entregue como um serviço, ou seja, ele paga uma assinatura. O cliente basicamente contrata um número de licenças e uma capacidade computacional. Lógico, ele pode necessitar de mais licenças, ou mais capacidade. E isso negociamos. Mas a gestão da infraestrutura fica do nosso lado.
Temos contratos com os maiores players de nuvem do mercado, e todas as questões de bastidores da operação são resolvidas entre a SAP e esses fornecedores. Sabemos que cada cliente tem seu parceiro de nuvem preferencial, então pra nós é indiferente. Podemos levar o ERP dos clientes para qualquer uma das grandes nuvens do mercado.
Além disso, no modelo Rise with SAP temos uma equipe que ajuda o cliente a monitorar o uso da nuvem pelo ERP. Essa equipe pode alertar o cliente em situações como aumento repentino do consumo de memória, por exemplo. Então o cliente não fica sozinho na gestão do ERP.
Como a SAP atua na integração de recursos de Inteligência Artificial em seus produtos?
A nossa abordagem é Business AI. Nâo queremos criar um LLM para jogar na mão do cliente. Mas sim aproveitar o que já existe e, a partir dessas tecnologias, criar aplicações já voltadas para as diversas áreas de negócio.
Hoje temos um assistente digital em todas as soluções (Joule). Lá atrás na história da SAP, os usuários tinham que decorar comandos para fazer uma consulta simples. Posteriormente vieram os menus. No S4/HANA vieram os apps. A partir de agora, a interação do ser humano com a aplicação será via linguagem natural. nos próximos 10 anos veremos isso acelerar.
Mas tudo isso está sendo construído na nuvem de forma muito cuidadosa, pois estamos falando de tarefas de negócios, e não de usar um ChatGPT para saber alguma curiosidade.
A segunda fase desse projeto é criar cenários dentro da aplicação, ou seja, automatizar tarefas com uso de GenAI. E também entra aí a questão de identificar padrões, ou algo fora dos padrões, e alertar o usuário. E este tipo de recurso já começa a ser incluído dentro das aplicações.