Com os acontecimentos da última semana, a relação turbulenta entre Israel e Irã ganhou novos capítulos. Na quinta-feira, 12, as Forças de Defesa de Israel promoveram um ataque sem precedentes contra o Irã e estremeceram o oriente com a possibilidade de um conflito generalizado. Em resposta, o país iraniano lançou uma série de mísseis durante a tarde da sexta-feira, 13.
A troca de ameaças entre os dois Estados não é recente e desenha um perfil complexo de investidas militares. Ambos os governos procuram articulação militar e nuclear – o que torna iminente a chegada de novos ataques. Neste texto, a IstoÉ te conta os principais pontos e as perspectivas do conflito.
Cronologia dos ataques
No dia 12 de junho, Israel bombardeou o Irã por volta das 3h30 (horário local, 21h de Brasília). Fortes sons de explosões foram ouvidos na capital e, posteriormente, no restante do país.
Entre os alvos, estavam membros do alto escalão do Estado-Maior e da cúpula de segurança do regime iraniano. Três deles foram mortos no ataque: o general Mohammad Bagheri, comandante do Estado-Maior das Forças Armadas, o general Hossein Salami, comandante-chefe da Guarda Revolucionária e o general Gholam Ali Rashid, chefe da base aérea de Khatam al-Anbiya.
A justificativa dada por Israel é de que as ofensivas servem como uma “ação preventiva” para refrear o avanço nuclear do Irã. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, descreveu o episódio como um último recurso para evitar que o país islâmico detenha mais armas nucleares e afirmou que a operação aérea “continuará por quantos dias forem necessários”, a fim de interromper o programa de enriquecimento de urânio – sistema usado pelo Irã para produzir arsenal nuclear.
No dia seguinte, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, disse em uma declaração que Israel “iniciou uma guerra” e afirmou que não permitiria novos ataques sem consequências.
“O regime sionista não ficará ileso das consequências de seu crime. A nação iraniana deve ter a garantia de que a nossa resposta não será pela metade“, disse Khamenei.
Cumprindo a promessa, ainda na sexta-feira, o Irã lançou centenas de mísseis balísticos em direção a Israel nesta sexta-feira, 13, e diversas explosões foram ouvidas em Tel Aviv. Até o momento, a mídia local afirma que pelo manos 40 pessoas ficaram feridas.
Violação do direito internacional
Em reação ao primeiro ataque de Israel contra o Irã, o Ministério das Relações Exteriores divulgou uma nota em que condenou a atitude. O Itamaraty chega a classificar a ação como uma clara violação à soberania do país e ao direito internacional:
“O governo brasileiro expressa firme condenação e acompanha com forte preocupação a ofensiva aérea israelense lançada na última madrugada contra o Irã, em clara violação à soberania desse país e ao direito internacional.
Os ataques ameaçam mergulhar toda a região em conflito de ampla dimensão, com elevado risco para a paz, a segurança e a economia mundial.
O Brasil insta todas as partes envolvidas ao exercício da máxima contenção e exorta ao fim imediato das hostilidades”, escreveu o ministério.
Segundo Victoriana Gonzaga, advogada especializada em direito internacional e professora da FIA-SP (Fundação Instituto de Administração), a integridade territorial e a garantia de soberania nacional são pilares fundamental do direito internacional. Sendo assim, os membros das Nações Unidas – incluindo Israel – devem respeitar essas respectivas normas e se abster de ameaçar ou usar a força para ferir a integridade territorial de um Estado.
Porém, o Conselho Nacional de Segurança concede autorizações pontuais para que países utilizem da força como forma de atuação internacional, no chamado “direito à guerra”, ou quando há contexto de legítima defesa clara. Nesse sentido, é importante pontuar que uma das linhas argumentativas mais usadas por Israel é de que o Irã atua no financiamento e na logística de grupos armados, o que legitimaria eventuais ofensivas.
A questão muda de cenário quando se fala em um “ataque preventivo”, que é a justificativa dada por Netanyahu para validar os bombardeios da última quinta. De acordo com Victoriana, o direito internacional “não reconhece o uso preventivo da força, nem da legítima defesa preventiva”, o que poderia categorizar as investidas israelenses como uma violação internacional.
Chances de um conflito generalizado
A troca de ofensivas entre os dois países levantou questionamentos sobre a possibilidade de um conflito generalizado na região. Contudo, na visão de alguns especialistas, a relação conturbada entre Israel e Irã já mostrava que ações militares seriam tomadas.
Em entrevista à IstoÉ, Samuel Feldberg, Professor de RI da USP e pesquisador da Universidade de Telaviv, lembrou que os ataques não são novidade. Em 2024, Israel bombardeou a embaixada do Irã na Síria matando três comandantes da Guarda Revolucionária. A reposta iraniana se deu poucos meses depois, após a morte de líderes dos grupos extremistas Hamas e Hezbollah, com um ataque de cerca de 200 mísseis em direção ao território israelense. Nesse tempo, a troca de ameaças nunca cessaram.
Porém, o professor acredita que a guerra só cresceria se as forças iranianas incomodassem planos estadunidenses, ou então atuasse diretamente contra outros lugares do globo. Caso o duelo resultasse em consequências para além das fronteiras dos dois países, poderia haver chance de reações generalizadas.
“O conflito poderia escalar se o Irã atingisse bases ou interesses norteamericanos na região ou promovesse ataques terroristas ao redor do mundo. Também se houver alguma ação ou ameaça ao fluxo de petróleo no estreito de Hormuz”.
Apesar das especulações, Feldberg ressalta que o Irã está enfraquecido após o ataque, já que Israel eliminou “não só importantes comandantes da Guarda Revolucionária como também cientistas responsáveis pelo programa nuclear”. A combinação dos eventos, aliados ainda às diversas sanções impostas contra o país, afeta profundamente a capacidade militar iraniana.
“Com as sanções, o Irã tem que desviar recursos destinados à população civil para seus programas militares, só consegue vender petróleo para a China e outros poucos países, além de não receber investimentos”, pontua o professor.
*Estagiária sob supervisão