Enviado a Boston (EUA) *
Nome que é praticamente sinônimo de software livre em empresas, a Red Hat aposta no open source desde os tempos dos CDs para instalar Linux. Essa estratégia continua no ‘novo mundo’ da IA, com soluções que integram as principais plataformas de nuvem – como AWS, Azure e Google Cloud – e suportam diversos modelos de IA e componentes de hardware de diferentes fabricantes.
Durante o Red Hat Summit, evento realizado em Boston no fim de maio, tive a oportunidade de bater um papo com Matt Hicks, CEO da empresa, sobre o impacto da IA no ambiente de trabalho, entre outros assuntos. Com uma visão otimista sobre o tema, Hicks afirma que a IA mudará completamente todos os segmentos, e que os profissionais terão que pensar em como usar a IA para aumentar sua produtividade, em vez de temer a nova tecnologia. Confira a entrevista a seguir.
Em sua fala no Red Hat Summit, você mencionou que a IA vai alterar radicalmente muitos fundamentos que hoje consideramos imutáveis. Que fundamentos são esses?
Bem, posso começar por minha própria experiência no setor. Sou engenheiro de software, e creio que sempre fui bom nisso. Hoje em dia não programo tanto, mas é disso que eu gosto, foi o que aprendi.
Mas hoje, quando olho para os recursos dos modelos de IA, de modo geral eles são melhores em programação do que eu. E de certo modo isso é algo que incomoda.
Por isso, tive que mudar minha mentalidade e entender que eu domino essa área, eu amo programar, mas o valor de escrever código agora é menor. Vai chegar a zero? Não sei. Mas agora eu sei organizar e orientar as ferramentas de IA para escrever programas melhores. Pois agora não estou mais amarrado a ter que escrever o código.
Nesta nova fase eu não escrevo mais aplicações, eu faço planos, e uso a IA para colocá-los em prática. Também uso IA para refinar o código, uso um modelo para checar o código gerado por outro modelo, um terceiro para documentar, outro para testar, e assim por diante.
Assim, o processo é completamente diferente. Não sei se gosto ou não, mas é poderoso. E isso vale para todas as áreas, vendas, RH e outras. As pessoas de modo geral tenderão a ser gestoras e orquestradoras de soluções de IA.
Sobre o eterno debate de software aberto x software fechado. Como você acha que isso ocorrerá no mercado de IA?
Posso quase garantir que haverá espaço para ambos. Hoje temos um ecossistema saudável de software livre, e também de software proprietário.
Na camada de infraestrutura, ou seja, de soluções de software que servem como ponto de apoio para os modelos de IA, creio que um ecossistema open source que consegue criar soluções em sequência tende a ser o melhor modelo para inovação e portanto ser o dominante. E é nessa camada que nós da Red Hat focamos.
Quando falamos da camada dos modelos de IA propriamente ditos, há muito debate. Mas creio que o ponto mais relevante é se você confia na interação com o modelo. Pouquíssimos desses modelos são abertos no nível de transparência normalmente aceito pela comunidade open source. E não há tantas empresas criando esses modelos, e elas gastam uma fortuna neles. Então, não sei se eles vão mudar essa estratégia. Assim, pelo menos no curto prazo, o modelo de software fechado deve ser o dominante.
Quando subimos uma camada, chegamos ao mundo dos agentes. E nessa camada acho que haverá de tudo um pouco. Haverá soluções proprietárias e de código aberto, como já existem hoje. No nosso caso, um dos focos será em apoiar o protocolo de código aberto MCP, voltado para conexão entre agentes de IA. Mas há também soluções como a Cursor, que pode ser vista como um agente e é fechada.
Uma pergunta mais específica sobre virtualização. Desde que a Broadcom comprou a VMware, há cerca de dois anos, esse mercado tem passado por mudanças. Houve aumento de preços e mudança na política de licenças do VMware, que é praticamente o padrão de mercado na área de virtualização. A Red Hat também possui soluções nessa área. Há conversas com clientes sobre este assunto?
Diria que, quer eu goste ou não, há duas conversas principais com clientes: virtualização e IA. O VMWare é uma plataforma muito tradicional, com décadas de mercado. E nesses casos elas já estão inseridas em qualquer orçamento de uma grande empresa. Mas aí o preço muda e isso cria um ponto de decisão importante, para determinar se aquela plataforma vale o preço mais alto.
Em paralelo, há uma oportunidade crucial para implementar IA, que no começo é algo caro. E em nosso caso temos as soluções para resolver ambos os problemas com a plataforma OpenShift. Então é uma grande oportunidade para nós. Não criamos essa oportunidade, mas temos nos beneficiado dela.
* O jornalista viajou a convite da Red Hat