Por ser um suplemento, a melatonina é vendida livremente sem prescrição médica; substância é usada como indutor do sono.

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

A melatonina tem sido amplamente utilizada como indutor do sono em crianças e adultos – sem acompanhamento profissional na maioria das vezes, já que ela é vendida nas farmácias como suplemento e sem prescrição médica. Diante dos riscos do consumo abusivo, especialmente por crianças, a Associação Americana de Medicina do Sono (AASM) emitiu um alerta recomendando que os pais procurem um médico antes de darem melatonina para seus filhos.

Popularmente chamada de “hormônio do sono”, a melatonina é um neurohormônio produzido naturalmente pelo corpo humano e secretado pela glândula pineal, localizada na base do cérebro. Ela é responsável por regular o ritmo circadiano – o ciclo de vigília e de sono (relógio biológico).

O comunicado da entidade médica americana surgiu depois que o Centro de Controle de Doenças (CDC) percebeu um aumento expressivo de atendimento emergencial em prontos-socorros infantis por causa de superdosagens de melatonina ou intoxicação após o uso do suplemento. Os dados americanos mostram que o número de crianças que ingeriram involuntariamente o suplemento saltou 530% em 10 anos, sendo que mais de 4 mil casos resultaram em internação hospitalar.

Assim como no Brasil, a melatonina está regulamentada nos Estados Unidos como suplemento alimentar e está disponível nas prateleiras de supermercados e farmácias com menos supervisão do que um medicamento convencional. O problema é que ainda há poucas evidências da eficácia para o tratamento da insônia de crianças saudáveis – poucos trabalhos mostram possíveis efeitos benéficos em casos específicos, como alguns distúrbios do sono (transtornos do ritmo circadiano) ou autismo.

Além disso, a AASM destaca pesquisas que apontam que o teor de melatonina encontrada nas farmácias variou de menos da metade a mais de quatro vezes a quantidade indicada no rótulo. A entidade diz, ainda, que a maior variabilidade foi vista em gomas mastigáveis, geralmente mais usadas pelas crianças.

Segundo a neurologista Leticia Azevedo Soster, especialista em Medicina do Sono do Hospital Israelita Albert Einstein, o uso de melatonina tem se tornado mais frequente, embora não existam números oficiais sobre esse consumo no Brasil.

“Cada vez mais temos recebido essa demanda em consultório. Os pais nos procuram por causa dos distúrbios do sono da criança e dizem que elas fazem ou já fizeram o uso de melatonina por conta própria. Dificilmente chega um paciente que não fez uso da melatonina para consulta de questões de sono”, afirmou a médica.

Soster elogiou o alerta da entidade americana sobre os riscos do uso do suplemento sem acompanhamento adequado: “essa recomendação é muito correta. Todo tipo de automedicação deve ser evitada porque existem vários fatores que precisam ser considerados antes de prescrevemos uma medicação ou suplemento. Muitas vezes, ao acreditar que o suplemento é algo inócuo, leve, suave, a pessoa não leva em consideração alguns efeitos colaterais importantes”.

Principais problemas das crianças

Segundo a neurologista, as principais queixas dos pais são que a criança tem dificuldade de iniciar ou de manter o sono, o que acaba provocando despertares mais prolongados.

“Muitos acham que a o fato de a melatonina ser um hormônio relacionado à noite e ao período de repouso, consequentemente seria o hormônio do sono, o que não é verdade. Ele é do escuro e do repouso, não necessariamente do sono”, explica.

Como a melatonina é classificada como suplemento e não medicamento, ela não passa por todos os testes exigidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para aprovar um remédio no Brasil – por isso ainda não se sabe se há riscos a longo prazo.

“O que a gente sabe é que se a pessoa usa mais melatonina do que precisa, ela está simulando para o corpo que aquele momento é noite. O corpo cria o metabolismo da noite que pode ir se alongando ao longo do dia, deixando a melatonina circulante no sangue. É como se a pessoa tivesse induzindo um estado metabólico da noite durante o dia. E isso é um risco”, finalizou.

Fonte: Agência Einstein

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