A disputa de bronze do judoca Rafael Macedo, da categoria até 90kg dos Jogos Olímpicos de Paris, poderia ter terminado em medalha, mas acabou em polêmica. Em uma decisão não explicada pelo árbitro, o atleta brasileiro recebeu um shido – isto é, uma punição – enquanto lutava no solo. Rafael, porém, já tinha duas punições e não poderia receber outra (na modalidade, três advertências levam a uma desclassificação).

Nem mesmo o site oficial do Comitê Olímpico Internacional (COI) determina a punição. A decisão foi classificada como “shido indeterminado”. No momento, explicou-se que o shido teria supostamente sido dado por conta de um tipo de pegada que é proibida no judô: quando um atleta coloca os dedos por dentro da manga do uniforme do adversário. Mas isso não foi indicado pelo árbitro, que deve sinalizar com as mãos o motivo de cada advertência.

Outro sinal que indica que não seria esse o motivo da punição é a atitude do próprio francês durante a luta. Quando ambos os judocas estão no chão, Rafael passa seu joelho por cima do pescoço do adversário, que aponta em direção à própria cabeça. O árbitro interrompe o combate logo em seguida.

Luiza Marcon, árbitra nacional de judô, explica o que pode ter acontecido. “A regra diz que as técnicas em que você faz como se fosse uma tesoura com as pernas no tronco ou na cabeça do adversário, estica as pernas e acaba apertando ou o tronco ou a cabeça, entre os joelhos, isso é hansoku-make, uma punição que causa desclassificação imediata”, conta.

Sendo assim, ainda que tivesse realizado o mesmo movimento com as pernas no momento em que não tinha outras punições, Rafael teria sido desclassificado. “Quando ele cruzou as pernas na cabeça do francês, a arbitragem parou e entendeu que ele fez essa chave proibida, que ele apertou a cabeça do francês esticando as pernas que estavam cruzadas. Por isso, foi dado hansoku-make. Foi esse símbolo que o árbitro fez: ele mostrou a cruzada com as mãos e deu hansoku-make”, explica.

Marcelo Theotonio, chefe de equipe da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), comentou a situação: “Realmente ficou confuso, não entendemos a punição. Inicialmente entendemos que ele tinha dado punição por pegar dentro do quimono. Não foi isso, não ficou claro. Quando fomos até a mesa, conversar com os responsáveis pela arbitragem, essa posição, quando você pressiona só a cabeça, é realmente considerado mate e shido. Seria esse último ponto que o Rafael sofreu”.

No judô, não há possibilidade de pedido de recurso para revisão de resultados. Existe apenas um protocolo de esclarecimento, em que os árbitros explicam suas decisões. “O duro é que tem um guia que mostra uma situação um pouco diferente. Mas ali eles abriram um outro guia, com uma regra mais atualizada, e mostra que é shido. É uma pena, lamentável. Era evidente que o Rafael estava superior na luta. É bastante discutível, mas ele vai manter o foco na disputa por equipes”, lamenta Theotonio.

As disputas do judô continuam. Nesta quinta-feira, Mayra Aguiar e Leonardo Gonçalves entram no tatame para mais um dia de combates. As lutas preliminares começam às 5h (horário de Brasília). A disputa por equipes acontece no próximo sábado, no mesmo horário.