Às seis da tarde da segunda-feira 23, Kate Middleton, a princesa de Cambridge, deixou a maternidade St Mary, em Londres, linda como sempre. De salto alto, pele rosada, carregava nos braços o terceiro filho, a quem havia dado à luz sete horas antes. Tirando o bebê miúdo e uma barriga um pouco fora do esquadro em se tratando de Kate Middleton, foi difícil de acreditar que aquela mulher havia entrado em trabalho de parto às seis da manhã daquele dia, passado pelo estresse do processo e saído daquele jeito, bela e elegante, horas depois.

NASCIMENTO Em resposta à imagem de Kate, mães exibiram retratos mais verdadeiros do pós-parto

Difícil porque essa situação não existe na vida real. O pós-parto é um período complicado, de cansaço enorme, olheiras, cabelo desarrumado coroando um corpo esquisito, ainda meio adormecido pela anestesia, que sangra sem parar e que se prepara para produzir… leite. Sem contar a tensão de ter passado por um ambiente estranho – quase sempre o parto é a primeira experiência de uma mulher em um hospital – e de ter sob responsabilidade uma vida nova com a qual a mãe, apesar de todos acharem o contrário, também não sabe como lidar.

Relação mais honesta

Por isso, não surpreende a reação das mulheres que, imediatamente à imagem idílica de Kate, responderam nas redes sociais com fotos de seus próprios pós-partos, desconstruídas como determina a realidade. A jornalista inglesa Nina Warhurst, por exemplo, exibiu-se ainda com os adesivos de eletrodos, acesso nos braços, comendo em cima da cama coberta apenas por um avental. Outras apareceram com rosto pálido, esboçando sorrisos que não escondiam o cansaço.

É preciso considerar que o trabalho da princesa é ser princesa. Faz parte de seus deveres manter publicamente uma postura impecável. Nada contra Kate, até porque não deve ser fácil levar o peso de perfeição que ela carrega. O que é notável e algo a ser comemorado é a reação feminina à ditadura do ideal representada pela princesa. As mulheres que escancararam a fragilidade de toda nova mãe integram um movimento cada vez mais forte de mostrar a maternidade como ela é, e não como disseram que ela deve ser. E ele é libertador, feminista na sua acepção mais pura. Permite que a mulher se livre do fardo imposto a ela de parecer feliz e satisfeita mesmo quando ela se sente exausta, feia, cheia de sentimentos ambíguos em relação ao bebê.

Até pouco tempo atrás, era proibido falar abertamente sobre o lado B da maternidade. Ao primeiro sinal de queixa, reprimendas recaíam sobre a mãe. Continua sendo difícil, mas aos poucos as mulheres estão quebrando a armadilha. Blogs, comunidades virtuais e reais crescem pelo mundo reunindo mães que falam o que não se podia falar e trocam experiências com base na sinceridade na abordagem de questões associadas à função. É um grande avanço. A relação da mulher com a maternidade fica mais honesta e humana. Portanto, mais verdadeira.