Entrevista: ‘IA não é só hype, diz presidente da Oracle Brasil’

Coluna: André Cardozo

Coluna que cobre temas como cloud computing, Inteligência Artificial e outras tendências do mundo da tecnologia. Editada por André Cardozo, jornalista com mais de 20 anos de experiência na cobertura de tecnologia

Entrevista: ‘IA não é só hype, diz presidente da Oracle Brasil’

Alexandre Maioral afirma que muitas empresas ainda esbarram em questões culturais ao adotar novas tecnologias

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Alexandre Maioral, presidente da Oracle no Brasil Foto: Divulgação

Desde o lançamento do ChatGPT no fim de 2022, a nova fase da inteligência artificial tem provocado debates intensos no mundo corporativo. De um lado, otimistas vêem nela um motor de produtividade. De outro, alguns ainda enxergam o fenômeno como um modismo. Para Alexandre Maioral, presidente da Oracle Brasil, o avanço da IA é inevitável. “Quem não entender as mudanças vai ficar para trás”, disse em entrevista a IstoÉ Dinheiro. Na conversa, Maioral comenta ainda a atual estratégia de negócio da Oracle Brasil e dá sua visão sobre o plano de incentivo à construção de data centers no País.

A inteligência artificial ainda divide opiniões no mundo corporativo. Há estudos que dizem que a adoção tem sido forte, outros apontam que ela ainda está atrás das previsões mais otimistas, principalmente quando consideramos o retorno sobre investimento (ROI). Qual a visão da Oracle sobre essa tendência?

Maioral: Recentemente tem havido muita discussão sobre uma suposta ‘bolha da IA’. Não acredito nisso. Creio que há sim uma forte demanda por essa tecnologia.

A maior resistência que vejo é de ordem cultural. Algumas pessoas ainda acreditam que a IA é só um hype. Já ouvi de pessoas da área de negócio frases como “já temos muito sucesso, chegamos até aqui, somos líderes, por que vou fazer diferente?”. Então há uma sensação de que a liderança será pelo resto da vida. Mas acredito que com os avanços recentes essa percepção vai mudar rapidamente. E quem não entender as mudanças vai ficar para trás.

O detalhe é que a IA tem que ser usada com propósito. Nossa orientação aqui na Oracle para os clientes é não fazer IA ´só por fazer´, ou seja, não criar projetos de IA apenas porque ´é bonito ou está na moda’. O foco deve ser sempre achar casos de uso que colaborem com o negócio da empresa, melhorando a produtividade e trazendo novas fontes de receita, ou aumentando a receita existente. Nesse sentido, essa adoção está sendo feita em etapas. Na primeira, temos sem dúvida mais produtividade e experiência melhor para os clientes. É nessa que muitas empresas já estão.

Pode dar algum exemplo?

Maioral: Posso citar aqui uma implementação simples, que é melhorar a experiência em plataformas de atendimento ao cliente. Aquela coisa de você ligar, passar 3 vezes o número do CPF, falar com vários atendentes. Isso é algo que já está sendo impactado, seja por meio de chatbots ou de modelos mais sofisticados de atendimento com IA. É um exemplo simples, mas que já impacta muita gente. E, do lado das empresas, reduz custo, tempo de atendimento e libera atendentes para realizar um suporte mais qualificado.

Como uma evolução desse modelo, algumas empresas já fazem a transcrição dos atendimentos. E a partir daí é possível aplicar IA para ter uma camada a mais de sofisticação, com análise de sentimento, palavras-chave etc. E já estamos evoluindo também para agentes virtuais que usam voz para conversar em tempo real com o cliente Esses agentes conseguem detectar sotaques e reagir instantaneamente.

A partir daí, começamos a entrar em um mundo de possibilidades, que aos poucos começa a se tornar realidade. É o potencial da IA para realmente transformar setores como saúde, agricultura, engenharia e outras áreas. Resumindo, creio que há muitas empresas já se beneficiando da IA. Mas muitas ainda meio perdidas, ainda na fase de ‘fazer por fazer’.

A Oracle entrou com algum atraso na corrida da nuvem pública e hoje ainda está longe dos líderes do mercado. Porém, nos últimos dois anos a companhia tem se tornado mais agressiva nesse setor, especialmente devido a contratos para fornecer infraestrutura para outras big techs. Como a Oracle Brasil se encaixa neste contexto?

Maioral: Não divulgamos dados de contratos por país. Mas é claro que a Oracle Brasil não tem os acordos bilionários firmados nos EUA, com empresas como OpenAI, TikTok, Meta, Microsoft e outras.

Mas, na América Latina como um todo, tivemos um forte crescimento da nuvem. Há três anos tínhamos 20% da receita vinda de nuvem, contra 80% da área mais tradicional de licenciamento de software de banco de dados. Hoje isso se inverteu: 85% da receita vem da nuvem. E já de algum tempo para cá a nuvem da Oracle não é só para grandes corporações. Temos uma grande quantidade de startups que vêm adotando a nossa plataforma.

Qual é a sua avaliação sobre o plano nacional de estímulo à construção de datacenters (Redata)?

Maioral: Vejo como um avanço, não apenas para a Oracle, mas para o Brasil. Atualmente, qualquer investidor na área de datacenters no Brasil tem que lidar com taxas e impostos muito agressivos. Nesse sentido, o Redata vem com uma redução de impostos relevante como parte da estratégia do governo de atrair investimentos. Isso tende a gerar uma série de benefícios, incluindo mais empregos, além de incluir o Brasil na rota das aplicações de inteligência artificial.

Então estamos nessa fase agora do detalhamento técnico. E há perguntas a serem respondidas. Ainda é necessário definir se o plano vai valer apenas para hyperscalers do setor de cloud, ou para qualquer empresa que exporte hardware. Há também detalhes na questão do percentual de cargas de dados nacionais que devem rodar nesses datacenters, assuntos relacionados a investimento em educação. São alguns dos detalhes que ainda estão sendo acertados. Como outras empresas do setor, estamos acompanhando esse detalhamento de perto.