Entenda sintomas e desafios do TEPT, doença mental que acomete Alec Baldwin

Dra. Paula Amorim Pessoa comenta sobre o tema em entrevista à IstoÉ Gente

Arturo Holmes / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP
Alec Baldwin attends SNL50: The Anniversary Special on February 16, 2025 Foto: Arturo Holmes / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP

O ator Alec Baldwin, de 66 anos, foi diagnosticado recentemente com TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático). Trata-se de uma consequência da tragédia no set do filme “Rust”, em 2021, quando o ator disparou uma arma, e que acidentalmente matou a diretora de fotografia Halyna Hutchins.

A emocionante revelação aconteceu ao lado de sua esposa, Hilaria Baldwin, durante o reality show “The Baldwins”. “Ele foi diagnosticado com TEPT, e ele diz em seus momentos mais sombrios, ‘Se um acidente teve que ter acontecido hoje, por que eu ainda estou aqui? Por que não poderia ter sido eu?’”.

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Em entrevista à IstoÉ Gente, a psicóloga e especialista clínica Paula Amorim Pessoa explica que o Transtorno de Estresse Pós-Traumático está diretamente ligado a “um evento que a pessoa viveu” e que é “muito significativo e traumático para ela”.

“Pode estar associado à morte, perda de pessoa e estupro. Após o trauma, o paciente vai começar a ter sintomas que o fazem sofrer constantemente”, afirma.

“Existem diversos tipos de sintomas. Existe a revivência: a pessoa já viveu o trauma, mas algo lembra aquela cena, daquela violência, a fazendo reviver o momento novamente. O cérebro não coloca a experiência como algo no passado, qualquer gatilho pode retomar aquilo”, completa.

Segundo a profissional, a culpabilidade também é fortemente encontrada em pacientes com o TEPT. Dessa forma, como no caso do ator, há os constantes pensamentos de “por que não fiz diferente” ou “por que eu ainda estou aqui?” são incontroláveis.

“A evitação também é um sinal frequente. Alguma luz parecida, o cheiro de algo a faz evitar ambientes que a lembrem do episódio do trauma. Também existe a desconexão, em que o paciente se ‘desprende’ do local, muitas vezes como se estivesse vendo um filme de fora”, diz.

Esses episódios podem estar associados à ataques de pânico, depressão e aumento de crises de ansiedade.

 

TOC

Antes dos eventos no set de “Rust”, Baldwin já tinha o diagnostico de TOC (Transtorno obsessivo-compulsivo), o que, segundo a esposa do ator, piorou depois da tragédia. Em relação a isso, a especialista explica que os dois transtornos podem ou não ter relação.

“Não é uma regra que a pessoa que tem TOC terá também o TEPT, mas é identificado uma associação de transtorno”, conta.

“Nos dois casos, é frequente a aparição de flashbacks do trauma, os pensamentos intrusivos, repetição de comportamento de alívio e isolamento social. Como ele já tinha o Transtorno obsessivo-compulsivo, isso vai se potencializar e se associar com outros distúrbios”, completa.

Tratamento

Não existe uma cura milagrosa para a causa. Paula aponta que a principal indicação para alguém que percebeu o desenvolvimento desse sintomas é procurar a ajuda de um psicoterapeuta.

“É necessário ampliar o repertório sobre o trauma para conseguir conviver. Também é preciso procurar um médico, especializado em psiquiatria, e que vai entrar com medicação para lidar com sintomas de ansiedade e depressão”, explica.

“O profissional ajuda a pessoa a entender o motivo do evento. Ele vai explicar para o paciente que ele não tinha controle para mudar o trauma, além de tentar ampliar o que o indivíduo viveu após o trauma e principalmente, a amenizar a culpa”, complementa.

Em muitos dos casos, o paciente reluta em buscar ajuda, seja por vergonha ou medo. Nessas situações, os familiares e amigos da pessoa diagnosticada precisam servir como uma rede de apoio, incentivando necessidade do tratamento adequado. Em relação a isso, a psicóloga pontua algumas ações que pessoas de fora podem tomar para ajudar o indivíduo.

“É necessário apoiar, acolher e principalmente, entender o tema [TEPT e o trauma] de forma adequada. Um toque físico, dizer ‘você não está sozinho’, o círculo de apoio, são essas coisas que fazem diferença. Não se deve criticar e reforçar comportamento de não querer procurar ajuda”.

** Estagiária sob supervisão

Referências Bibliográficas

* Paula Amorim Pessoa, CRP 6/96575, é psicóloga e especialista clínica, com especialização no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP.