Héctor Zamora Dinâmica Não Linear/Centro Cultural Banco do Brasil, SP/ até 2/1/2017

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Seria prematuro chamar de retrospectiva a exposição de um artista de 42 anos, no auge de sua carreira. Mas o intuito do curador Jacopo Criveli foi, efetivamente, escolher um grupo amplo de obras que abarcam a complexidade da obra do mexicano Héctor Zamora. “Dinâmica Não Linear” oferece, afinal, um recuo para a observação panorâmica de suas principais linhas de pesquisa. Um claro viés narrativo da curadoria é mostrar como uma obra de natureza geométrica, escultural e arquitetônica surgida no ano 2000 foi ganhando, com o passar dos anos, a vocação para a interação social.

Com trabalhos realizados entre 2000 e 2016, a exposição ocupa quatro andares do Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo. Decola com “Epífita” (2000/2016), escultura com ripas de madeira e deságua em “Ruptura”(2016), performance realizada na abertura, na quarta-feira 2. “Epífita” pode ser encarada como uma base estrutural sobre a qual erguem-se 15 anos de trabalho. O termo descreve as plantas tropicais que vivem apoiadas sobre outras, sem sugar seus nutrientes, como fazem as parasitas. O princípio da epífita orienta, por exemplo, a construção de “Paracadista” (2004), um “puxadinho” de madeira e aço, acoplado sobre um museu na Cidade do México.

“Praia Recanto das Crianças” (2006) inaugura uma fase em que o foco do interesse se desloca da forma em si para a maneira como essa forma é utilizada coletivamente. Nesta intervenção pública realizada na praia Recanto das Crianças, em São Vicente (SP), a obra se faz a partir da proposição de um jogo com boias flutuando sobre a água do mar. Como afirma o curador Crivelli, “a matriz geométrica e modular, que constitui o ponto de partida de outras obras realizadas nos mesmos anos, é colocada aqui totalmente a serviço da interação com os usuários do objeto/obra”.

A partir do trabalho na praia, a atuação de Zamora passa a se formar com a orquestração de corpos e elementos vivos e instáveis. O ápice dessa linha de pesquisa talvez seja “Inconstância Material”, realizado na Galeria Luciana Brito (SP), em 2012. Neste que se afirma como um dos trabalhos mais instigantes de sua geração, Zamora orquestra uma performance coletiva entre trabalhadores da construção civil, engajados em deslocar pilhas de tijolos ao longo dos dois andares da galeria. Aqui, o artista evoca a tradição construtiva da arte brasileira com um jogo de equilíbrio entre a escultura e a performance. O resultado é uma coreografia bem-humorada, perigosa e esteticamente impecável. “Ruptura” (2016) de certa forma evoca a inconstância material de anos atrás. Aqui, o peso do tijolo é substituído pela leveza das folhas de papeis rasgadas de livros e atiradas sobre o público, desde os quatro andares do vão central do edifício.

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