Resgatar um marco histórico do entretenimento carioca ao dar origem a uma das grandes casas de espetáculos do mundo. Assim pode-se traduzir a transformação pela qual passou o antigo cinema Roxy, uma preciosidade da art déco em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro.
Inaugurada em 1938, a sala de projeção viveu uma era de glória no século passado, tornando-se um dos maiores cinemas de rua do Brasil, até sentir os efeitos de uma mudança de comportamento do público, que migrou para grandes centros de compras. Fechou as portas em 2021, impulsionado pela pandemia.
O icônico imóvel, localizado na esquina da Rua Bolívar com a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, passou por um longo processo de reforma e restauração de sua arquitetura original. Reabriu suas portas em outubro de 2024, mas desta vez para oferecer uma experiência rara no Brasil.
O antigo cinema deu lugar ao Roxy Dinner Show, a primeira casa de espetáculos no país idealizada para ser referência de lazer e entretenimento para turistas e brasileiros,. A inspiração vem das mais tradicionais e célebres casas do mundo, como o Extravaganza, em Las Vegas, o Señor Tango, em Buenos Aires, e o Moulin Rouge, o mais famoso cabaré parisiense.
“Eu queria fazer um dinner show, uma casa que tivesse a nossa arte, a nossa cultura, lugar com projeto imersivo, com gastronomia, música e expressões artísticas. Fui passear pelo mundo. Toda grande cidade que se preze tem uma casa representando sua cultura. O Brasil tem uma diversidade artística muito potente, você tem grandes cenários, diversidade de arte, de cultura. Eu quis fazer todas essas experiências nesse lugar”, explica o empresário Alexandre Accioly, idealizador e realizador do projeto, em entrevista para a IstoÉ.
Roxy Dinner Show chega com a proposta de transformar o momento do jantar em experiência sensorial, promovendo um mergulho na cultura do Brasil por meio das apresentações artísticas e da gastronomia. Um projeto audacioso que acaba de render ao espaço uma posição na lista de “melhores lugares do mundo” da revista norte-americana “Time”.
“Os americanos conseguiram, em um único lugar, conhecer a nossa arte, a nossa cultura, passear por todas as manifestações culturais desse país, que é rico, diverso. O Roxy vai possibilitar que o turista, ao chegar aqui, possa conhecer bastante da nossa arte, da nossa música, da nossa cultura sem ter que pegar um avião. Eu acho que foi isso que caiu nas graças deles”, declarou o empresário Alexandre Accioly, idealizador e realizador do projeto.
Durante a entrevista, Accioly falou sobre a história e a importância do Roxy no cenário do entretenimento, o resgate da memória do espaço e a proposta apresentada pela nova casa. Ele conta que a pandemia que levou o cinema a encerrar sua operação foi também o que o motivou a presentear o Rio e o Brasil com uma casa de espetáculo tão grandiosa quanto as internacionalmente famosas.
“As pessoas estavam cansadas de ficar isoladas em casa, ninguém mais se abraçava, havia uma necessidade de lazer e entretenimento. O pós-pandemia ia se tornar muito forte, o turismo e o entretenimento iam voltar com tudo”, relembra o empresário. Ele já tinha na bagagem experiência da Qualistage, uma casa de shows na Barra da Tijuca, área nobre na zona oeste do Rio, comandada por ele e seus sócios.
Com a ideia de criar um novo destino turístico no Rio de Janeiro, não foi difícil visualizar como o novo espaço seria. Se as grandes casas de show do mundo destacam suas culturas locais, no Roxy a cultura brasileira seria a estrela.
“O Roxy faz parte da memória afetiva de quem vive em Copacabana. O cinema viveu sua era de ouro e estava prestes a virar uma loja de departamentos após a pandemia”, relembra ele, orgulhoso do novo empreendimento, que ganhou o destaque na ‘Time’ com apenas quatro meses de funcionamento.
No imóvel, de propriedade do Grupo Severiano Ribeiro, que chegou a remodelar a estrutura para distribuir três salas de cinema Kinoplex, foi alugado por 20 anos por Accioly e seus sócios para a nova casa de espetáculos.
Espetáculos
No dia 21 de março, o Roxy Dinner Show completa 100 apresentações, com a expectativa de que o espetáculo tenha sido visto por aproximadamente 40 mil pessoas. A casa tem 600 lugares, divididos entre mesas para casal, seis e até oito pessoas. “Vi 90 delas. Todas as vezes que eu vou, me apaixono mais pelo projeto”, afirma o empresário.
O show “Aquele Abraço” prestigia as manifestações culturais de cada região do Brasil. Um longa-metragem é projetado em um telão ultra tecnológico, de onde saem os bailarinos em direção ao palco, de forma integrada e interativa. A cada quadro da apresentação, que dura 100 minutos, o turista mergulha na cultura local e passeia pelas diversas manifestações. Em cena, 60 bailarinos percussionistas e nove cantores interagem com as imagens, em um show de sincronicidade entre dança, música e luz.
“O nosso musical não tem dramaturgia, é literalmente cantado, dançado, você participa da história através das imagens, das letras das músicas, dos bailarinos. Na gastronomia você visita regiões do Brasil num prato tipicamente baiano, carioca, de São Paulo. Então, essa é a mágica, esse é o diferencial”, descreve Accioly.
Uma casa desse porte só poderia vir à luz com um investimento astronômico, muito pelo luxo das acomodações, mas principalmente pelo restauro de um prédio de 4 mil metros quadrados, símbolo de uma era. Accioly e os sócios viram o valor estimado inicialmente, entre R$ 35 e R$ 40 milhões, quase dobrar no decorrer das obras.
“O investimento original, que seria aproximadamente de R$ 40 milhões, R$ 30 milhões de obra e R$ 10 milhões de show, virou R$ 65, R$ 67 milhões, aproximadamente. R$ 50 milhões de obras e o restante na produção do espetáculo. Tínhamos duas opções: devolver o imóvel para o locador ou assumir o risco. A nossa guerra agora é ocupar esse espaço. Mas eu não tenho dúvida que com toda a repercussão positiva [lista da “Time”] vai ajudar.”
“O que que o Roxy tem de diferente dos musicais da Broadway, dos musicais de Las Vegas, os argentinos? É que aqui tem alma, tem coração e tem uma diversidade artística e cultural que país nenhum do mundo tem. Nós vamos a Buenos Aires. todas as casas são de tango. Nós vamos para Paris, todas as casas são aquele cabaré francês do início do século. O nosso musical, o Roxy Dinner Show, o ‘Aquele Abraço’, tem Parintins, tem axé, tem música sertaneja, tem frevo, tem o Carnaval, tem a bossa nova. A gente tem uma diversidade cultural absurda. Nós temos aqui uma hora e meia de espetáculo com vários quadros”, orgulha-se o empresário.
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