Após a morte do papa Francisco, a Igreja Católica tem até 20 dias para começar o processo de escolha do sucessor. Cardeais com menos de 80 anos votarão em uma reunião fechada na Capela Sistina.Após a morte do papa Francisco, a Igreja Católica Romana tem entre 15 e 20 dias para começar a escolha do sucessor no processo conhecido como conclave. A palavra vem da junção dos vocábulos em latim “cum” (com) e “clavis” (chave), ou seja, uma sala fechada à chave.
Cardeais do mundo todo se reunirão em uma assembleia secreta na Capela Sistina, no Vaticano, sob regras rígidas que começaram a ser desenvolvidas no século 13.
O seleto grupo de eleitores fará um juramento em que promete manter segredo sobre a votação e ficará proibido de ter contato com o mundo externo.
O caráter reservado da reunião dificulta uma previsão sobre a duração do pleito, mas a escolha de Jorge Bergoglio para o papado, em 2013, aconteceu pouco mais de 24 horas do início dos rituais. No conclave mais longo da história recente, em 1922, a decisão final demorou 5 dias.
Entenda quem são as pessoas que participam da escolha e quais os próximos passos.
Quem são os cardeais?
Os cardeais são homens indicados pelo papa para exercer múltiplas funções na cúpula do poder clerical. Eles tomam posse em cerimônias conhecidas como Consistórios, na qual recebem um anel, uma batina vermelha e juram lealdade ao pontífice.
Para participar do conclave, devem ter menos de 80 anos. Entre os 252 cardeais em atividade, 135 cumprem esse requisito, de acordo com dados do Vaticano. Do núcleo de votantes, 108 foram nomeados pelo papa Francisco, 22 pelo antecessor Bento 16 e cinco por João Paulo 2º.
Quando os cardeais chegam ao Vaticano?
Os cardeais devem chegar ao Vaticano ao longo dos próximos dias e se hospedarão na Casa de Santa Marta. O processo sucessório, no entanto, só começa após o final dos ritos fúnebres de Francisco. No período, a igreja é interinamente administrada pelo camarlengo da Santa Fé, o cardeal americano nascido na Irlanda Kevin Joseph Farrell.
Na manhã do conclave, os eleitores participam de uma missa na Basílica de São Pedro. À tarde, se reúnem na Capela Paulina do Palácio Apostólico para rezar e pedir as bênçãos do Espirito Santo durante a decisão.
Em seguida, o grupo se dirige à Capela Sistina, onde o mestre de cerimônias declara: “Extra Omnes” (Todos Fora). A partir daí, apenas os votantes são autorizados a permanecer no recinto, cujo famoso teto foi ornamentado por Michelangelo.
Como acontece a votação?
Um sorteio define três cardeais para fazer a contagem dos votos (os escrutinadores), três para coletar as cédulas de quem ficar doente (os “infirmarii”) e mais três para fazer a revisão (os revisores).
Em seguida, os eleitores recebem uma cédula retangular com a frase “Eligo in Summun Pontificem” (“Elejo como sumo pontífice”, em tradução livre) com um espaço em branco, onde escrevem o nome do escolhido.
O cardeal, então, dobra o papel. Na sequência, cada um deles vai até o altar, com a cédula em riste, e declara: “Invoco como testemunha Cristo Senhor, que me há de julgar, que o meu voto é dado àquele que, segundo Deus, julgo dever ser eleito”.
O papel dobrado é colocado em um prato, que é usado para despejar o voto em uma urna de prata. Os cardeais se curvam e retornam ao seus assentos.
Depois, os cardeais enfermos entregam aos escrutinadores. Os que tiverem doentes demais para comparecer à capela têm seus votos recolhidos pelos “infirmarii” ao lado de suas camas.
Como acontece a apuração dos votos?
Após a votação, os escrutinadores agitam a urna para misturar os votos, transferem-nos para um segundo recipiente para verificar se há o mesmo número de cédulas e eleitores e, em seguida, iniciam a contagem.
Dois escrutinadores anotam os nomes enquanto um terceiro os lê em voz alta, perfurando as cédulas com uma agulha através da palavra “Eligo” e amarrando-as. Os revisores então verificam novamente se os escrutinadores não cometeram erros.
Se ninguém tiver dois terços dos votos, não há vencedor e os eleitores passam diretamente para um segundo turno. Há dois turnos de duas votações por dia – manhã e tarde – até que um papa seja eleito.
Como o público conhece o resultado?
As cédulas e quaisquer anotações manuscritas feitas pelos cardeais são então destruídas e queimadas em um forno na capela, que emite uma fumaça preta se nenhum papa for eleito e fumaça branca se o mundo católico tiver um novo pontífice. A fumaça se torna preta ou branca pela adição de produtos químicos.
Se a votação continuar por três dias sem um vencedor, há um dia de oração, reflexão e diálogo. Se após mais sete votações não houver vencedor, há outro dia de pausa. Se os cardeais chegarem à quarta pausa sem resultado, eles podem concordar em votar apenas nos dois candidatos mais populares, sendo necessária uma maioria clara para o vencedor.
Quando um cardeal é eleito papa, os mestres de cerimônias e outros não eleitores são trazidos de volta à Capela Sistina, e o cardeal decano pergunta ao vencedor: “Você aceita sua eleição canônica como sumo pontífice?” Assim que dá seu consentimento, ele se torna papa.
am/md (AFP/Reuters)