Os militares chamados de “kids pretos” apareceram nas investigações da Operação Tempus Veritatis, deflagrada pela Polícia Federal na quinta-feira, 8, que apura tentativa de golpe de Estado, pois supostamente teriam a missão de prender o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. O ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército general Estevam Theóphilo, que foi um dos alvos da ação, seria o “responsável operacional” por arregimentar os agentes.

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“Além de ser o responsável operacional pelo emprego da tropa caso a medida de intervenção se concretizasse, os elementos indiciários já reunidos apontam que caberiam às Forças Especiais do Exército (os chamados Kids Pretos) a missão de efetuar a prisão do Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes assim que o decreto presidencial fosse assinado”, diz a decisão que autorizou a operação, a qual à ISTOÉ teve acesso.

Quem são so “kids pretos”

Os chamados “kids pretos” são militares da elite do Exército brasileiro e integram o Copesp (Comando de Operações Especiais) da corporação.

Esses militares são treinados para atuarem em ações de sabotagem e insurgência popular, conhecidas como “operações de guerra irregular”, de acordo com a revista “Piauí”.

O nome “kids preto” se dá pelo fato de os militares usarem gorros pretos durante as operações. Eles têm como lema que “qualquer missão, em qualquer lugar, a qualquer hora e de qualquer maneira”.

Ao menos 26 desses militares integraram o governo de Jair Bolsonaro (PL), entre eles os ex-ministros Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil) e Eduardo Pazuello (Saúde) e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid.

Relembre o caso

O ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército general Estevam Theóphilo teria sinalizado ao ex-presidente Jair Bolsonaro que concordava com a ideia de golpe de Estado, desde que ele assinasse a medida.

Segundo apuração da PF, ele teria usado a alta patente para “influenciar e incitar apoio aos demais núcleos de atuação por meio de endosso de ações e medidas a serem adotadas para consumação do golpe de Estado”.

Investigação

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi um dos alvos alvos da operação deflagrada pela PF. Segundo a determinação do ministro do STF Alexandre de Moraes, Bolsonaro deve entregar o passaporte e não fazer contato com os demais investigados, que são aliados políticos do ex-mandatário.

Por meio das redes sociais, o advogado Fabio Wajngarten informou que o ex-presidente “entregará o passaporte às autoridades competentes”. “[Bolsonaro] já determinou que seu auxiliar direto, que foi alvo da mesma decisão, que se encontrava em Mambucaba, retorne para sua casa em Brasília, atendendo a ordem de não manter contato com os demais investigados”, completou.

Outro advogado de Bolsonaro, Paulo Amador, informou que o passaporte ainda será entregue dentro das 24 horas previstas no mandado. O documento estaria em Brasília, e não em Mambucaba com o ex-presidente.

De acordo a PF, a Operação Tempus Veritatis apura uma organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, para obter vantagem de natureza política com a manutenção de Bolsonaro no poder.

Segundo a corporação, “as apurações apontam que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas eleições presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, de modo a viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital”.

“O primeiro eixo consistiu na construção e propagação da versão de fraude nas Eleições de 2022, por meio da disseminação falaciosa de vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022”, diz a PF em nota.

As investigações da corporação ainda apontam que um segundo eixo de atuação “consistiu na prática de atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível”.

O Exército Brasileiro acompanha o cumprimento de alguns mandados, em apoio à Polícia Federal. “Os fatos investigados configuram, em tese, os crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado”, conclui a nota da PF.