ROMA, 28 DEZ (ANSA) – Por Marco Dell’Omo – A legislatura número 17 na Itália nasceu na incerteza e termina em uma incerteza ainda maior. Houve o “complô dos 101”, a ruptura com Enrico Letta, os mil dias de Matteo Renzi, a reeleição de Giorgio Napolitano, a chegada de Sergio Mattarella, a rejeição do “Italicum” e a derrota no referendo.   

Uma legislatura movimentada, mas que chegou a seu fim. Sua história começou com uma surpresa, mas que, para o Partido Democrático (PD), foi um balde de água fria. Os eleitores, contrariando as pesquisas, não fizeram vencedor Pier Luigi Bersani e premiaram o até então pequeno Movimento 5 Estrelas (M5S), que entrou na Câmara e no Senado aos gritos de “abriremos o Parlamento como uma lata de atum”.   

O tapa dos “grillini” em Bersani fez a legislatura começar cercada por uma perspectiva ruim, que torna-se péssima quando os 101 franco-atiradores (cujas identidades são desconhecidas até hoje) do PD negam a posse e a eleição do correligionário Romano Prodi como presidente da República.   

Naqueles dias de abril de 2013, parece que a legislatura será sufocada em si mesma. Mas as coisas tomam um caminho diferente: o PD e o Povo da Liberdade (ex e futuro “Força Itália”), de Silvio Berlusconi, fecham um acordo para reeleger Napolitano ao Quirinale (sede da Presidência), e os jogos, enfim, começam.   

No Palácio Chigi, sede do governo, no dia 28 de abril de 2013, chega Enrico Letta e seu governo apoiado pela centro-esquerda e pela centro-direita. Ele, porém, não completa um ano de governo.   

Tem o apoio transversal de Bersani, então no PD, de Berlusconi, e do ex-premier Mario Monti. Há a oposição feroz e sem alívio dos 5 Estrelas, mas que não preocupa o jovem primeiro-ministro.   

E Matteo Renzi está ainda quieto e espera seu momento.   

Mas as coisas mudam quando Berlusconi (estamos em agosto) é condenado por fraude fiscal: os ministros do PDL saem do governo, e a base aliada, mantida em pé por Angelino Alfano, dissidente do partido de Berlusconi, torna-se mais estreita. Em seguida, Renzi vence as primárias do PD e dá o golpe final: depois do já celebre #EnricoFiqueSereno, uma moção de desconfiança é aprovada e marca o fim do governo Letta.   

O mandato de Renzi (nascido em 22 de fevereiro de 2014) começa com números não muito blindados, mas o novo presidente do Conselho tem as costas protegidas graças ao “Pacto del Nazareno”, firmado com Berlusconi.   

Seu governo dura pouco mais de mil dias, ele faz um pacote de reformas que vão desde a trabalhista “Jobs Act” (que não agrada à ala mais à esquerda de seu partido) às uniões civis entre pessoas do mesmo sexo (que não agradam à direita). Tenta fazer uma lei eleitoral (a Italicum) que deveria garantir um vencedor seguro nas eleições, mas a Corte Constitucional a derruba.   

Durante o período de Renzi no Palácio Chigi, consuma-se a “caçada” do Senado contra Silvio Berlusconi. Por efeito da Lei Severino, o ex-premier, já condenado, não tem mais direito de ter sua cadeira no Senado. Mas o Força Itália luta e tenta demonstrar que a lei não pode ser retroativa.   

Para dirimir a questão, o plenário do Senado decide, em 27 de novembro de 2013, que Berlusconi deve dar adeus ao cargo. A Lei Severino também prevê a perda dos direitos de candidatar-se novamente para funções públicas. Sobre essa questão, é aguardado ainda um veredito da Corte Europeia de Direitos Humanos.   

Uma grande jogada de Renzi, no entanto, foi a eleição à Presidência de Sergio Mattarella. Napolitano, após dois anos a mais do que queria no cargo, com um governo sólido e a chegada de seus 90 anos, decidiu que precisava se aposentar.   

Como sucessor do “rei Giorgio”, Renzi propõe o nome de Mattarella. É um ex-ministro da esquerda democrata-cristã, que 20 anos antes abriu uma guerra contra Berlusconi. Por isso, o FI não quer o nome do jurista para o cargo.   

Renzi não hesita em romper o “Pacto del Nazareno” e faz com que o nome desejado seja eleito pelo Parlamento. Para o então premier, no entanto, o vento muda de direção no fim de 2016. O presidente do Conselho assume um alto risco com a reforma da Constituição, que prevê o fim do bicameralismo perfeito.   

Aprovada na Câmara sem os votos da oposição e da minoria do PD, a reforma não consegue passar no referendo popular do dia 4 de dezembro de 2016, quando é rejeitada por 60%. O duríssimo golpe contra Renzi faz com que ele renuncie.   

O último ato da legislatura é o governo guiado por Paolo Gentiloni. O ex-chanceler de Renzi começa discreto, depois perde o apoio do “bersaniani”, que deixam o PD, mas, de passo em passo, consegue conquistar seu espaço.   

Gentiloni está distante anos-luz dos fogos de artifício de Renzi e mantém certa autonomia de seu antecessor (como quando confirma no banco central italiano o nome de Ignazio Visco, que o PD queria mandar embora).   

Ele consegue aprovar a chamada lei do biotestamento, que legisla sobre o fim da vida (mas não consegue debater a do “jus soli”), controla o polêmico caso entre a ex-ministra e subsecretária da Presidência do Conselho, Maria Elena Boschi, e o banco popular Etruria e hoje é um candidato natural para um governo de grandes acordos no caso de problemas pós-eleitorais em março de 2018.   

Mas essa história ainda está para ser escrita. (ANSA)