Empresa com décadas de tradição na fabricação de chips, a AMD foi encarada durante muito tempo como uma concorrente menos relevante da Intel. O cenário, porém, vem mudando. De alguns anos para cá, a empresa vem ganhando terreno tanto em processadores para notebooks e desktops quanto para servidores, No segundo caso, a AMD atingiu sua maior fatia histórica de mercado no fim de 2024, com 34% das receitas totais deste mercado.
Para entender melhor como a empresa opera no mercado B2B no Brasil, conversamos com Alexandre Amaral, diretor de Vendas de Data Center e Cloud da AMD Brasil. Confira a seguir a conversa.
A AMD já é um nome muito conhecido na área de chips para computadores e notebooks. Como é a atuação da empresa no mercado de processadores para servidores?
Amaral: Nosso principal produto para servidores está na linha de chips Epyc. Ela foi lançada em 2017 juntamente com uma arquitetura de chips completamente nova, batizada de Zen.
A partir daquele momento, a AMD começa a ganhar terreno no mercado de servidores, datacenters e instalações de cloud, incluindo aí os hyperscalers da nuvem, empresas como AWS, Microsoft e Google.
Aqui no Brasil, começamos a reforçar as apostas neste segmento em 2021. Foi quando a Dell, uma de nossas parceiras, iniciou a fabricação local de seus servidores com processadores AMD. Sabemos que, sem fabricação local, não há benefícios fiscais e o produto perde competitividade e fica mais caro. Então essa iniciativa em conjunto com a Dell foi importante para nós.
Depois da Dell, a Lenovo começou a fabricar localmente com nossos chips no início de 2022. E mais recentemente a HPE, neste ano de 2025. Além desses três parceiros, temos também a SuperMicro, que fabrica localmente por meio de uma parceria com a Positivo.
Como enxerga o atual mercado de datacenters no Brasil?

Alexandre Amaral, diretor de Vendas de Data Center e Cloud da AMD Brasil
Amaral: Vemos o momento atual como uma oportunidade gigantesca. Pois boa parte do mercado brasileiro ainda não conhece o Epyc, apesar de o produto já estar no mercado há alguns anos.
Além dos players de nuvem e de datacenters, trabalhamos com grandes empresas que mantêm suas próprias instalações on-premise. Um de nossos clientes é a Petrobras, com a qual fechamos um projeto gigante no ano passado. Temos o maior supercomputador da América Latina com a Petrobras, o Pegaso.
No setor público, temos também uma forte parceria de datacenter com o Banco do Brasil. Entre os bancos privados, trabalhamos com Bradesco e Itaú, entre outros, tanto em questões de nuvem pública como de nuvem privada.
Em telecom, trabalhamos com a Telefônica/Vivo e com a Claro. Estamos buscando todos os segmentos, pois acreditamos que temos um produto com custo e desempenho acima das outras ofertas do mercado.
Você mencionou um foco maior da atuação da AMD com chips Epyc no Brasil desde 2021. Como está essa operação?
Amaral: Gostaríamos que todas as empresas do Brasil conhecessem o Epyc, mas este ainda não é o caso. Por isso, estamos focados em um trabalho de divulgação do produto. Entendemos que ele é superior aos concorrentes nos quesitos de desempenho e uso de energia.
Temos uma série de iniciativas para aumentar o reconhecimento do Epyc. Entre elas estão eventos feitos em conjunto com os parceiros da área de servidores. E aí não miramos apenas os CIOs, mas também em gerentes de TI e engenheiros de software, ou seja, naquelas pessoas que lidam diretamente com os produtos.
Quais são os principais fatores que levam à compra de um chip para servidor?
Amaral: Quando conversamos com clientes, eles buscam basicamente três coisas. O primeiro fator está relacionado a desempenho e eficiência energética. E conseguimos em alguns casos reduzir em até 30% o consumo de energia com nossos processadores.
O segundo pilar é a consolidação dos datacenters. Com nosso processador Epyc de 192 núcleos conseguimos reduzir um conjunto de até sete servidores para apenas um servidor, dependendo do caso. O terceiro pilar está relacionado a aplicações de inteligência artificial. E estamos apostando também forte neste mercado.
Além do Epyc, temos a linha de GPUs Instinct, voltada especificamente para rodar aplicações de IA. Porém, atualmente é possível rodar uma série de aplicações de IA usando CPUs convencionais, que no nosso caso são os processadores Epyc.
Os grandes provedores de nuvem compram chips e servidores de diversos fabricantes. Como vocês atuam para tentar aumentar o uso dos seus produtos dentro das grandes nuvens?
Amaral: No caso dos grandes provedores de nuvem, a venda de modo geral é feita globalmente, e as próprias empresas então distribuem esses chips comprados para suas subsidiárias em vários países do mundo. Nosso trabalho aqui na AMD é conversar com o cliente final, não diretamente com o provedor de nuvem.
Posso dar um exemplo de como isso funciona. Não posso mencionar o cliente, mas, alguns anos atrás, um grande banco estava nesse processo de jornada para nuvem. Ele tinha muitas instâncias de processamento rodando em chips de um concorrente nosso, dentro de uma grande nuvem. Em conversas com esse cliente, mostramos os benefícios do nosso produto, que incluíam uma redução de custo de 7% a 25% no uso das instâncias. E este cliente passou a trabalhar conosco.
Dentro dos players de nuvem é fácil fazer essa transferência de carga de um chip para outro. Em poucos cliques é possível fazer essa mudança. Esse cliente foi migrando aos poucos, e pouco tempo atrás, já tinha mais de 60% das cargas na AMD.
A AMD fornece chips para os grandes provedores de nuvem. Como você enxerga o atual momento desse mercado?
Amaral: Vejo o mercado de nuvem cada vez mais partindo para um modelo híbrido nos próximos anos. Sabemos que muitas empresas foram agressivamente para a nuvem, e em alguns casos estão voltando pelo menos uma parte dessas cargas, montando estruturas híbridas.
E claro que o segundo fator aí é a questão da IA. Sem exagero, conversamos com mais de 300 clientes por ano nesses eventos. Vemos que muitos deles têm interesse em usar IA em suas estruturas, mas ainda estão estudando de que forma ela pode ser usada de forma produtiva em processos internos e serviços para o cliente.
No caso das grandes empresas, creio que já há uma estrutura melhor para desenvolver esses serviços. Então creio que eles já terão um impacto maior no curto prazo. Já nas empresas pequenas e médias estamos numa fase de exploração, quando falamos de IA. Então creio que nesses casos ainda levará um pouco mais de tempo.