Por Mirela Luiz

O Brasil já enfrenta, em média, mais de 50 dias por ano de ondas de calor, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Os dados mostram que, década após década, aumentou o total de dias do ano sob efeito desse evento climático. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), até os anos 1990 eram apenas sete dias, em média. Em apenas três meses de 2024, o País já teve três ondas de calor. Além dos impactos no bem-estar, o calor extremo também gera altos custos para a sociedade.

“A inflação geral tem sido pressionada, afetando a economia como um todo. Essa realidade também pode resultar na diminuição da diversidade alimentar, o que tem implicações diretas para a saúde pública”, afirma Hugo Garbe, professor de ciências econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

O aumento dos preços dos alimentos devido às ondas de calor no Brasil tem causado um impacto significativo na economia. Apesar do clima tropical, o que é favorável para a agricultura no geral, a população tem sofrido com aumentos de preços dos alimentos desde o fim do ano passado, principalmente in natura, em decorrência do efeito mais intenso do El Niño.

Essa situação tem levado à redução do poder de compra, especialmente entre os mais vulneráveis, resultando no aumento da insegurança alimentar e nutricional. “A diminuição da oferta devido à perda de culturas, o aumento dos custos de produção relacionados à necessidade de mais irrigação e medidas de controle de temperatura e a interrupção da cadeia de suprimentos causada por condições climáticas extremas são fatores que contribuem para o aumento dos preços dos alimentos”, explica Helmuth Hofstatter, CEO da Logcomex, empresa de análises estratégicas de importação.

Cenoura subiu 9,13% em fevereiro em relação a janeiro 57% em 12 meses (Crédito:Divulgação )

A agricultura tem sofrido com a redução na produção de alimentos e na pecuária. Entre dezembro passado e fevereiro, houve alta dos alimentos, com destaque para hortifrutigranjeiros, culturas em sua maioria de ciclo curto que têm sido impactadas diretamente pela mudança do clima.

“Temos travado uma batalha contra as altas temperaturas que afetaram nossa produção de limões na colheita que está acontecendo entre março e abril. Ainda não temos balanço sobre a quebra de safra deste ano, mas já avaliamos que a produção será menor e vai impactar o preço dos produtos para o consumidor”, conta Júlio Del Grossi, presidente da Katira Frutas.

Cebola subiu 7% no mês 11% em 12 meses (Crédito:Divulgação )

Os preços da cenoura, batata e cebola têm sido tema de debates nas redes sociais. Aumentaram 25% entre janeiro e fevereiro deste ano. A alta dos alimentos, principalmente daqueles essenciais na mesa do brasileiro, como arroz, feijão e batata, altera diretamente o dia a dia da população, especialmente para quem tem menos renda. [

“As possíveis soluções para minimizar os impactos do aumento dos preços dos alimentos causados pelas ondas de calor incluem o investimento em pesquisa para desenvolver culturas mais resistentes, adoção de práticas agrícolas mais sustentáveis, aprimoramento dos sistemas de irrigação, o investimento em tecnologias de armazenamento e conservação de alimentos, além de políticas públicas focadas na segurança alimentar e no apoio aos pequenos produtores”, sugere Garbe.

Manga 17% no mês 60% em 12 meses (Crédito:Divulgação )

Solução

O economista Felippe Serigati, da FGVAgro, explica que apesar dos aumentos recentes e das perdas das safras com a seca no Sudeste e Centro-Oeste e excesso de chuvas no Sul, o Brasil tem uma agricultura avançada e que se desenvolve cada dia mais, principalmente nos desafios climáticos.

“No caso do Brasil, que possui um ambiente tropical, mas produz culturas típicas de climas temperados, como soja, milho, arroz e algodão, a tecnologia desempenhou um papel fundamental na adaptação dessas culturas ao ambiente brasileiro. Por exemplo, o cerrado brasileiro possui plantas que desenvolveram mecanismos de adaptação a temperaturas mais elevadas ao longo dos tempos. Esses mecanismos podem ser incorporados às culturas de alimentos, contribuindo para a produção em áreas afetadas pelas mudanças climáticas.”

Arroz 3,7% no mês 30,7% em 12 meses (Crédito:Divulgação )

Para o economista da FGV, o investimento em tecnologia desempenhará um papel crucial no futuro do setor agropecuário, auxiliando na adaptação às mudanças climáticas e na busca por soluções sustentáveis para a produção de alimentos. “É importante investir em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias que possam melhorar a resiliência do setor frente aos desafios climáticos e garantir a segurança alimentar para a população”, declara.