Entre ameaças de Trump e reformas, presidente mexicana completa 100 dias de governo

Entre ameaças de Trump e reformas, presidente mexicana completa 100 dias de governo

A presidente mexicana Claudia Sheinbaum convocou seus apoiadores neste domingo(12) na Cidade do México para celebrar seus primeiros 100 dias no poder, marcados por ameaças do próximo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, violência relacionada às drogas em Sinaloa (noroeste) e mais de 10 reformas constitucionais.

Neste evento público, Sheinbaum, que se tornou a primeira mulher à frente do Executivo mexicano em 1º de outubro de 2024, fará seu primeiro relato de governo como presidente, um rito de passagem na vida política mexicana.

Observadores estarão atentos ao que ela tem a dizer sobre o futuro relacionamento com o presidente Trump, que tomará posse uma semana depois, em 20 de janeiro.

– Do “Golfo da América” à “América Mexicana” –

Diante dos ataques verbais iniciais de Trump, a líder de esquerda respondeu com uma mistura de diplomacia e firmeza.

Ela garantiu que terá um “bom relacionamento” com o magnata americano, que prometeu impor tarifas de pelo menos 25% às exportações mexicanas caso não contenha o “ataque de criminosos e drogas” e anunciou uma deportação em massa de migrantes.

Na sexta-feira, autoridades mexicanas informaram a descoberta de “um túnel em direção aos Estados Unidos” em Ciudad Juárez (norte), na fronteira com o Texas, onde migrantes esperavam cruzar para o outro lado do Rio Grande.

“O Ministério das Relações Exteriores foi informado para tomar as providências correspondentes com os Estados Unidos”, disseram as autoridades em um comunicado.

Nas últimas semanas, o México também anunciou duas apreensões de fentanil, a droga sintética que causa milhares de overdoses nos Estados Unidos.

No entanto, Sheinbaum respondeu ironicamente que os Estados Unidos deveriam ser chamados de “América mexicana” depois que Trump propôs esta semana nomear o Golfo do México como “Golfo da América”, entre várias provocações diplomáticas.

Diante da ameaça de deportação em massa, o governo mexicano está preparando um aplicativo com um “botão de alerta” para migrantes mexicanos que enfrentam prisão iminente.

– Popularidade, violência e “contenção” –

Três meses depois, a presidente de esquerda desfruta de uma popularidade ainda maior que a de seu antecessor e mentor, Andrés Manuel López Obrador. Segundo uma pesquisa de opinião realizada pela empresa Enkoll, 80% dos mexicanos aprovam, “muito” (51) ou “um pouco” (29), seu trabalho como presidente.

Os primeiros meses de seu mandato foram marcados por violentos confrontos entre duas facções do cartel de Sinaloa, que deixaram 651 mortos e 513 desaparecidos entre 9 de setembro e 31 de dezembro de 2024, segundo um balanço oficial citado pelo jornal La Jornada.

Na quinta-feira, o governo relatou uma “contenção” de homicídios em Sinaloa, com uma redução de 35% nos assassinatos entre outubro e dezembro.

– Reformas constitucionais –

Desde que Sheinbaum assumiu a presidência, o Congresso bicameral mexicano aprovou mais de 10 reformas constitucionais, graças à maioria obtida pelo partido no governo nas eleições gerais de 2 de junho de 2024.

Dessa forma, o Morena e seus aliados conseguiram fortalecer o controle estatal sobre o setor elétrico, reconhecer os povos indígenas e proteger a polêmica reforma judicial promulgada por López Obrador, que estabeleceu a eleição popular de juízes e desembargadores.

Além disso, uma iniciativa apresentada por Sheinbaum ao Congresso incluiu na Constituição a obrigação dos estados de criar promotorias especializadas em crimes contra as mulheres e a proibição da disparidade salarial entre gêneros.