Uma das empresas mais tradicionais da área de tecnologia, a IBM vem reforçando sua área de cloud, com foco em clientes de grande porte. Em entrevista à coluna, Rohit Badlaney, gerente geral de Produtos IBM Cloud e Plataformas Industriais, detalha a estratégia de nuvem da empresa. Ela inclui integração com produtos da Red Hat e implementação de recursos de IA do watsonx, entre outras soluções. Confira a seguir a entrevista.

A IBM vem apostando no conceito de nuvem híbrida há alguns anos. Poderia detalhar melhor essa estratégia?

Há três ou quatro anos, para ser sincero, não tínhamos uma estrutura de nuvem muito boa. Não tínhamos a estabilidade para atender da melhor forma nossos clientes corporativos de grande porte. Foi então que resolvemos realmente focar no que fazemos de melhor, que é atender esse tipo de empresa. E deixamos de lado a questão de virarmos mais um provedor de nuvem pública.

Assim, ao longo destes quatro anos, reforçamos nossos serviços voltados para clientes de grande porte, que são aqueles que a IBM tradicionalmente serve melhor. Nesse sentido, trabalhamos para ter os melhores serviços de nuvem híbrida.

Entrevista: IBM aposta em nuvem híbrida com IA
Rohit, da IBM: aposta em nuvem híbrida e com IA (Crédito:Divulgação)

Atualmente há muitas questões relacionadas à privacidade e segurança dos dados. Há cada vez mais legislações locais e regras internas de compliance que grandes empresas devem seguir. Minha equipe trabalha com os clientes para definir onde é melhor rodar aplicações e manter seus dados.

Se é um processo de alta necessidade de desempenho, muitas vezes recomendamos manter numa estrutura on-premise, em um mainframe. Já aplicações de frontend podem ir muitas vezes para a nuvem pública, o que pode ser o caso também de algumas aplicações internas de backoffice. Mas ao pensar nessa arquitetura é necessário determinar onde ficam os dados. Pois mover dados para lá e para cá de forma desorganizada não ajuda em nada o cliente.

Recentemente fizemos um projeto com um dos maiores bancos da Espanha. Eles têm cerca de 3 mil aplicações. Então em conjunto com eles definimos quais rodariam on-premise, quais migrariam para a nuvem em modo lif-and-shift, quais seriam modernizadas, quais seriam criadas já diretamente em ambientes cloud, e assim por diante.

E no nosso caso temos camadas de criptografia para assegurar que nós, como fornecedores de plataformas em nuvem, não tenhamos acesso direto aos dados. E isso é fundamental para os clientes, que podem informar às agências reguladoras de dados que estão cumprindo as exigências locais de privacidade. Realmente acreditamos que nossa nuvem tem o maior nível de governança de dados do mercado.

Também trabalhamos em conjunto com organizações internacionais de regulação de finanças. Assim, quando nossos clientes entram em nossa nuvem, eles já entram automaticamente em conformidade com uma série de regulações. E isso resulta em mais agilidade para implementar suas aplicações.

Sobre a Red Hat, como ela se encaixa na estratégia de nuvem da IBM?

Já temos há alguns anos o OpenShift, que é uma plataforma que criamos em conjunto com a Red Hat. E podemos usar essa plataforma para estender os recursos da IBM Cloud até as bordas da rede.

Por exemplo, se temos nossas aplicações principais na região da IBM Cloud em São Paulo, mas desejamos executar um desses programas localmente na Argentina, usamos a plataforma da Red Hat para fazer isso. Esse é um recurso importante pois alguns clientes, por questões de soberania de dados, preferem executar algumas soluções localmente. E também estamos estendendo a plataforma OpenShift para integração de aplicações de IA da plataforma watsonx.

Como a IBM vê o impacto da IA generativa (GenAI) nas plataformas de nuvem?

É um momento interessante do mercado e há muita badalação em torno do termo GenAI. A estratégia da IBM é ir além dessa badalação e focar em casos de uso aplicáveis para grandes empresas. Por isso, concentramos nossos esforços em algo em torno de 10 casos de uso mais comuns em grandes companhias. E é isso que vamos levar para o mercado, soluções para indústrias específicas.

Em termos de produtos, temos o watsonx, que na verdade é uma família de produtos de IA, com uso e nuvens híbridas e ambientes multicloud. O watsonx é a plataforma por meio da qual os clientes têm acesso a modelos de linguagem, data lakes e outros componentes usados em soluções de IA. É a partir destes recursos que criamos produtos como chatbots, voltados para diferentes áreas de negócio.

Na área de modelos de linguagem, temos nossa família de LLMs IBM Granite. Eles são oferecidos dentro do watsonx. Uma parte desses modelos passou a ser oferecida também em regime de código aberto neste ano.

A maior parte das grandes empresas trabalha hoje com ambientes multicloud, distribuindo aplicações em nuvens de diferentes provedores. Como a IBM atua nestes casos?

A IBM é uma empresa de nuvem híbrida e multicloud. Então, se algum cliente tem processos em nuvens como Azure, AWS ou outras, tudo bem para nós. Citando o exemplo do banco espanhol que falei anteriormente, eles trabalham com Azure, Google Cloud e outros. Mas estão na IBM Cloud pois ajudamos também com a estratégia de nuvem, não só com as soluções de hardware e software.

De modo geral, recomendamos ambientes multicloud para nossos clientes. Até para evitar que eles tenham apenas um fornecedor em caso de falha. Isso é um problema para órgãos reguladores em alguns setores da economia.