Guilherme Amado Coluna

Coluna: Guilherme Amado, do PlatôBR

Carioca, Amado passou por várias publicações, como Correio Braziliense, O Globo, Veja, Época, Extra e Metrópoles. Em 2022, ele publicou o livro “Sem máscara — o governo Bolsonaro e a aposta pelo caos” (Companhia das Letras).

Entenda suspeitas que levaram Gilson Machado à prisão, reveladas pela coluna

Gilson Machado teria atuado para emitir um passaporte português em nome de Mauro Cid, delator

Gilson Machado
Gilson Machado Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A Polícia Federal prendeu nesta sexta-feira, 13, no Recife, Gilson Machado, ex-ministro do Turismo do governo Bolsonaro. O bolsonarista foi detido sob suspeitas de tentar obstruir a ação penal do golpe e atuar para tirar do Brasil o delator Mauro Cid. A coluna revelou as suspeitas da PF e da PGR na terça-feira, 10.

No documento revelado pela coluna, a PGR narrava ter sido informada pela PF que Gilson Machado tentou no último dia 12 de maio obter a expedição de um passaporte português em nome de Mauro Cid.

Segundo a informação da PF à PGR, a tentativa de Machado se deu por meio do consulado de Portugal no Recife e teria como possível finalidade viabilizar a saída de Cid do Brasil. O ex-ministro negou irregularidades.

A corporação disse ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, que Machado não conseguiu a emissão do documento. O ofício pontuou, porém, que seria possível que o ex-ministro busque alternativas junto a outras embaixadas e consulados com o mesmo objetivo.

A PF também lembrou à PGR que arquivos encontrados pelas investigações no celular de Mauro Cid indicam que, em janeiro de 2023, ele procurou um serviço de assessoria para obtenção de cidadania portuguesa. Nessa ocasião, Cid enviou imagens de sua carteira funcional, o comprovante de cidadania portuguesa de sua mãe e o passaporte português dela.

Diante das informações da PF, Paulo Gonet informou a Alexandre de Moraes na segunda-feira, 9, que concordava com a corporação sobre a abertura de uma investigação contra Gilson Machado por possíveis crimes de obstrução de investigação envolvendo supostos delitos de organização criminosa e favorecimento pessoal.

O PGR solicitou a Moraes busca e apreensão pessoal e domiciliar contra o ex-ministro e quebras de sigilo telefônico e telemático do bolsonarista no período entre 1º de janeiro de 2025 e 5 de junho de 2025.

Para Gonet, com base nas informações da PF, é possível que Machado “esteja atuando para obstruir a instrução da Ação Penal n. 2.688/DF [processo do STF que apura tentativa de golpe] e das demais investigações que seguem em curso, possivelmente para viabilizar a evasão do país do réu MAURO CESAR BARBOSA CID, com o objetivo de se furtar à aplicação da lei penal, tendo em vista a proximidade do encerramento da instrução processual”.

“Não obstante o que se colheu sobre a materialidade e autoria dos possíveis crimes investigados, a análise das informações reunidas pela Polícia Federal indica a necessidade de complementação das diligências investigavas, a fim de possibilitar um juízo adicional e mais abrangente sobre a autoria das condutas apuradas, especialmente em razão da provável possibilidade de que o requerido esteja empregando esforços junto a outras embaixadas e consulados com o mesmo propósito ilícito”, escreveu Gonet.

Gilson Machado negou à coluna na ocasião que tivesse ido ao Consulado de Portugal ou alguma outra representação diplomática em busca de um passaporte para Mauro Cid. Ele também negou que atue para tirar o delator do Brasil e afirmou que os registros de acesso ao consulado podem comprovar sua alegação.

“Não procede, não fui a Consulado de Portugal nenhum. Isso é muito fácil de resolver, de ver, é só você ir lá ver quem chegou no Consulado e quem não chegou”, disse Gilson Machado.

Depois da publicação da reportagem, Machado enviou à coluna uma nota em que afirmou ter entrado em contato com o Consulado de Portugal, por telefone, em maio, para tratar de um assunto pessoal.

“Reitero nessa oportunidade, que apenas mantive contato telefônico em Maio último, com Consulado Português, tão somente solicitando uma agenda para meu pai Carlos Eduardo Machado Guimarães renovar o passaporte, o qual foi feito após dita solicitação”, disse o ex-ministro.