Nos últimos anos, a corrida para a nuvem deixou de ser apenas uma tendência tecnológica para se tornar uma questão estratégica para empresas de todos os setores. Mas o que parecia um caminho único da migração em massa para a nuvem pública deu lugar a um cenário mais sofisticado, composto por arquiteturas híbridas e abertas. Para entender um pouco mais sobre essa mudança para a nuvem híbrida, conversamos com Rodrigo Magalhães, especialista técnico em cloud da IBM. Na entrevista, ele argumenta que o conceito de “nuvem híbrida por design” é a melhor forma de unir inovação, segurança e flexibilidade em ambientes de infraestrutura de dados. Confira o bate-papo a seguir.
Para começo de conversa, pode dar uma visão geral sobre nuvem híbrida? Muitas vezes existe confusão desse conceito com o de multicloud. Como a IBM vê o conceito de nuvem híbrida e como você vê a evolução desse mercado?
Rodrigo Magalhães: Houve um movimento muito forte de ida para a cloud há uns quatro ou cinco anos, em que praticamente todo mundo queria consumir cloud, era a moda. Depois, começamos a ver o movimento contrário: muitas empresas que migraram para a cloud encontraram desafios e passaram a repatriar aplicações.
A nuvem híbrida surge justamente para permitir que a tecnologia seja usada independentemente de onde esteja. A nuvem híbrida engloba o conceito de multicloud, pois atua também no estudo dos pontos fortes de cada provedor de nuvem pública e na distribuição das aplicações entre eles, além de incluir as alternativas de hospedagem local (on-premises). O híbrido combina tudo isso.
E quais são os principais desafios para as empresas que querem adotar essa estratégia?
Magalhães: Durante a pandemia, houve uma adoção muito rápida de nuvem. Era o que chamamos de “híbrido by default”, ou seja, era preciso ir para a cloud de qualquer jeito. Mas muitas vezes isso foi feito sem pensar em uma estratégia abrangente.
Hoje, falamos em “Hybrid by Design”: desde a concepção da aplicação, pensamos em segurança, escalabilidade, flexibilidade e conformidade. Olhamos o portfólio como um todo, não apenas uma aplicação isolada. Essa visão exige automação, gestão centralizada e uma visão estratégica adequada. Outro ponto fundamental é evitar lock-in, ou seja, dependência excessiva de um só fornecedor. Por isso, se olhamos para bancos de dados, 90% das soluções da IBM são baseadas em plataformas abertas, como PostgreSQL, MySQL, MongoDB. Assim, buscamos oferecer soluções que garantam flexibilidade para mover dados entre nuvens ou para sistemas on-premises, se necessário.

Rodrigo Magalhães, especialista técnico em nuvem da IBM Brasil
Isso envolve também soluções da Red Hat e de outras empresas adquiridas pela IBM?
Magalhães: Exato. A Red Hat tem o OpenShift, que permite entregar uma arquitetura aberta em qualquer provedor de nuvem. Agora, em 2025, adquirimos a HashiCorp, que é muito forte em automação (com o Terraform) e segurança (com o Vault, solução de “cofre de senhas”). A IBM já usava esses produtos e, agora, eles passam a compor diretamente o nosso portfólio.
E como a inteligência artificial entra nessa equação?
Magalhães: Quem não está surfando a onda de IA generativa está perdendo competitividade. Mas a questão não é simplesmente “preciso ter um projeto de IA”, e sim qual problema se quer resolver. Muitas vezes a IA tradicional já resolve, como em um chatbot.
No modelo híbrido, a IA depende de dados organizados e bem estruturados. Temos ajudado clientes a organizar e integrar dados espalhados em diferentes sistemas. O WatsonX Data, por exemplo, permite criar um datalake descentralizado, mas consultável de forma integrada. O desafio é sempre a qualidade: alimentar a IA com dados irrelevantes pode comprometer o resultado.
E no setor financeiro, que é altamente regulado, como o conceito de Hybrid by Design é aplicado?
Magalhães: O ponto principal é a conformidade. A prioridade sempre é a localização do dado, já que muitas instituições não podem armazená-los fora do Brasil. A IBM tem várias ferramentas para ajudar com essas necessidades.
Uma delas é o Security and Compliance Center, que monitora conformidade em ambientes multicloud e permite gerenciar balanceamento de cargas, permissões e acessos em várias nuvens. Outra ferramenta é o Hyper Protect Crypto Services, um cofre de chaves criptográficas baseado em mainframe. Esse recurso garante que os dados permaneçam criptografados e inacessíveis até para a própria IBM em servidores aqui no Brasil ou fora. Assim, mesmo que em algum caso extremo o governo americano confisque os servidores, por exemplo, não há como acessar os dados sem a chave do cliente.
Além disso, temos no Brasil o que chamamos de região multizona, com três datacenters interligados. Também oferecemos o IBM Cloud Satellite, que leva a experiência de cloud para dentro do datacenter do cliente, de forma gerenciada.
Para fechar, como você resumiria o conceito de Hybrid by Design e a proposta da IBM para o mercado de cloud?
Magalhães: Hybrid by Design é um modelo arquitetural que garante segurança, automação, conformidade e flexibilidade de forma integrada. O objetivo é permitir que cada carga de dados rode onde fizer mais sentido para cada cliente. Nos últimos três anos, a IBM evoluiu bastante sua plataforma de cloud, ampliou o ecossistema de parceiros e diversificou as ofertas. Atualmente, nosso foco é atender grandes corporações com soluções completas, que vão desde infraestrutura básica até serviços de mainframe e IA generativa em cloud.