O futebol voltou aos gramados da Alemanha neste sábado (16), e as praias de França e Grécia recebiam seus primeiros visitantes, ansiosos para esquecer, por alguns momentos, um mundo paralisado por uma pandemia que já deixou quase 310.000 mortos no mundo.

Enquanto isso, o novo coronavírus avançava na América Latina e o Brasil passou das 15.000 mortes e dos 230.000 contágios registrados oficialmente, tornando-se o quarto país com o maior número de casos de COVID-19.

No velho continente, a liga alemã foi o primeiro campeonato importante a ser retomado após semanas de confinamento e acontece sem público.

O apito do início do jogo soou no horário previsto, às 10h30 (em Brasília), nos estádios vazios de cinco cidades.

“O mundo inteiro está nos observando”, disse o técnico do Bayern de Munique, Hansi Flick, consciente de que “pode ser um sinal para todas as outras ligas”.

Não houve apertos de mãos entre as equipes, nem cerimônia, nem música. E, alguns jogadores, como os do Leizpig, ficaram de máscara durante o aquecimento.

“Mais valem partidas a portas fechadas para conter o avanço da epidemia do que uma catástrofe sanitária”, disse Nicole Bartelt, de 44 anos, torcedora do Dortmund.

“Sentimos muita falta do nosso público”, admitiu o técnico do Dortmund, Lucien Favre.

– ‘Respeitem as distâncias’ –

Na Grécia, os moradores de Atenas voltaram às praias em um dia quente. O governo decidiu abri-las como parte do processo de suspensão paulatina do confinamento, ainda que com restrições.

A distância de quatro metros entre guarda-sóis parecia pouco respeitada no meio do dia na praia de Kavuri.

“Respeitem as distâncias de segurança”, repetia um alto-falante.

“Está cheio de gente, mas estamos conscientes da situação e temos cuidado”, assegurou o salva-vidas de plantão Vassilis Demetis, de 36 anos.

Na França, as regras eram ainda mais estritas: as pessoas podiam tomar banho e nadar, mas não tomar sol na areia, nem deitadas, nem de pé.

François e Géraldine – ele, aposentado, e ela, consultora – deram suas primeiras braçadas na água, em Saint-Malo (noroeste).

“É como um sentimento de liberdade. Você vê as pessoas felizes”, comentou François.

Os franceses têm permissão para se deslocar no máximo até 100 quilômetros, respeitando os regulamentos de distância e de higiene.

Na Itália, o terceiro país do mundo mais afetado pela pandemia, com 31.600 mortes e onde o turismo é uma renda essencial, a costa também se prepara para receber visitantes com todas as medidas de precaução possíveis – distância, desinfecção de áreas comuns, ou distribuidores de álcool em gel.

Roma anunciou neste sábado que vai abrir as fronteiras para os vizinhos europeus a partir de junho.

O confinamento, um experimento sem parâmetros na História, virou uma verdadeira catástrofe para o turismo, às vésperas do verão no hemisfério norte.

Para visitar a Catedral de Florença, os responsáveis pelo monumento criaram um colar que emite um sinal acústico, se o visitante se aproximar de outra pessoa a menos de dois metros.

A Basílica de São Pedro, no Vaticano, será aberta na segunda-feira.

A Espanha, que já iniciou seu desconfinamento, mantém a cautela. O presidente do governo, Pedro Sánchez, anunciou que pedirá uma extensão por mais um mês ao estado de alarme ao Parlamento.

Apesar da queda lenta, mas ininterrupta, dos contágios e mortes na Europa, alguns reagem com irritação. Alemanha e Suíça tiveram novamente um sábado de protestos contra as medidas restritivas, que levaram milhares de pessoas às ruas, e tiveram alguns incidentes em Berlim e Hamburgo.

– Chile em quarentena –

Fora da Europa e de seus primeiros passos no desconfinamento, a situação permanece preocupante em várias partes do planeta.

Na América Latina, a pandemia avança e já deixou mais de 27.000 mortos e 482.000 contagiados.

Santiago do Chile iniciou neste sábado uma “megaquarentena”, imposta após um aumento abrupto dos casos e mortes pelo novo coronavírus na última semana.

“Temos quarteirões e quarteirões completamente vazios e a gente entende que é um bom começo”, disse à imprensa o ministro da Saúde, Jaime Mañalich.

No Brasil, o país latino-americano mais castigado pela pandemia, passou das 15.000 mortes e dos 230.000 casos oficialmente registrados na noite deste sábado, um dia depois de o ministro da Saúde, Nelson Teich, renunciar ao cargo por “incompatibilidades” com o presidente Jair Bolsonaro no combate à doença.

Com 816 novos óbitos e 14.919 novos casos reportados nas últimas 24 horas, o país totaliza 15.633 óbitos e 233.142 contágios.

Bolsonaro se mantém firme em sua política: “O desemprego, a fome e a miséria será (sic) o futuro daqueles que apoiam a tirania do isolamento total”, tuitou o presidente mais cedo neste sábado.

– Necrotérios em colapso –

Todos os dias, surgem imagens dramáticas da pandemia no mundo inteiro. Em Mumbai, na Índia, os necrotérios estão cheios, há corpos nas enfermarias dos hospitais, alguns pacientes precisam dividir o leito, e os profissionais de saúde estão exaustos.

Com cerca de 18 milhões de habitantes, Mumbai tem quase 17.000 casos confirmados de COVID-19, mais do que o dobro da capital, Nova Délhi.

“O sistema está sob enorme pressão, explode”, relata o médico intensivista Deepak Baid.

O impacto econômico da pandemia é inimaginável por enquanto. Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), as transações internacionais registrarão “perdas de dois dígitos” em quase todas as regiões do mundo.

O efeito é especialmente terrível no setor aéreo e as companhias aéreas negociam com os governos a retomada dos voos em junho, segundo o diretor-geral da Associação Internacional do Transporte Aéreo, Alexandre de Juniac.

O Quênia anunciou que fechará suas fronteiras com Tanzânia e Somália por causa da pandemia.

E, nas últimas 24 horas, o Irã anunciou 35 mortos, seu melhor balanço desde o início da crise de saúde.

Na Índia, o anseio de milhões de trabalhadores para voltar para casa, após sete semanas sem salário, provocou vários acidentes de trânsito neste sábado. No trajeto de volta aos seus estados de origem, pelo menos trinta pessoas morreram, segundo dados oficiais.

– A esperança de uma vacina –

Nos Estados Unidos, o país mais afetado do mundo pela pandemia, com quase 89.000 mortes, o desemprego já atinge 15% da população, um número recorde.

O presidente americano, Donald Trump, voltou a prever que uma vacina estará disponível no fim do ano, “talvez antes”.

Neste sábado, a ministra francesa das Pesquisas, Frédérique Vidal, mais prudente, estimou que a primeira vacina contra o Sars-Covd-2, causador da COVID-19, não estará disponível antes de 18 meses.

A Agência Europeia do Medicamento (EMA) considera o prazo de um ano, sendo “otimistas”.

Enquanto esta vacina não chega, os Estados Unidos aceleram a detecção a domicílio.

A OMS, que celebra a partir de segunda-feira uma decisiva assembleia-geral por teleconferência, continua dando conselhos, apesar da polêmica que ronda a sua gestão, criticada duramente por Washington.

Borrifar as ruas com desinfetante, como se faz em alguns países, não serve para eliminar o novo coronavírus e representa um risco sanitário, alertou a agência sanitária da ONU neste sábado.

burs-bl/es/tt/mvv